Sentado no assento do piloto de seu jatinho privado, o CEO da Scotts Miracle-Gro, Jim Hagedorn, faz a aeronave arrancar e correr pela pista de decolagem, o começo típico do dia de um ex-piloto de jatos F-16, que viaja 800 quilômetros de sua casa em Long Island, Nova York, para seu escritório em Columbus, Ohio.
Sua última ideia: “Investir, tipo, meio bilhão no mercado da maconha” ele grita para ser ouvido sobre o som dos motores do avião. “é o maior mercado que eu já vi”
Ninguém tem uma perspectiva maior no mercado de jardinagem que Hagedorn, que, depois de ver seu pai transformar a Miracle-Gro em uma marca nacional, orquestrou sua fusão com a Scotts em 1995 e se tornou o CEO da companhia em 2001. A Scotts Miracle-Gro, que ganha a maioria do seu dinheiro com a venda de sementes de grama, fertilizantes, pesticidas e terra, teve um boom de 80% de 2001 a 2009. Mas a grande crise atingiu a empresa e a rápida expansão parou e as vendas da Scotts Miracle-Gro estão estagnadas desde então. Isso afetou Hagedorn e sua família, que juntos são donos de 27% da empresa, o que equivale a US$ 1,1 bilhão de sua fortuna de quase US$ 1,5 bilhão. Frustrado com os negócios parados, Hagedorn demitiu mais da metade do seu departamento e investiu muito dinheiro em plantações de maconha.
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A decisão controversa foi feita em 2013 em Yakima, Washington, quando Hagedorn entrou em uma loja de jardinagem. O estabelecimento quase não tinha mercadorias da Scotts Miracle-Gro, mas tinha várias ferramentas que permitiam o plantio hidropônico de sementes, muito usado para cultivar pés de maconha (ou de qualquer outra planta) em ambientes fechados, usando luzes direcionadas e soluções líquidas cheias de nutrientes.
O empresário pediu para falar com o dono da loja, que o atendeu de prontidão. Ele disse que todos o chamaram de idiota quando começou a vender equipamentos hidropônicos, mas pouco tempo depois as soluções e ferramentas começaram a vender muito, em média US$ 400 por venda. “Eu voltei para o escritório e disse a todos: ‘Vamos fazer isso’”, afirmou Hagedorn. “Se você não gostar da ideia, pode nos deixar. Estamos fazendo isso e você não pode nos parar. Vamos cair de cabeça no mercado de cultivo de maconha. Vamos desenvolver terra, fertilizantes, pesticidas, sistema de cultivo… Será um negócio multimilionário”.
Hagedorn investiu, no total, US$ 405 milhões em solo, acessórios, iluminação e equipamentos em Amsterdã. O empresário promete investir mais US$ 150 milhões até o final de 2016. No total, os investimentos somam mais que o custo total de compra da Scotts Miracle-Gro, que tem US$ 160 milhões de lucro de US$ 3 bilhões em vendas anuais.
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“Eu acho que várias empresas convencionais não estariam dispostas a correr o risco”, disse Hagedorn, de 60 anos. “Eu falei com outros amigos e CEOs que apenas balançam a cabeça.”
Entre os dissidentes está Carl Kohrt, um dos seis membros do conselho da Miracle-Gro a pedir demissão nos últimos três anos. “Eu, pessoalmente, não apoio o negócio da maconha,” disse Kohrt. “As leis mudam. Os interesses mudam. Alguns valores pessoais mudam, não incluindo os meus,”, acrescentou.
Valores à parte, a indústria da droga é um campo minado dentro da lei. De acordo com a Lei das Substâncias Controladas, o governo federal norte-americano ainda classifica a maconha como uma droga nível 1, a mesma classe da heroína e do LSD. Porém, atualmente, 25 estados permitem o uso da droga para fins medicinais e quatro (incluindo o Distrito de Columbia) aprovaram leis permitindo o uso recreativo.
História familiar
Jim achava os negócios chatos. Ele via seu pai, Horace Hagedorn, que cofundou a Miracle-Gro em 1951, falando no telefone sobre números e marketing.
Depois de Susan, irmã de Jim, se juntar ao movimento Weathermen, uma organização de esquerda, e ser presa sob a acusação de conspirar contra o governo durante um protesto em Massachusetts, Horace viajou para o norte dos Estados Unidos para tentar livrar sua filha da prisão. Enquanto Horace estava fora, Jim e seus amigos deram uma “festa da maconha”, como gosta de chamar hoje em dia, e convidou vários adolescentes para se drogar. Ao ser descoberto pelo seu pai, Jim fugiu de casa e só retornou dois anos depois.
Durante esse período fora de casa, Hagedorn viveu em comunidades, cercado de drogas e armas. Ele e seu grupo de amigos roubavam o que lhes convinha, enquanto suas vidas fugiam do controle. “Se eu já usei drogas?”, Hagedorn pergunta retoricamente. “Eu nunca usei heroína, a via como entorpecente de gente pobre, mas quando se trata de alucinógenos, anfetamina, maconha, cocaína… Sim, já usei.”
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Depois de ter seu coração partido por uma menina, Jim retornou para casa. Decidiu que queria ser um piloto profissional e se matriculou na Universidade de Aeronáutica Embry-Riddle, em Daytona Beach.
Ele voou em combates por sete anos durante a Guerra Fria. Em 1987, Hagedorn deixou a Força Aérea como capitão e, entrevistado no negócio de sua família, onde seu pai lhe perguntou qual o papel em que ele se via na empresa. Jim respondeu dizendo que havia apenas um trabalho que ele queria, que era o de seu pai. Hagedorn estava disposto a aprender durante alguns anos, desde que ele não precisasse trabalhar em vendas. Seu pai o contratou e imediatamente colocou-o no departamento de vendas.
Vida executiva
Em 1994, a fabricante de produtos de higiene e limpeza SC Johnson ofereceu US$ 400 milhões para comprar a Miracle-Gro, e Jim, um executivo naquela época, teve a ideia de uma contrapartida. Ele propôs que, ao invés de vender para a gigante de produtos de consumo, a sua empresa se fundisse com a Scotts, um negócio de Ohio que tinha seis vezes o tamanho da Miracle-Gro, mas tinha pouco lucro e uma capitalização de apenas US$ 300 milhões. Em janeiro de 1995, a Scotts, liderada por uma administração profissional e propriedade, e a pequenina Miracle-Gro se fundiram em um acordo que fez com que a empresa de Hagedorn valesse US$ 195 milhões.
Nesse acordo, Jim e sua família escolheram receber todos seus pagamentos em ações e garantias, o que lhes rendeu 41% da empresa recém-fundada. Logo após o acordo ser fechado, foi descoberto que o time de administradores da Scotts estava envolvido em um esquema de superfaturamento. A empresa teve que refazer e reapresentar seus lucros e, em 1996, os Hagedorns se mobilizaram para destituir a velha administração, substituindo-a por pessoas da própria Miracle-Gro, incluindo Jim. Cinco anos depois, ele pegou para si o cargo principal.
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De volta a Long Island, a apenas minutos do terreno da família de Jim, encontra-se o centro de comando da missão da maconha de Scotts, dentro de uma construção de tijolos brancos. O único sinal de que há alguém lá dentro é o Alfa-Romeo 1967 conversível amarelo pastel estacionado do lado de fora do prédio. O carro pertence ao filho de Jim, Chris, de 31 anos, que tem como meta tornar a ideia de seu pai em realidade.
Este ano a Miracle-Gro tirou seus planos do papel, começou a vender uma nova linha de equipamentos para hidroponia e uma terra chamada Magia Negra (criada por um cientista da General Hydroponics) nas 141 lojas Home Depots, no Colorado e em Washington (onde o uso recreativo de maconha é legalizado) e Michigan (onde o uso medicinal da maconha é legalizado). Um saco de Magia Negra custa US$ 16, mais que o dobro do que a terra para plantio normal. A maioria dos agricultores pode não notar a diferença, mas a maioria não se importaria em pagaria o preço maior. Mas 400 gramas de maconha custam mais de US$ 2.000, o que significa que o cálculo do lucro para quem planta maconha é muito diferente do que para quem planta tomates. Com esse tipo de lucro, Chris espera que um dia seu negócio se torne bilionário.
Hagedorn não desistiu de crescer a sua própria maconha. Ele já está olhando para os mercados estrangeiros, como Israel, Canadá e Jamaica, onde Scotts pode ser capaz de instalar laboratórios legalmente para testar seus produtos e realizar pesquisas sobre a cannabis. A ideia é um dia expandir a empresa de investigação em genética em cannabis para criar a maconha modificada geneticamente. Porém, ele diz que não está pronto para levar essa ideia para os diretores da empresa.
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Apesar disso, ele ainda mantém o pé firme no acelerador. “Eu domino aqui”, disse. “Eu entendo, não sou o tipo de pessoa que os outros gostam de repente, é preciso me conhecer a fundo. Há pessoas que dizem que não gostariam de me ver saindo com suas filhas. Não gosto do jeito que ele leva a vida”, mas nada disso o detém.