Alcir Abuchaim trabalhava no mercado musical quando o meio digital começou a dominar a indústria. Os direitos autorais na reprodução e no compartilhamento de músicas, antes tão bem controlados, ficaram cada vez mais difíceis de se garantir. “A internet virou terra de ninguém”, relembra o empreendedor sul-mato-grossense. Sob esta premissa, em 2009, ele começou a pensar em uma plataforma que ajudasse a proteger a propriedade intelectual dos artistas nacionais.
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A ideia é simples: um dispositivo, em forma de pendrive, serve como uma chave de acesso ao conteúdo desejado – naquele caso, músicas – e uma certificação digital com o nome de quem recebeu. “É como uma impressão digital, cada um tem seu número registrado. Dessa forma, se alguém repassa o conteúdo, é possível saber quem foi”, explica Abuchaim. Assim surgiu a startup Neo, em 2012.
Além de segurança da certificação para evitar pirataria, a plataforma oferece uma forma de rastreamento de aceitação do conteúdo. “Como usamos um recurso digital e conectado, os artistas conseguem saber quem ouviu [as músicas], quantas vezes ouviu…”, conta o brasileiro. “O Cristiano Araújo, por exemplo, lançou sua carreira no Neo.”
Quatro anos depois, a startup brasileira, que já recebeu cerca de R$ 15 milhões em investimentos, expande seus rumos para muito além da música. Com bases em São Paulo, Miami e Paris, o novo grande investimento do Neo está na área de educação médica.
“Queremos ajudar a modernizar e democratizar o ensino de medicina”, afirma Abuchaim. Assim como no meio musical, o dispositivo funciona como uma chave para que haja compartilhamento de conteúdo entre professores e palestrantes de diferentes locais do país e até do mundo sem que haja medo de vazamento de informações. “Agora, não é preciso que um estudante em Pernambuco se locomova para o Rio de Janeiro para ver uma aula de qualidade na área de cirurgia. O Neo garante a segurança e autenticidade do conteúdo, algo tão difícil de se ter certeza na internet.”
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Com as informações armazenadas em nuvem, os alunos interessados em acessarem vídeos e leituras só precisam plugar o dispositivo no computador. “O Neo tem o registro invisível de cada um. Dessa forma, caso alguém compartilhe um conteúdo indevidamente, como um vídeo, por exemplo, é possível saber quem foi.”
O serviço custa em média US$ 100 por ano e é adquirido por meio de pacotes. De acordo com o fundador, entre 1,5 milhão e 2 milhões de dispositivos Neo já foram distribuídos.
Com a iniciativa na área de medicina lançada neste ano, a startup já fechou contrato com a Academia Nacional de Medicina, a Fundação Carlos Chagas e a universidade UNIRIO e a Faculdade Severino Sombra, ambas no Rio de Janeiro, onde participa de seis cursos de pós-graduação. Além disso, também tem parceira com um laboratório de ponta, especializado em anatomia, em Miami. “Não temos nada parecido no Brasil”, afirma Abuchaim. “O médico pode ter acesso a um conteúdo diferenciado sem ter de ir para lá ou pagar uma fortuna por isso.”