Aos 19 anos, Marcelo Checon via-se constantemente entre escolhas tentadoras para um jovem: assistir a aulas de administração ou ajudar a montar o show dos Rolling Stones no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Não é tão difícil imaginar qual foi o caminho escolhido pelo paulistano, que trabalhava como assistente de produção em uma empresa de cenografia. Depois de dois anos de curso, Checon largou a faculdade e, 20 anos depois, tem uma das maiores empresas do ramo no país, com faturamento anual superior a R$ 100 milhões.
Durante oito anos, Marcelo trabalhou em produtoras e empresas do ramo de diferentes portes. “Naquela época, era uma coisa única: você trabalhava com a mão de obra e com os clientes. Então, os clientes me ligavam e perguntavam não pela companhia, mas onde eu estava trabalhando”, conta. “Eu estava em uma empresa pequena, com um pensamento mais cartesiano, e queria fazer coisas mais mirabolantes.” O caminho mais óbvio, claro, era o do empreendedorismo. Em 2004, Marcelo vendeu uma moto e conseguiu juntar R$ 20 mil. Assim nasceu a M|Checon.
O dinheiro inicial, no entanto, serviu para alugar um galpão de 2 mil metros quadrados em Osasco e contratar seis funcionários. “Só o aluguel era de R$ 12 mil. Os outros R$ 8 mil eram pra pagar salário, luz, água… Ou seja, eu só tinha dinheiro para o primeiro mês”, lembra o empresário.
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Com a ideia posta em prática, era hora de acionar os contatos. Não demorou muito: na segunda semana de empresa, ele conseguiu fechar dois grandes contratos, com a Camargo Corrêa e a Lukscolor, no valor total de R$ 400 mil. Aí eu tinha dinheiro para o ano inteiro”, brinca. “Eu tive sorte porque eles acreditaram num moleque de 27 anos. Eu não tinha nota fiscal, não tinha nem conta em banco. Era o meu talão de cheque que pagava as pessoas, era o Marcelo pessoa física”, conta o empreendedor. “Eles pediam nota e eu falava: ‘Tá, vou falar com o meu financeiro’. Eu era o financeiro!”
O primeiro ano foi dominado por estandes de empresas em eventos, até hoje o xodó de Checon. “Eu tenho paixão de fazer estande porque eu volto a virar produtor. Eu me lembro de ir ao Salão do Automóvel e pensar ‘Ainda vou fazer esse e aquele’. A Mercedes é minha cliente há seis anos.”
Os grandes eventos, que reforçariam ainda mais o portfólio da produtora, só chegaram no ano seguinte, em 2006. Primeiro veio o Nokia Trends, festival de música eletrônica que reuniu 12 mil pessoas em 12 horas de festa no Anhembi, em São Paulo. “Foi uma loucura. Eu tinha 20 funcionários, só era eu na área comercial [hoje são 16]. Era muito o Checon, eu fazia tudo: até dirigir caminhão”, conta. “Tudo isso é legal e serviu de aprendizado, para enxergar toda a empresa, a espinha dorsal e saber quais são os pontos realmente importantes. É como se eu saísse da cozinha e fosse abrir um restaurante.”
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A partir daí, a companhia começou a se especializar em grandes eventos. No mesmo ano, fez a Copa Philips, uma ação que fechou o Jockey Club, em São Paulo, durante a Copa do Mundo na Alemanha. Um ano depois, ganhou a conta do recém-chegado Festival Planeta Terra, na capital paulista, que a M|Checon fez por quatro edições.
O portfólio da M|Checon tem dois lados: de um, NET, Fiat, Boticário e Disney; do outro, Rock in Rio, Lollapalooza, Carnaval e Festival de Verão de SalvadorHoje, os dois setores, de estande e cenário, têm o mesmo peso, cada um com 40% do investimento anual da empresa. Apesar de seu xodó pelos eventos corporativos, Marcelo não consegue eleger um segmento preferido. Não é de admirar: de um lado, tem em seu portfólio NET, Ipiranga, Fiat, Boticário e Disney; do outro, Rock in Rio, Lollapalooza, Skol Summer e Carnaval e Festival de Verão de Salvador. A empresa se envolve nos mais diferentes tipos de produção, só não se mete em eventos públicos ou políticos. “Nunca fui do meio, é um outro idioma”, explica.
O turbulento ano de 2016 foi particularmente bom para a M|Checon. Grandes eventos, como Olimpíada do Rio e Salão do Automóvel de São Paulo, permitiram que a empresa jogue sua estimativa de crescimento para 27%.
Hoje, a média é de 20 eventos por mês, de quiosques a grandes palcos. Um número menor se comparado ao recorde de 310 ações em 2013, mas o bastante para aumentar o faturamento para R$ 120 milhões no ano.
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“Os anos em que todos os empresários tiveram altos índices de investimento passaram. Acho que, agora, estamos vendo algo muito mais perto da realidade, com corte de gastos”, afirma Checon. “A gente faz essa busca incansável: precisa ter duas secretárias? Não dá para calcular melhor? Acho que todo mundo deveria fazer isso. Quem não fez se deu mal, pois custo fixo só cresce.” Em agosto, por exemplo, a empresa aumentou o contingente da M|Checon Rio de 30 para 250 pessoas, que trabalharam em 18 eventos diferentes. Marcelo passou o mês na cidade.
É nesse tipo de evento que a eficiência da produtora é testada. Ter uma empresa de cenografia é, também, saber administrar as dores de cabeça dos outros, que com certeza aparecerão. Marcelo exemplifica: “Na semana passada, fizemos um evento de 15 mil metros quadrados no Rio. No meio, o cliente chegou precisando de quatro cafeteiras. Eu não faço cafeteiras, mas mandei comprar e depois a gente resolve a parte de custos. É ao vivo, né? Isso serve para tudo.”
Lidar com essa urgência fez com que a M|Checon vislumbrasse um outro gap no mercado: o de resgate a empresas deixadas na mão. “Chamo de operação Samu”, brinca. Se uma empresa precisa que ele crie um evento ou monte um estande em dois dias, ele aceita e garante excelência. Tudo mediante uma pequena “taxa de urgência”, claro. “Cada vez mais, as pessoas querem contratar empresas confiáveis. O problema do cliente tem que ser o meu problema.”
A desorganização é, inclusive, um dos principais problemas que Checon vê no seu setor. “O mercado não está mais suportando informalidade. Tem companhia que paga em 120 dias. Se você não tiver uma estrutura, não segura. Por isso que um monte de pequenos quebram”, avalia o empreendedor. “As companhias têm de atuar numa mesma esfera, como é o mercado de publicidade.”
Para 2017, as projeções são um pouco menos animadoras. Embora Checon estabeleça como meta 10% de crescimento, ele acha que vai ser um ano duro. “Pelo calendário, que é ano ímpar, com menos eventos grandes, e pelo cenário atual.” O que a empresa conta como salvação é o Rock in Rio. Será a quarta parceria entre o megafestival de Roberto Medina e a M|Checon. A empresa tornou-se titular da conta em 2011, na “volta à casa”. “Fomos até Portugal, em 2010, para entender como funciona a estrutura.”
O acordo, repetido em 2013 e 2015, tem ajudado a movimentar o caixa e a estrutura da produtora. “Acontece em outubro, mas já começamos a construir em junho ou julho.” De acordo com ele, o número de funcionários chega a 500. “Eu sei exatamente porque pago o almoço de cada um. Chega a nota, eu levo até um susto”, conta, rindo.
No meio de tanta correria, um dos caminhos possíveis para Checon, quem sabe, é arrumar um sócio que ajude a tocar o negócio, como faz na M|Checon Rio. “Hoje, o problema é que as pessoas querem consumir o Marcelo – e o Marcelo quer tirar férias, um dia de folga, e não pode.” Não há arrependimento, no entanto. “Depois de 12 anos, até que deu tudo certo, né?”