A Kraft Heinz, empresa formada pela fusão da Kraft Foods e da Heinz, desistiu de fazer uma oferta hostil pelo grupo anglo-holandês de bens de consumo Unilever, dias depois de ser forçada a tornar sua abordagem pública. A decisão foi tomada principalmente com base na grande rejeição demonstrada pela empresa alvo da compra e de preocupações com a reação do público e dos governos.
Unilever não deveria baixar a guarda, mas encontrar maneiras de melhorar seus lucros no curto e longo prazosMas enquanto a oferta de US$ 143 bilhões, uma das maiores da história no mundo corporativo, foi o primeiro tiro de uma batalha, a retirada tática da Kraft não significa que a guerra tenha sido finalizada e que a Unilever esteja a salvo.
Independentemente das vantagens que tenham sido levadas em consideração ao tentar combinar as duas empresas na segunda maior companhia de alimentos e bens de consumo do mundo, atrás apenas da Nestlé, é preciso ter em mente que as culturas corporativas das duas são muito diferentes.
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A Unilever é adepta da filosofia “Pessoas, Planeta e Lucro” para criar valor no longo prazo, enquanto na Kraft Heinz impera uma política de maximização do lucro no curto prazo, com poucos escrúpulos em temas como empregos ou ecologia.
A 3G Capital, de Jorge Paulo Lemann, atualmente o número 1 no ranking de bilionários brasileiros e o 19o no mundial, e a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, a 3a maior fortuna do planeta, têm um histórico de iniciativas para criar valor para seus acionistas, reduzindo custos e oferecendo incentivos à alta administração, mas suas filosofias quanto aos investimentos socialmente responsáveis são muito diferentes das de investidores institucionais europeus, como fundos de pensão.
O tema aqui é sobre investimentos e retornos sustentáveis no longo prazo. É verdade que os mercados se importam mais com o preço do produto e/ou serviço do que com a filosofia da empresas, porém há muitos exemplos em que companhias, empregos e setores foram destruídos pela criação de fortunas no curto prazo.
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Uma companhia que se concentra, principalmente, no longo prazo pode ser vítima de investidores de curto prazo que enxergam nela uma oportunidade de redução e, às vezes, até de quebra de um grupo.
Este é o motivo pela qual a Unilever não deveria baixar a guarda depois dos confrontos ocorridos no último final de semana, mas sim encontrar maneiras de melhorar seus lucros no curto e longo prazos, sem abandonar as práticas de abastecimento sustentável, alimentos mais saudáveis e salários decentes.
Enquanto isso, a Europa deveria pensar novamente sobre como se defender de aquisições hostis. A Unilever, ou pelo menos a parte holandesa do grupo, tem algumas barreiras para lidar com a situação mas, nas últimas décadas, os legisladores têm estado mais ocupados em remover essas barreiras do que em colocar em prática um cenário legal para defesa.
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Não se deve permitir que a administração de empresas se esconda atrás de esquemas de proteção de forma complacente, capaz de levar à destruição de valores, mas deve haver uma estrutura para impedir que companhias bem controladas sejam vítimas de emboscadas por parte de predadores.
Ações da Unilever recuam após Kraft retirar oferta de fusão
O rápido recuo da Kraft Heinz de sua oferta surpresa de 143 bilhões de dólares pela Unilever, diante da forte resistência da empresa e de políticos, pressionava a queda ao redor de 7 por cento das ações do grupo anglo-holandês nesta segunda-feira (20).
A Kraft queria comprar a Unilever como parte de sua estratégia de se tornar uma gigante global de bens de consumo, comprando concorrentes e cortando custos e empregos para gerar lucros.
As ações listadas em Londres da Unilever, que subiram 13 por cento para uma máxima recorde quando a oferta foi divulgada na última sexta-feira (17), recuavam mais de 7 por cento, depois que a Kraft disse em um comunicado ontem (19) ter retirado a sua proposta.
(com Reuters)