Automóveis equipados com serviços eletrônicos que auxiliam a dirigibilidade e itens de entretenimento empolgam os fãs de tecnologia. No entanto, tantos recursos podem ocultar perigos iminentes. “Todas as conveniências eletrônicas são, potencialmente, vulnerabilidades eletrônicas”, diz Jack Dunham, integrante da equipe de Segurança Cibernética da UL, empresa britânica que pesquisa possíveis ameaças cibernéticas. Essas vulnerabilidades vão da interferência no uso do rádio e do ar-condicionado até a interrupção da transmissão e corte dos freios, aumentando a possibilidade de acidentes.
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A preocupação com a invasão dos carros também orbita o setor público. O departamento que regulamenta o trânsito nas rodovias dos Estados Unidos lançou um documento com diretrizes sobre como deve ser a arquitetura do sistema digital de um automóvel, com o intuito de impedir o acesso de terceiros. Entre tais recomendações estão desde a separação dos sistemas eletrônicos de entretenimento e de funcionamento do automóvel até o fechamento das entradas do conjunto digital após o carro atingir uma velocidade elevada.
Simulando um ataque cibernético
Oficialmente, ainda não houve um ataque cibernético a carros com computador de bordo e serviços de entretenimento com acesso à internet. O relato mais conhecido é do teste realizado pela revista de tecnologia “Wired” em 2015, nos Estados Unidos. Na simulação, os hackers Charlie Miller e Chris Valasek tiveram acesso remoto ao sistema de entretenimento de um Jeep Cherokee no qual estava o jornalista Andy Greenberg.
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O automóvel estava em uma rodovia, enquanto os piratas digitais encontravam-se em suas residências, há quilômetros de distância. Inicialmente, Miller e Valasek controlaram o rádio e o ar-condicionado do veículo. Posteriormente, cortaram a transmissão no meio da estrada, deixando o jornalista apavorado.
O teste serviu para chamar a atenção para os riscos ligados à digitalização do automóvel. “É o tipo de falha que pode matar alguém”, diz Miller. Após a simulação, os hackers divulgaram o resultado da experiência à empresa fabricante do veículo.
O contraponto
Em um artigo publicado na revista “Scientific American”, o crítico de tecnologia David Pogue colocou o teste de Miller e Valasek em xeque ao afirmar que é praticamente impossível hackear um automóvel. Pogue classificou a divulgação da simulação pela revista “Wired” de “sensacionalista”.
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O crítico disse que o veículo usado pertencia aos hackers, que dedicaram um ano para codificar as vulnerabilidades do carro. Além disso, um ataque cibernético exige uma equipe de especialistas trabalhando durante um longo período de tempo para descobrir as fragilidades do sistema eletrônico do automóvel. Para completar, as montadoras investem na segurança dos dispositivos com acesso à internet, evitando assim potencial dano à imagem em caso de ataque.
Pongue apontou, ainda, que Miller e Valasak fazem parte de uma equipe de pesquisadores a serviço das montadoras, encarregados de avaliar possíveis erros de programação e de melhorar a segurança dos dispositivos. O crítico ressaltou que eventuais falhas podem ocorrer, mas não as apontadas pelos hackers.