Em janeiro deste ano, uma operação financeira movimentou o mercado asiático de luxo. Talenia Phua Gajardo, fundadora do The Artling, plataforma online que comercializa arte asiática, e do Luxglove, marketplace de produtos de luxo e coleções, arrecadou US$ 1,7 milhão em sua primeira rodada de investimentos. O montante foi usado para a aquisição de uma plataforma especializada no comércio online de arte chinesa, a Artshare.
Segundo Talenia, foram vários os motivos que a levaram à compra do e-commerce, entre eles, sua admiração pelo fundador do negócio, Alex Errera, e o aumento de oportunidades. “Eu observei a Artshare e sua performance por um tempo, pois ela foi criada no mesmo momento que o The Artling. Ela conquistou uma forte presença em Hong Kong e na China, enquanto nós éramos muito focados no Sudeste Asiático. Eu percebi que a aquisição nos pouparia tempo e nos daria uma grande vantagem em um novo mercado.”
A empresária de 31 anos, que têm mãe chilena e pai chinês de Cingapura, estudou arquitetura na Central St Martins, em Londres, e trabalhou por diversos anos no escritório Zaha Hadid Architects. Há cerca de 4 anos, voltou a viver em Cingapura. Sua primeira inspiração para o The Artling surgiu quando estava executando um projeto de design de interiores.
“Após meu período no Zaha, eu fui convidada para o meu primeiro projeto solo, no Town Hall Hotel, em Londres.” A sua função era ambientar o The Corner Room, um bistrô sob o comando do chef Nuno Mendes. “Eu comecei a pesquisar obras de arte, esculturas e peças de designers para decorar e, nesse processo, uma das coisas das quais mais gostei foi descobrir várias lojas incríveis com itens que, na época, ninguém encontraria online. Quando comecei a desenvolver meu portfólio de designer de interiores, percebi uma enorme dificuldade em encontrar obras de artes de artistas asiáticos e cingapurianos.”
Depois disso, Talenia começou a pensar em uma maneira de resolver essa lacuna: “Como nós poderíamos ter uma noção da arte contemporânea que estava sendo criada em Cingapura, na Tailândia ou na Indonésia? Como poderíamos visualizar as tendências sem ter que viajar até lá?”. E foi em resposta a essas perguntas, que a empreendedora lançou o The Artling, em 2013: “Foi uma maneira de unir a região, agregando os melhores artistas e galerias em um só lugar, de forma que colecionadores, consultores ou qualquer consumidor comum de arte pudesse comprar de forma fácil na internet, em um único espaço”. Com o site, Talenia uniu arte e tecnologia, e segue em busca de maneiras de melhorar o diálogo entre os artistas, clientes, galerias e o resto do mundo.
Já o Luxglove, lançado em 2015, foi uma resposta a uma demanda que veio do próprio The Artling. “Notamos um problema interessante: alguns colecionadores gostariam de revender suas peças para poder adquirir novas obras. Depois de discussões com a equipe, decidimos lançar a plataforma parceira, específica para o mercado de segunda mão”, conta.
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O passo seguinte foi expandir para outros setores além da arte – design, coleções, joias e carros clássicos. O objetivo era criar uma plataforma que simplificasse o processo de compra e venda de peças antigas e, ao mesmo tempo, fosse interessante para antiquários e negociantes, proporcionando um novo alcance de mercado e ampliando a base de consumidores.
Mas, na prática, como funciona o negócio? A fundadora explica que o The Artling é uma plataforma que foca em dois tipos de vendedores: os artistas e as galerias. Atualmente, são mais de 120 galerias e 1.000 artistas cadastrados, sendo a maioria deles natural de Cingapura, China, Tailândia, Filipinas, Japão, Malásia, Coreia do Sul e Indonésia. Para ser ainda mais ágil, o processo de inclusão de novos produtos foi facilitado: “Assim que aprovados, os artistas e galerias conseguem administrar seus próprios perfis. É similar com o Luxglove. Pelo site, os artistas criam suas próprias vitrines. Para ambos, nós pesquisamos e avaliamos os itens antes da publicação”.
Se engana quem pensa que Talenia se intimidou diante da possibilidade de os consumidores não se sentirem à vontade para comprar de forma online itens tão caros. “O comércio eletrônico já vem acontecendo há um tempo nesse setor, só que de forma diferente. As galerias enviam arquivos em PDF com as novidades para seus clientes do mundo inteiro. As compras são fechadas dessa forma. As dúvidas são poucas quando os colecionadores confiam nas fontes.”
A empresária conta que um de seus focos principais é garantir que os consumidores saibam que o site é confiável, e que os produtos e vendedores são certificados. Ela também revela que a experiência presencial pode ser vantajosa no comércio de um item de luxo: “Nós estamos percebendo que a experiência online/offline funciona muito para nós e, por isso, estamos promovendo eventos da comunidade de colecionadores, encontro de carros clássicos e até degustação de uísque para os clientes. Trata-se de construir a marca de forma que as pessoas criem confiança em nós.”