Nem os adversários se atrevem a negar: o empresário de mídia financeira Michael Rubens Bloomberg, 74 anos, fez história como prefeito de Nova York. Nem sempre com medidas populares – mas habitualmente arrojadas e bem-sucedidas. Assumidamente, transportou para o governo os conceitos de administração que empregava nos negócios. “O trabalho de um prefeito é sobre gestão, e eu sei gerir”, definiu.
O magnata assumiu a cadeira em 2002, em meio ao caos emocional e financeiro deixado pelos atentados terroristas que abalaram a cidade mais populosa dos EUA em setembro do ano anterior.
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“Mike” era famoso e experiente como empresário de mídia, mas novato na política. Ficou à frente do cargo por três mandatos, até 2013. Imprimiu a marca de sua gestão em várias frentes – segurança pública, lazer, educação, urbanismo e habitação.
Para o historiador Chris McNickle, que se especializou em escrever sobre os prefeitos da Big Apple, Bloomberg foi o mais poderoso prefeito desde o nascimento da Nova York moderna, no fim dos anos 1800. “Por estar livre das exigências de doadores de campanha, grupos de interesses e partidos políticos, o poder dele foi intensificado e expandido”, dimensionou McNickle.
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Mike atuou 12 anos como CEO da metrópole com PIB de cerca de US$ 1,4 trilhão – o segundo maior do mundo, só atrás de Tóquio, conforme estudo da PwC. Foi o período mais longo de um mesmo prefeito no cargo na história recente da cidade.
SEM SALÁRIO
Fundador do grupo de tecnologia para mercado financeiro que leva o seu sobrenome, Bloomberg é reconhecido por gerenciar Nova York como uma empresa. Para tanto, recrutou executivos na iniciativa privada e deu autonomia a cada departamento. Para planejar o desenvolvimento econômico, por exemplo, contratou Dan Doctoroff, ex-gestor do fundo de private equity Oak Hill Capital. Já as metas econômicas foram traçadas com ajuda da consultoria McKinsey.
“Bloomberg mostrou que eficiência de gestão no setor privado pode ser reaplicada no setor público”, definiu João Doria, ao apontar o americano como inspiração, durante a campanha para a prefeitura de São Paulo.
O empresário não apenas abriu mão de seu salário como prefeito (de US$ 2,7 milhões ao ano), como tirou dinheiro do próprio bolso para financiar as despesas do cargo. Segundo calculou o The New York Times, em 12 anos de governo, o magnata gastou US$ 650 milhões de sua conta pessoal em viagens (habitualmente em seu jato privado), refeições para a equipe, limpeza de aquários gigantes na sede do governo e remodelagem da Gracie Mansion – residência oficial que nunca usou para morar. Também investiu dinheiro de sua fortuna (estimada em US$ 18 bilhões em 2011) em museus, eventos de filantropia e causas sociais.
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O braço de administrador também se mostrou musculoso no saneamento das finanças da cidade, soterrada em dívidas que ameaçavam paralisar a gestão municipal. Mesmo com o abalo financeiro dos atentados terroristas de 2001 e atropelado pela crise econômica em 2008, Bloomberg conseguiu neutralizar o déficit de US$ 6 bilhões que engessava a prefeitura. “O fato de a economia não viver um bom momento não deve ser um problema. Isso é o que muita gente não entende. Esse é o momento perfeito para fazer a diferença, é quando você precisa atrair investimentos de outros lugares.”
IMPOPULARES E EFICIENTES
A administração de Bloomberg foi marcada pela adoção de medidas arrojadas e muitas vezes impopulares e polêmicas, mas com indiscutível resultado positivo. Determinado, não se deixava abalar pelas críticas, tampouco se intimidava com a desaprovação. “Tudo o que se precisa no governo é coragem de fazer e disposição de correr riscos”, desculpava-se, sem se desculpar. “Ou sentimos que podemos mudar o mundo ou não”, resume.
Aplaudido por seus parceiros de Wall Street, também conquistou o respeito de sindicatos e a tolerância de negros e hispânicos. Indiferente a partidos políticos, mudou de sigla tantas vezes quantas achou conveniente. Inicialmente era democrata, virou republicano e, por fim, independente. Acabou por angariar apoio entre todas as siglas, graças à sua política social, sua posição avançada sobre a imigração e sua liderança nacional na luta contra as armas de fogo. Propagou ideias progressistas, como o direito ao aborto e ao casamento gay.
Ao encerrar seus mandatos, no fim de 2013, Bloomberg ostentava em seu currículo de prefeito uma pilha de estatísticas sobre a redução dos crimes e a radical mudança na paisagem urbana da metrópole.
Ao deixar o cargo, revelou suas motivações: “Você quer deixar o mundo um lugar melhor para os seus filhos. De um ponto de vista egoísta, você quer que as pessoas pensem que você fez um bom trabalho”.
ALGUNS FEITOS DE BLOOMBERG COMO PREFEITO
Proibição do fumo
Em 2003, decretou proibição total de fumo em lugares de trabalho e espaços como restaurantes e bares. O número de fumantes caiu 50% entre os jovens
Ciclovias
Construiu 460 quilômetros de ciclovias. Fechou a passagem de veículos por trechos da avenida Broadway e na Times Square, duas vias movimentadas da metrópole.
Áreas verdes
Adicionou cerca de 320 hectares (3,2 milhões de metros quadrados) em parques e praças a Nova York. E plantou 750 mil árvores
Stop-and-frisk
Transformou as revistas da polícia em procedimento de rotina. Polêmica, a tática fez a cidade ter, em 2012, o menor número de homicídios (149) desde 1963
Calorias e refrigerante
Obrigou as lanchonetes a mostrar em letras garrafais as calorias dos alimentos. Proibiu a troca do vale-refeição do governo por refrigerante
Policiamento
Deslocou os policiais dos bairros mais ricos para as regiões carentes. A criminalidade e o número de jovens detidos para julgamento despencaram
Recompensa
Dobrou os investimentos em educação e passou a recompensar profissionais e escolas nas quais os alunos tivessem os melhores desempenhos