Embora seja constantemente lembrado como filho de deputado e senador, Tasso Jereissati carrega o sobrenome de uma das mais antigas famílias empresariais do Nordeste. Após iniciar atividades no ramo têxtil, o grupo Jereissati esticou suas mangas para negócios como pedreira, setor imobiliário, moinho de trigo e metalúrgica – neste último caso, com a La Fonte, uma das maiores fabricantes de fechaduras e cadeados do país.
Depois de trabalhar nas empresas do pai – o industrial e político Carlos Jereissati, que faleceu em 1963 –, Tasso se lançou na própria jornada de empreendedor e se tornou um dos pioneiros do mercado de shopping centers do Brasil ao lado do irmão, Carlos Francisco Ribeiro Jereissati. Os irmãos Jereissati entraram como sócios na construtora dona do Iguatemi São Paulo, inaugurado em 1966 e considerado o primeiro empreendimento do gênero do país. A sede das empresas de João Doria, admirador confesso de homens como Jereissati, que levam sua vitoriosa experiência como empresários para a vida pública, fica exatamente em frente ao Shopping Iguatemi.
A eleição de Tasso Jereissati para o governo do Ceará interrompeu o chamado “ciclo do coronelismo”Mesmo depois de desfazer a sociedade com o irmão, Tasso manteve operações no segmento, com o Iguatemi de Fortaleza, inaugurado em 1982, antes de passar a investir em outros ramos. Formado em administração pela Fundação Getulio Vargas, o empresário-senador detém, além do braço de shoppings (a Jereissati Centros Comerciais), sociedade na segunda maior engarrafadora de Coca-Cola do país, a Solar Refrescos.
Todos esses negócios têm sido tocados em paralelo com a carreira política, na qual Tasso debutou em 1986, quando foi eleito governador do Ceará, aos 38 anos. Sua candidatura – sob o slogan “O Governo das Mudanças” – contou com a retaguarda dos colegas empresários cearenses, reunidos no Centro Industrial do Ceará (CIC), entidade que Tasso dirigiu entre 1981 e 1983. O senador tem orgulho de recordar que sua eleição para o executivo do Ceará interrompeu o chamado “ciclo do coronelismo” no estado e seu famoso “voto de cabresto”. “Quando fui governador pela primeira vez, fui responsável pela ruptura com o modelo dos coronéis, que eram três e se alternavam no poder”, recordou em 2014.
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Tasso governou o Ceará três vezes, entre 1987 e 2002. Foi o segundo político a governar o estado por três mandatos em quase 110 anos de história republicana. De seu período no cargo, costuma ser lembrado como o governador que rompeu com o clientelismo e adotou a austeridade e a transparência. Saneou as finanças, restaurou o crédito do estado e inaugurou a modernização administrativa. Melhorou os indicadores de saúde e de educação do Ceará, que acabou reconhecido pela ONU como o estado brasileiro que mais cresceu no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). “O aumento do IDH foi a maior de nossas conquistas”, afirma.
Em sua gestão, Tasso também foi aplaudido pelos investimentos em obras de infraestrutura e modernização da máquina estatal – um modelo que virou referência para outras unidades da federação. No upgrade da engrenagem administrativa do Ceará, fez a transposição da sua experiência de gestor da área privada para a estrutura do serviço público.
Ao deixar o governo estadual, o empresário elegeu-se senador, cargo que exerceu entre 2003 e 2011. Depois de anunciar a “aposentadoria” da política para se dedicar à família e aos negócios, retornou à vida pública em 2014, quando voltou a concorrer – e a ser eleito – senador.
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Durante a pausa que deu na política, Tasso deu novo impulso aos seus negócios, dos quais tinha se afastado no auge dos cargos públicos: ampliou seu grupo de mídia, inaugurou novos shoppings e promoveu a fusão da engarrafadora de Coca-Cola da família. A Norsa juntou-se a outras duas companhias, criando a gigante Solar, que nasceu com faturamento de R$ 6 bilhões em 2012.
“Nesses quatros anos em que fiquei cuidando só dos negócios, montei um sistema de governança e conselhos muito mais atualizados, que dão autonomia para o grupo se desenvolver por si só”, disse no início de 2015, logo depois de reassumir no Senado.
Em seu atual mandato como senador, uma das cruzadas de Tasso tem sido o projeto da Lei de Responsabilidade das Estatais, que estabelece regras mais rígidas para a ocupação de cargos públicos. Basicamente, a lei proíbe pessoas com atuação partidária ou com cargos políticos de ser escolhidas para comandar estatais enquanto exercerem tais atividades. “É uma das principais reformas do Estado brasileiro que são necessárias para acabar com a corrupção e a ineficiência”, defende Jereissati, relator do projeto. “No momento em que se reforma a estrutura das estatais, se profissionaliza e se leva eficiência a elas, também se levam melhores serviços públicos”.