Nariz para o alto, motores em potência máxima, flaps acionados. Enquanto companhias aéreas ao redor do mundo quebram a cabeça para se manter no ar, a Emirates parece estar em constante decolagem, comemorando crescimento ano após ano (chegou a ser acusada por rivais americanas de receber subsídios do governo dos Emirados Árabes para chegar a esses resultados – ela nega). No Brasil desde 2007, achou que era hora de dar um upgrade na viagem São Paulo-Dubai, que sai diariamente do Aeroporto Internacional de Guarulhos. Desde 26 de março, entrou em operação nessa rota o impressionante Airbus A380, com seus dois andares, 73 metros de comprimento, 24 metros de altura e capacidade para 491 passageiros divididos em três classes – são 14 suítes na primeira classe (R$ 55 mil, ida e volta), 76 assentos na classe executiva (de R$ 17 mil a R$ 27 mil, conforme a data da reserva) e 401 na classe econômica (de R$ 4 mil a R$ 6 mil).
Por ser um país muçulmano, existem regras em relação a bebidas alcoólicas, que são difíceis de encontrar (mas é possível tomar sua cerveja no hotel)Lances ousados como esse em épocas de crise costumam provocar frio na barriga, o mesmo que muitos sentem na hora da decolagem. O francês Stephane Perard, 45, diretor geral da Emirates no Brasil desde 2014, diz não estar preocupado. “A Emirates opera em uma malha que vai além de São Paulo-Dubai. O tráfego entre Japão, China e Brasil é muito grande e vai ajudar a sustentar essa operação”, diz. Isso porque o aeroporto de Dubai é um hub internacional, ponto de parada para os brasileiros que têm esses países (e vários outros naquela região) como destino final – só o A380 tem mais de 40 destinos a partir de Dubai. Entre eles, os que têm atraído cada vez mais turistas brasileiros são Maldivas (“muito procuradas por casais em lua de mel”), Tailândia, Seychelles (“um turismo mais ecológico”) e Maurício (“onde dá para praticar kitesurfe, mergulho, montanhismo”).
Aproveitando o fato de Dubai ter se tornado o hub com o maior tráfego de passageiros do mundo (mais de 70 milhões de pessoas por ano), a estratégia da companhia é vender o conceito de duas viagens em uma. Ao voltar de seu destino final, o viajante tem o direito de ficar até quatro dias na cidade.
PARCERIA
Além do programa de milhas Smiles, a Emirates finalizou uma parceria de código compartilhado com a Gol. “Quem mora em qualquer capital do Brasil e quer ir a Dubai, vem a São Paulo ou ao Rio (de onde também partem voos para lá) em um avião da Gol como se fosse uma única viagem. O passageiro faz o check in na sua capital e não precisa se preocupar com malas, com nada, até chegar a Dubai”, diz o diretor geral. “Sua experiência fica mais simples, mais confortável.”
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Perard acredita que, por tudo isso, o A380 terá vida longa no Brasil, e fala da aeronave com o mesmo entusiasmo que dedica a Dubai, onde morou por vários anos.
“É uma aeronave excepcional, muito silenciosa, provavelmente a mais agradável do mundo. Na primeira classe são 14 suítes privadas com spa. No segundo andar há um lounge bar onde os passageiros da primeira classe e da executiva podem provar champanhe e vinhos de várias regiões do mundo. Além disso, temos wi-fi (dá para ficar conectado durante as 15 horas do voo) e um entertainment system que é considerado o melhor da indústria, com 2.600 canais (blockbusters, séries de TV inteiras, jogos e mais de 60 canais para crianças)”, descreve. Há tripulantes brasileiros em todos os voos e cardápios em português.
MOQUECA
Por falar em cardápio, perguntamos que cuidados os brasileiros devem ter com a comida dos Emirados Árabes. “É um país muçulmano, então existem algumas regras em relação a bebidas alcoólicas, que não são encontradas com facilidade (mas dá para tomar sua cervejinha no hotel). Eles comem bastante arroz e carneiro. O que talvez o brasileiro estranhe é uma espécie de moqueca baiana que eles fazem com temperos fortes, de influência indiana.”
Moqueca baiana? Por que ele fez essa comparação? Porque morou em Salvador de 1998 a 2000, onde trabalhava no setor de hotelaria, e onde conheceu sua esposa e mãe de suas filhas, de 8 e 11 anos, nascidas em Abu Dhabi e Londres, respectivamente. “Sempre tive um carinho muito grande pelo Brasil.”
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Além de comer, diz ele, há muito mais o que fazer em Dubai. “A cidade oferece opções para todos os orçamentos, para todos os níveis sociais. Você encontra hotéis de duas a sete estrelas e atrações como parques temáticos – em setembro de 2016 foi inaugurado o maior parque de diversões indoor do mundo – e lugares focados em cultura, em compras, em esportes. Tem até safári.” Perard garante que, considerando infraestrutura, segurança, conforto e atrações, o custo-benefício de Dubai é muito mais vantajoso que o de São Paulo, por exemplo, a despeito da impressão de ostentação que a cidade árabe transmite.
“E você não pensa em voltar para lá?”, pergunto. “Saí da França 20 anos atrás, fui a vários lugares e hoje estou aqui. Vamos ver aonde o destino me leva.” De preferência, é fácil concluir, a bordo de um A380.