A história do argentino Patricio Fuks, 44 anos, no empreendedorismo começou cedo, aos 22. “Sabia que queria ser um empreendedor, queria criar meu próprio negócio”, conta. Na ocasião, fundou uma agência de publicidade que, segundo conta, obteve muito sucesso até 2001, ano em que a Argentina atravessou uma severa crise financeira. Pato, como gosta de ser chamado, decidiu então fechar o negócio, já que não enxergava oportunidades para a propaganda naquele momento.
Antes da agência, Pato trabalhou em um hotel e sabia que aquele era um negócio mais estável. “Era bem diferente da agência, um negócio em que, quando você perde um cliente, é obrigado a dispensar os funcionários contratados para atendê-lo. O segmento hoteleiro é mais regular”, explica. Decidiu, então, voltar para o ramo, dessa vez como empresário.
Como não tinha dinheiro para comprar um hotel, Pato decidiu alugar um. Criou, então, um plano de negócios e, em dois meses, os resultados foram tão satisfatórios que ele decidiu alugar todos os hotéis disponíveis que pudesse encontrar. Em seguida, passou a construir propriedades. “Queria ser a maior empresa de hotéis da América Latina. Era meu objetivo, e isso era tão forte que eu consegui criar uma empresa hoteleira muito grande.”
Segundo o CEO, esse foi o momento em que sentiu mais medo em toda a sua carreira. “A certa altura, estava construindo quatro hotéis em quatro países ao mesmo tempo. Precisava levantar milhões e milhões de dólares de investidores. Eu vivia no limite”, lembra. Pato conta que uma das coisas que o ajudou e lhe trouxe inspiração foi a biografia de Conrad Hilton, fundador da rede de hotéis que leva seu sobrenome.
Assim, nasceu a cadeia Fën que, 14 anos depois, teria mais de 30 hotéis das marcas Dazzler e Esplendor espalhados pela América Latina e pelos Estados Unidos.
O audacioso plano de negócios de Pato incluía a construção e operação dos hotéis em cinco ou seis cidades diferentes, em países diversos, ao mesmo tempo. “Era muito desafiador. Estava sempre na correria, preparando-me para o próximo problema”, lembra. A nova rotina durou 14 anos, até que vendeu sua empresa para o grupo Wyndham, maior empresa hoteleira do mundo.
Alguns meses antes, quando ainda não tinha certeza da concretização do negócio, Pato foi para Nova York como convidado para palestrar em um evento para empreendedores. Um dos outros dois palestrantes era Adam Neumann, cofundador da rede mundial de escritórios compartilhados WeWork. “Na época, eu não sabia muito sobre a empresa”, conta.
“Estava acostumado a falar em conferências, nos mais variados lugares. Sempre que era convidado, deixava os outros falarem primeiro e me colocava como o último palestrante, pois, assim, sempre me destacava. Mas, daquela vez, a estratégia deu errado. Adam falou e, depois disso, foi realmente muito difícil para mim. Ele tem uma energia, um poder de persuasão…”
Muito mais do que sua habilidade como orador, o fato de Neumann ter ido de zero a US$ 10 bilhões em seis anos era um fato impressionante, que fez com que Pato questionasse que empresa era aquela. “A primeira coisa que Adam fez quando nós nos conhecemos foi me perguntar quantos hotéis eu havia inaugurado naquela semana. Pensei: ‘O que você quer dizer? Eu talvez tenha inaugurado dois ou três hotéis no ano todo’. E, então, ele me contou que havia aberto 10 unidades da WeWork nos últimos dois meses.”
Pato conta que ficou curioso e foi conhecer uma das unidades. “Assim que entrei naquele lugar, soube que havia algo diferente ali. Não era nada que eu já houvesse visto antes. Naquele momento, pensei: ‘Isso é incrível e vai mudar o mundo. Nunca mais vou trabalhar no meu escritório depois de conhecer isso.”
Era exatamente esse tipo de impacto que Neumann e Miguel McKelvey tinham como objetivo quando, em 2010, criaram a rede de escritórios compartilhados WeWork. A ideia da dupla era mesclar trabalho e ócio por meio de designs incríveis, calendários de eventos e suporte aos membros de inúmeras maneiras. Deu certo: hoje, a empresa tem mais de 130 mil integrantes no mundo, espalhados por suas 163 unidades, em 16 países.
Neumann disse a Pato que precisava de alguém para desenvolver o negócio na América Latina. O empresário de 43 anos parecia o candidato perfeito: tinha experiência, não apenas de construir mas também de inaugurar, administrar e contratar equipes nos mais diferentes lugares. “Basicamente, treinei para esse cargo por 14 anos.” Pato, então, aceitou o desafio e se tornou CEO da WeWork para a América Latina.
Alguns meses depois, a Wyndham o contatou e manifestou interesse em comprar sua empresa de hotéis. “Era o momento perfeito para vender. Aquela empresa era meu sonho realizado. Fiz o que precisava ser feito e queria um novo desafio”, explica.
Pato conta que a WeWork já assinou contratos com 23 prédios na América Latina, divididos em cinco países: Argentina, Brasil, México, Chile e Colômbia. Até 2018, a ideia é que esse número chegue a 70.
“Se você me perguntar se eu trabalhei algum dia da minha vida, vou dizer que não, que nunca trabalhei. Não sinto que trabalho. Acho que tenho sorte por isso, mas também acredito que todos possam ter essa mesma sorte. Quando você faz o que gosta, não significa que você será feliz todos os dias ou que você não terá desafios. Precisamos de desafios para crescer. Mas eu não sei qual é a definição de trabalho.”