Nesta temporada, a designer de joias Temple ST. Clair juntou-se a Louis Comfort Tiffany e Alexander Calder no grupo dos únicos três artistas norte-americanos a fazerem parte da coleção permanente do Musée des Arts Décoratifs, no Museu do Louvre, em Paris.
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Alguns podem considerar que isso seja o auge do sucesso, mas, para um designer que passou os primeiros 15 anos da sua vida nas montanhas Blue Ridge, na Virgínia, e Low Country, na Carolina do Sul, esta é só mais uma das conquistas de sua carreira, que se estendeu por três décadas e a levou ao redor do mundo.
Em um mundo repleto de velocidade e gratificações instantâneas, Temple St. Clair é uma anomalia. Ela faz parte do que chamamos de “joia lenta” – coleções feitas com técnicas à mão utilizadas há 500 anos. A designer colabora com artesãos de Florença que praticam uma arte quase extinta e se considera uma guardiã de oficinas que estão desaparecendo lentamente.
Corajosa e determinada, Temple também é apaixonada pela natureza, sendo conhecida por nadar com tubarões e falar abertamente sobre a preservação de corais, em um esforço para desencorajar os colegas joalheiros de destruírem os recifes. E suas extensas viagens – para lugares como China, Japão, Itália, França e Maldivas – ajudam a divulgar o seu trabalho.
A designer conta que transformou o amor pelas artes em uma carreira e que essas jornadas de inspiração e descobertas têm um grande papel em seu sucesso.
O início
Uma encomenda para que a mãe ajustasse uma moeda em um antigo colar foi o catalisador para o trabalho com joias de Temple e o início do seu contato com o mundo dos artesãos de Florença. A história do ouro, das joias e seus artesanatos a atraíram e ela utilizou os materiais e a habilidade dos artesãos para explorar temas universais por décadas.
O que fazia antes
Temple estava finalizando um mestrado em literatura italiana renascentista e pensando em viver na Itália, tirando seu sustento da criatividade, viagens e comércio. Ela cogitou ser uma escritora ao estilo dos viajantes do século 19 – documentando uma “viagem lenta”, com base em diários detalhados e esboços. Pensou, ainda, em ir até a Índia, coletando missangas tribais e joias de revenda. “Na Itália, eu trabalhei para uma empresa de pesquisa de mercado por dois anos. Por causa disso, viajei por todo o país.” O trabalho foi benéfico em termos de desenvolvimento de uma mentalidade de negócios para pesquisa e análises. A experiência, combinada com o conhecimento e amor pela arte e literatura, foi muito útil para a designer, que afirma ter um gene empreendedor e que sempre soube que queria encontrar um trabalho independente e criativo, capaz de abranger todos os seus interesses e paixões.
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Ela ama o trabalho
“Eu sou privilegiada. Me apaixonei por uma atividade histórica, que oferece quase infinitas possibilidades para uma expressão criativa.” Temple adora os materiais, o artesanato e a admiração que nunca chega ao fim ao lidar com pedras extraordinariamente coloridas. A designer gosta de administrar um negócio criativo com seu marido e parceiro. Um negócio no qual estão constantemente incentivando um ao outro para experimentar, inovar e refinar todos os pontos cruciais da marca: das apresentação, embalagem, publicações, aquarela, abordagem, gravura e mídias sociais até a experiência na loja. Eles estão constantemente montando estratégias e procurando aprofundar a experiência de sua clientela ao levá-los o mais perto possível da inspiração existente por trás do trabalho.
Viajar: fonte de inspiração
Viajar foi o centro da educação de Temple na infância. Em suas viagens em família, foi encorajada a guardar jornais e álbuns. Antes de partir, ela e sua família faziam cursos de idiomas, para aumentar a familiaridade com o país que iam conhecer. Depois, ela se imaginava como uma moderna viajante, coletando histórias e tesouros de leste a oeste. Logo que terminou a escola, a designer teve a oportunidade de passar um tempo na Índia, Turquia, norte da África, Japão e China. E se surpreendeu. De certa maneira, ela tinha sido treinada para viajar como uma exploradora. Absorveu os detalhes da arte, arquitetura, cerâmica e joias, as histórias sobre a cultura e as tradições religiosas. “Eu lia e fazia pesquisas constantemente ao longo do caminho. E trouxe isso para o meu trabalho atual. A maioria das minhas coleções é fundamentada em pesquisas, viagens, reflexão e estudo.” Mais tarde, alguns se referiram a sua abordagem com as joias como “intelectual”. Se isso significa que existe uma profundidade de sentimento e conhecimento por trás de seu trabalho, Temple concorda com a afirmação.
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Fazer parte do Louvre
Esta oportunidade ou possibilidade nunca passou pela cabeça de Temple. Muitos de seus heróis foram representados pela coleção do Louvre, sem mencionar os tesouros anônimos do mundo antigo. “Eu me sinto honrada por ter meu trabalho reconhecido por uma instituição tão icônica.”
Os lugares favoritos
Para a designer, é difícil reduzir seus lugares favoritos a apenas alguns. Eles são muitos, e todos a inspiram, tanto os feitos pelo homem quanto pela natureza.
Uma descoberta secreta
Uma de suas lojas preferidas no mundo, a Saiundo Fujimoto, em Quioto, foi uma grande descoberta. A loja fornece pigmentos, tintas e pincéis. Suas aquarelas customizadas são feitas lá, incluindo a folha de ouro. É lá também que Temple fez dois amigos para toda a vida: Ritsue Mishima, um artista especializado em vidro que se alterna entre Veneza e Quioto, e Giulio Bono, restaurador de Ticiano, Bosch e outros mestres. O trio tornou-se amigo rapidamente, o que faz do lugar uma parte ainda mais inesquecível da vida da designer.
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A criação lenta de joias
“Nós estamos tão acostumados ao instantâneo que é particularmente significativo (e surpreendente) quando você encontra um produto e serviço que tem um toque muito pessoal”, diz ela. Para Temple, boas joias não podem ser diferentes de uma combinação de ideias cuidadosamente desenvolvidas e trabalhadas, materiais específicos escolhidos a dedo e técnicas meticulosas. No caso dela, os materiais e a experiência que acompanham suas joias – notas escritas à mão, esboços originais, aquarelas e storytelling – contribuem para o senso de descoberta e intimidade do trabalho. É algo com uma profunda conexão, que leva tempo e curadoria – exatamente o oposto do instantâneo.
Trabalhar com artesãos de Florença
A fascinação inicial com joias começou com os artesãos de Florença. Temple estava encantada com a tradição e a dedicação humilde daqueles mestres. Ela sabia, no começo, que tinha arranhado a superfície de um mundo mágico para o qual poucos são convidados. Não é sua relação de negócios diária. É uma relação de conexão humana com uma história maior do que qualquer outra individual. É a participação em uma tradição que está lentamente desaparecendo conforme as novas gerações, acostumadas a tudo que é instantâneo, não têm paciência para dedicar os anos necessários para se tornar um mestre. “Meu trabalho é apreciado pela profundidade da qualidade e o sentimento de cuidado. Eu devo isso aos artesãos de Florença. Sou privilegiada por trabalhar com eles e por defender essa tradição.”
Equilíbrio entre a vida e o trabalho
A melhor coisa sobre ser independente e administrar seu próprio empreendimento é fazer dele uma parte do seu estilo de vida. São muitas coisas para equilibrar, mas as recompensas são grandes. Temple e sua família passaram um bom tempo juntos na Itália e em outros lugares exóticos. Seus filhos consideram Florença como uma segunda casa e têm familiaridade com o mundo dos ourives, que é algo realmente raro e digno de ser valorizado. “Assim como me foi dada a oportunidade de aprender a como viajar bem quando criança, eu tenho conseguido transmitir isso aos meus filhos”, conta. Segundo ela, eles viram uma boa parte do mundo nas viagens a trabalho da mãe. Aprenderam o valor de não serem apenas turistas ou visitantes, mas de estarem realmente envolvidos nos lugares nos quais estiveram. “Eu acho importante mostrar às crianças o que significa seguir sua paixão, mergulhar de maneira profunda nas coisas que você ama e criar uma vida ao redor disso.”
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Corajosa determinação
Quando criança, Temple foi criada para acreditar que qualquer coisa que colocasse em sua cabeça se tornaria possível. “Eu tinha crenças muito fortes e a noção do que era um bom trabalho. Não deixava nada inacabado até me sentir bem sobre o que estava produzindo.” Ela afirma ser, geralmente, corajosa, e diz que não é intimidada com facilidade. Por estar sempre pelo mundo e, frequentemente, sozinha, viajar certamente adicionou a sua confiança uma atitude de fazer as coisas acontecerem.
Saber diferenciar bons e maus conselhos
O pior conselho que ela já recebeu foi para fazer uma linha com preços mais baixos. Temple nunca seguiu a recomendação, pois achou que não funcionaria para o tipo de trabalho que exerce. “Nós não competimos em preço. O que fazemos é tentar criar as peças mais lindas e interessantes possível, sem nunca comprometer a qualidade do material ou do produto.”
Se pudesse dar um conselho a ela mesma quando mais jovem, seria para investir no mercado imobiliário. “Compre um espaço de trabalho quando for possível. Seja um pioneiro em expandir vizinhanças.” Ela fez isso por um tempo, mas desejava ter feito mais.
Para outras mulheres, o conselho de Temple é que elas entendam a diferença entre ser uma designer e desenvolver uma carreira como designer. Ela ressalta a importância de procurar por especialistas e se tornar o mais especializado possível em cada aspecto do negócio, especialmente no começo. Além disso, que sejam humildes e não descansem ao se sentirem confortáveis. Existem fluxos e contrafluxos para cada negócio e as pessoas precisam considerar tudo isso como um avanço. Se você não tem algo a dizer com seu trabalho, é provável que não tenha sido a escolha certa.