Como FORBES Brasil afirmou na primeira edição da lista PEQUENAS NOTÁVEIS, não é preciso ser grande para ser líder. Por isso, você vai conhecer agora as empresas brasileiras de pequeno e médio porte que dominam seus nichos de mercado. O seleto time é escalado entre empresas nacionais com faturamento anual de R$ 1 milhão até R$ 100 milhões, administradas e controladas por seus fundadores ou herdeiros – mesmo depois de ter recebido algum aporte. A lista deste ano elenca desde jovens startups até empresas seniores que, depois de anos no mercado, continuam na dianteira.
Veja na galeria de fotos nove PEQUENAS NOTÁVEIS:
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Diego Nata e Ale Santos MAZZAFERRO
Ela fisgou o mercado de linhas de pesca
Nello Mazzaferro chegou ao Brasil em 1949. Vindo de uma Itália destruída pela Segunda Guerra, o jovem procurava no Brasil a chance de uma vida digna. Trabalhou em vários lugares até que, em 1953, criou uma pequena empresa de transformação de plástico que levava seu sobrenome. Hoje, a paulista Mazzaferro é a maior produtora de linhas de pesca do país – e uma das maiores do mundo.
“Nem sempre foi fácil, já tivemos altos e baixos nesses mais de 60 anos de história”, afirma Maurízio Mazzaferro, filho de Nello e atual responsável pelo setor de pesca da empresa. “Atingimos o auge nos anos 1960 e 1970. Em 1980 passamos por sérios problemas, como boa parte dos negócios do Brasil na época.” Perto da falência e afundada em dívidas, a companhia começou a dar a volta por cima no meio dos anos 1990. Com a aposentadoria do fundador em vista, a família decidiu profissionalizar a gestão.
Em 2000, a Mazzaferro criou um conselho consultivo e, finalmente, separou os cargos de CEO e chairman. Hoje, a fabricante é uma empresa familiar sui generis, como Maurízio costuma dizer. Os quatro herdeiros de Nello dividem uma fatia de 53%, e o resto é pulverizado entre primos e outros familiares.
Com o novo planejamento, a empresa tornou-se uma gigante em transformação de plástico. “Na parte da pesca, só há uma empresa no mundo, nos Estados Unidos, que compete conosco”, afirma Maurízio. Para atender à demanda, a Mazzaferro tem duas fábricas na Grande São Paulo e um centro de distribuição em Manaus, responsável pelos produtos fabricados na China – uma parceria iniciada em 1994. “O mercado brasileiro enfrenta uma frequente perda de competitividade de base industrial. Às vezes o câmbio ajuda, mas o país, não: a legislação é complexa, o custo trabalhista é elevado, a energia elétrica é um ponto de interrogação…”, reclama o executivo. “Tivemos de optar pela Ásia, o que, infelizmente, reflete a falta de confiança que temos no Brasil.”
Embora seja uma empresa de transformação de plástico, que produz de vassouras a utilidades cosméticas, é a área de pesca que dá as cartas na Mazzaferro. Responsável por 70% da receita e um faturamento de R$ 100 milhões em 2016, o setor cresceu tanto que tornou-se praticamente uma empresa diferente, com CNPJ próprio, comandada por Maurízio, enquanto seu irmão mais novo, Cláudio, cuida das outras áreas.
No exterior não está só o futuro da produção da Mazzaferro. O grupo ítalo-brasileiro, que começou a exportar nos anos 1960, vislumbra o crescimento de clientes além das fronteiras nacionais. Hoje exporta para mais de 50 países, responsáveis por 30% da receita, e o objetivo é aumentar essa fatia para 50% nos próximos cinco anos.
FICHA TÉCNICA
SEDE: Diadema (SP)
CRIAÇÃO: 1953
FUNDADOR: Nello Mazzaferro
SÓCIO: família Mazzaferro
FUNCIONÁRIOS: 360
FATURAMENTO: R$ 100 milhões -
Hassan Saif KICKANTE
Crescendo e ajudando a crescer
Como apoiar projetos culturais, iniciativas solidárias e ainda pagar as contas? Esta era a equação que Candice Pascoal queria resolver no começo da década. Envolvida com diversas ONGs, a empreendedora baiana via a dificuldade que bons projetos enfrentavam para dar certo, em especial com a piora da economia. “As fontes de financiamento, que nunca foram tão abertas, ficaram cada vez mais fechadas com esse tumulto no mercado”, afirma Pascoal.
A solução para seus dilemas se deu por meio de um mecanismo já popular no exterior e que dava seus primeiros passos no Brasil: o financiamento coletivo, ou crowdfunding, no qual diversas pessoas contribuem com determinadas quantias para iniciativas que lhes chamem a atenção.
Lançada em outubro de 2013, a Kickante chegou com uma proposta clara de empreendedorismo social. “Fomos a primeira plataforma do mundo a fazer transação entre instituições solidárias e doadores”, afirma a fundadora. “Antes, havia uma certa desconfiança se o dinheiro iria de fato chegar à organização. Nós fazemos essa transferência diretamente.” Esse tipo de parceria, que começou com os Médicos Sem Fronteiras, atualmente reúne “todas as grandes organizações”, como Greenpeace, Aldeias Infantis, Unesco e ONU. A maior campanha já feita no portal foi da ONG Rancho dos Gnomos, para a construção de um santuário para animais no interior de São Paulo. Mais de 15 mil pessoas contribuíram, o que rendeu cerca de R$ 1 milhão para a iniciativa.
Mas não são só projetos solidários movem a Kickante. Há campanhas para financiamento de livros, discos, games, projetos esportivos e de empreendedorismo.
Segundo Candice, a instabilidade econômica não afetou a empresa, que cresce mês a mês desde o ano passado. A média de contribuições também não caiu: R$ 250 por pessoa. “Em momentos como este, as pessoas ficam mais generosas. Cada um ajuda como pode: há quem contribua com R$ 10 e quem contribua com R$ 5 mil”, conta a empreendedora. Há duas formas de campanha: “tudo ou nada”, onde o negócio só sai do papel se a campanha atingir o valor total preestabelecido (se não atingir, as doações são devolvidas), e a “flexível”, na qual “o que vier será bem-vindo”. É possível contribuir via boleto ou cartão de crédito à vista ou parcelado, outra inovação apresentada pela Kickante. A empresa fica com 12% de cada transação, dos quais entre 2% e 3% vão para as operadoras.
Em pouco mais de três anos, o esforço da baiana, que mora há quase uma década na Holanda, tem dado resultado: são mais de 50 mil campanhas em uma comunidade total de 1 milhão de pessoas, entre contribuintes e criadores, e mais de R$ 40 milhões transferidos. Ao todo, a empresa faturou R$ 5,7 milhões, dos quais R$ 3,2 milhões só em 2016.
Em abril deste ano, a Kickante ganhou dois prêmios internacionais relacionados a inovação e empreendedorismo sustentável: o Cartier Woman’s Initiative, como representante da América Latina, e o Fintech Latam, na área de User Experience.
FICHA TÉCNICA
SEDE: São Paulo (SP)
CRIAÇÃO: 2013
FUNDADORA: Candice Pascoal
SÓCIOS: Candice Pascoal, Diogo Pascoal e Viviane Sedola
FUNCIONÁRIOS: 10
FATURAMENTO: R$ 3,2 milhões -
Diego Nata e Ale Santos GETNINJAS
Um exército para combater problemas do dia a dia
Com formação em engenharia da computação e administração e então trabalhando em uma empresa de investimentos, Eduardo L’Hotellier precisou contratar um pintor para um reparo em casa. Foi um sufoco. Teve, então, o insight para a criação da Getninjas, hoje a maior plataforma de contratação de serviços do Brasil.
“Era fácil comprar livro, passagem aérea ou TV e reservar um hotel pela internet. Mas era praticamente impossível contratar um serviço. Vi que ali tinha uma grande oportunidade”, relata.
Em outubro de 2010, aos 25 anos, L’Hotellier lançou a Getninjas a partir de um protótipo de site comprado da Índia por 700 dólares (pela cotação da época, R$ 1.200). Sua intenção era criar uma versão de classificados online, uma espécie de “páginas amarelas digital”, como ele define. A plataforma buscava simultaneamente profissionais e clientes, tentando casar as habilidades de uns com as necessidades dos outros.
O negócio pegou rápido: um ano depois da criação, a empresa atraiu investimento de R$ 1,2 milhão dos fundos de venture capital Monashees Capital e Kaszek Ventures. Em 2013, foram mais R$ 6 milhões e, em 2015, R$ 40 milhões, que marcaram a entrada da Tiger Global Management.
Os sucessivos aportes deram fôlego para investir na contratação de funcionários (hoje são mais de 100), ampliar a sede física, aperfeiçoar ferramentas e esticar a abrangência da plataforma, que atualmente atende 3 mil cidades brasileiras.
Operando por aplicativo desde 2013, a Getninjas vende para os profissionais um pacote de créditos, que podem utilizá-los para se candidatar aos serviços que se enquadrarem no seu perfil. Já o cliente recebe uma lista de três profissionais previamente selecionados a partir de critérios como distância e avaliações, para escolher um deles.
“Para o profissional, em vez de cliques ou anúncios, vendemos potenciais clientes interessados. Para o cliente, oferecemos um serviço mais rápido, mais barato e mais seguro”, afirma L’Hotellier. A Getninjas oferece mais de 200 categorias profissionais, que vão desde prestadores de serviços convencionais – como eletricista, encanador, pedreiro, babá e diarista – até profissionais altamente específicos, como personal stylist, modelista 3D e detetive particular.
Hoje, a plataforma tem cadastrados cerca de 200 mil profissionais. Em 12 meses, gerou R$ 300 milhões em serviços, em 1,2 milhão de contratações. Além dos atributos do próprio modelo, L’Hotellier credita boa parte do avanço da Getninjas à popularização do Whatsapp no Brasil.
“O Whats foi o aplicativo que pavimentou nosso crescimento, porque trouxe a familiaridade com o celular. Até então, a maior parte dos profissionais não estava madura para o uso da tecnologia. Hoje, o número de dúvidas é muito menor que o de anos atrás, embora a complexidade do aplicativo seja maior.”
FICHA TÉCNICA
SEDE: São Paulo (SP)
CRIAÇÃO: 2011
FUNDADOR: Eduardo L’Hotellier
SÓCIOS: fundos Monashees Capital, Kaszek Ventures e Tiger Global Management
FUNCIONÁRIOS: 102
FATURAMENTO: não divulgado -
Bruno Alves LEITURINHA
O maior clube de assinatura de livros do Brasil
Guilherme Martins, Luiz Castilho e Rodolfo Reis tinham algumas coisas em comum além da amizade: eram engenheiros e compartilhavam o desejo de empreender. Mas foram os filhos pequenos, de idades semelhantes, que motivaram um debate bem distante da sua área de formação: uma maneira de estimular a leitura infantil. “Poucas marcas no Brasil falavam sobre a importância da leitura em família”, afirma Reis. Assim surgiu a Leiturinha, primeiro clube de assinaturas de livros voltado ao público infantil no país.
Lançada em maio de 2014 com investimento inicial de R$ 250 mil, a empresa trazia uma ideia simples: enviar mensalmente um kit com um ou dois livros e alguns brindes em um pacote personalizado. Como toda startup, as coisas não foram fáceis no começo, com vendas pouco expressivas nos primeiros meses. “Nosso primeiro grande desafio era explicar para o público o que é um clube de assinaturas”, conta Reis, CEO da empresa. “As pessoas comparavam os preços, como se fosse apenas venda de livros. Mas, na verdade, nós vendemos uma experiência que o assinante vai ter com o filho. Tivemos de fazer todo um trabalho de brand content.”
Uma das estratégias foi entender seu público potencial. Com foco em crianças de até 10 anos, a grande maioria (se não a totalidade) da sua base de clientes não é independente – o que significa que eles têm de vender para os pais. Mas, como a razão de existir da empresa são os pequenos, os pacotes são sempre enviados com o nome das crianças, para “criar um vínculo entre o assinante e o serviço”.
Funcionou: em 2014, a Leiturinha fechou o ano com 1.500 assinantes, número que quintuplicou no ano seguinte, quando fecharam com mais de 8 mil filiados.
Hoje a startup mineira é o maior clube de assinaturas de livros do Brasil, com uma equipe de pedagogos e psicólogos especializados que ajudam a fazer a curadoria das obras. Há três opções: assinatura mensal de um livro, de dois livros ou a compra de um kit avulso de dois exemplares.
Os números são de gente grande: a empresa compra uma média de 100 mil livros por mês. “Somos um dos maiores compradores de livros infantis do país”, afirma o CEO. Com alta taxa de renovação das assinaturas, o clube cresceu 300% no ano passado, fechando 2016 com mais de 25 mil assinantes e faturamento de R$ 15 milhões. Para este ano, a proposta é chegar a 100 mil assinantes até dezembro e faturamento de R$ 40 milhões. Hoje, com 47 mil filiados no seu aniversário de três anos, eles já estão no meio do caminho.
FICHA TÉCNICA
SEDE: Poços de Caldas (MG)
CRIAÇÃO: 2014
FUNDADORES: Guilherme Martins, Luiz Castilho e Rodolfo Reis
SÓCIOS: Guilherme Martins, Luiz Castilho, Rodolfo Reis e a empresa Movile
FUNCIONÁRIOS: 85
FATURAMENTO: R$ 15 milhões -
Anúncio publicitário -
Alexandre Battibugli VETOR ZERO
De zero a cem na animação digital
O nome Vetor Zero não é tão familiar ao grande público como é no mercado publicitário. Mas certamente muita gente conhece alguma de suas principais criações, como a formiga da Phillips ou a tartaruga e os caranguejos da Brahma, que viraram personagens antológicos da propaganda nacional.
O maior estúdio de animação digital do Brasil nasceu em São Paulo nos anos 1990, da associação de Sérgio Salles, então dono de uma pequena produtora de vídeo, com o artista plástico e ilustrador Alceu Baptistão. Ambos se conheceram anos antes, quando estudavam na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
“A computação gráfica estava começando naquele momento e tinha aplicação no que eu estava fazendo”, lembra Salles, 53 anos. “Era incipiente, mas fascinante.”
Pioneira em 3D no Brasil, a Vetor Zero iniciou suas operações com um único microcomputador. Rapidamente destacou-se pelo ineditismo e foi dominando o mercado de produção de efeitos visuais e animação. O estúdio começou a colecionar prêmios com suas criações, que passaram a ser exportadas. Várias produções da Vetor foram e ainda são veiculadas nos Estados Unidos, México e países da Europa. A atuação no exterior se dá por meio da Lobo, com quem opera em parceria. A joint venture chegou a ter 60% do seu faturamento fora do país nos anos 2000.
Com o avanço da computação gráfica, o estúdio também foi estendendo seu mouse para outras tecnologias, como realidade virtual e realidade aumentada. Hoje a Vetor se define como mixed media. “Em tudo o que aparecia de novidade a gente se envolvia. Juntamos todas as técnicas possíveis”, diz Salles.
Em 2008, por incentivo dos clientes, a empresa ingressou na área de live action: passou a filmar comerciais com atores e locações reais. A esticada acabou por culminar na criação da Vetor Filmes, focada em filmes publicitários “tradicionais”.
Hoje mantém cerca de 80 funcionários em seus estúdios, e o número chega a dobrar durante as produções. A empresa também é exportadora de talentos: nos últimos dois anos, cerca de 30 profissionais da Vetor foram contratados por estúdios internacionais. “Nós fomos e ainda somos uma escola”, diz o sócio-fundador.
Quanto ao portfólio de clientes, além de empresas internacionais, o estúdio paulistano gaba-se de ter no currículo trabalhos para praticamente todos os grandes anunciantes do país. “Entre aqueles que anunciam, não tem quem não seja ou tenha sido nosso cliente”, comemora Salles.
FICHA TÉCNICA
SEDE: São Paulo (SP)
CRIAÇÃO: 1988
FUNDADORES: Sérgio Salles e Alceu Baptistão
SÓCIOS: Vários
FUNCIONÁRIOS: 80
FATURAMENTO: não divulgado -
Babi Nakata AQUIRIS
Ela entrou no jogo para vencer
Ganhar dinheiro com games é o sonho de muitos jovens brasileiros. Amilton Diesel, Israel Mendes e Maurício Longoni conseguiram transformar isso em realidade. Os jovens são fundadores da Aquiris Game Studio, maior desenvolvedora de jogos para o motor Unity na América Latina. Mas não foi na área de entretenimento que os gaúchos começaram quando fundaram a empresa, há dez anos.
“Nós fazíamos visualizações em 3D voltadas ao mercado, como projetos imobiliários, por exemplo”, lembra Longoni, CEO e head of studio da Aquiris. O primeiro grande projeto do grupo foi a criação de todos os aviões da Embraer em três dimensões para auxiliar nas vendas da empresa. “Aí achamos que o setor publicitário poderia ser promissor.
No fim do primeiro ano, a Kibon contratou o estúdio para fazer um jogo que ajudasse a promover seu novo sorvete. Assim surgiu o Laka Game Show, primeiro game criado pela Aquiris. “Os jogos são meios de interação muito engajantes”, argumenta Longoni. “Enquanto em uma página normal você passa 30 segundos, dois minutos, com menor exposição da publicidade, em um jogo você gasta 25, 30 minutos.” Dessa forma, a startup se tornou pioneira no mercado brasileiro de jogos publicitários, os advergames. “Ninguém fazia isso antes.”
Em 2010, começaram as parcerias com o mercado de entretenimento. O primeiro foi o canal pago infantil Cartoon Network, com o qual faz negócios até hoje. Depois, vieram Warner Brothers e multinacionais como a Unilever.
A produção de jogos próprios iniciou-se em 2013, quando a empresa lançou o Ballistic Overkill gratuitamente no Facebook. “Mas o modelo free-to-play não deu muito certo na rede social, tanto que hoje quase não tem mais”, lembra Longoni. Atualmente, o game de tiros está disponível na plataforma paga Steam.
A Aquiris tem duas principais plataformas de negócios: jogos próprios e jogos gratuitos para mobile, desenvolvidos com parceiros. “Estamos trabalhando com um grande estúdio de Hollywood para um jogo móvel. Temos 45 pessoas só neste projeto”, conta o empreendedor, sem revelar qual é esse cliente importante.
A empresa estabilizou-se com um faturamento superior a R$ 10 milhões em 2016. Segundo Gondini, os jogos gratuitos para smartphones são boas alternativas para ganhar dinheiro – o problema é a alta competitividade desse meio no Brasil. “De milhares de jogos lançados todos os anos, só uns três ou quatro realmente se destacam”, afirma o CEO. “Mas tem espaço para todos os tipos de jogadores e plataformas, não acreditamos que o PC vai acabar. O mercado brasileiro é muito promissor. É só criar um bom conteúdo.”
FICHA TÉCNICA
SEDE: Porto Alegre (RS)
CRIAÇÃO: 2007
FUNDADORES: Amilton Diesel, Israel Mendes e Maurício Longoni
SÓCIOS: Amilton Diesel, Israel Mendes, Kely Costa, Maurício Longoni, Raphael Baldi e Sandro Manfredini
FUNCIONÁRIOS: 65
FATURAMENTO: R$ 10 milhões -
Vinicius Stasolla BOBINEX
O papel do empreendedorismo
José Eduardo Trindade chegou a São Paulo, vindo da pequena São Simão (SP), ainda criança. De família humilde, teve de se virar para juntar dinheiro e ajudar em casa: foi engraxate, office boy, verdureiro e até tentou se firmar no futebol profissional pelo Palmeiras. Ambicioso, sua vontade era empreender, muito antes de esse termo tornar-se tão popular. Teve, com os irmãos, uma loja de adesivos e outra de embalagens. Nenhuma das duas foi para a frente. Em 1967, depois de mais de 20 anos na capital, decidiu montar seu próprio negócio: comprou uma loja chamada Bobilinea e mudou o nome para Bobinex. Assim nascia a maior produtora de papel de parede do Brasil.
“No começo, não fazíamos papel de parede, isso começou depois”, conta Rafael Trindade, 29 anos, neto do fundador (à direita na foto ao lado). Aos poucos, no entanto, embelezar paredes com essa técnica caiu no gosto do brasileiro. Hoje a Bobinex, comandada por Fabio Eduardo Trindade (à esquerda na foto), filho de José, é soberana nesse nicho há mais de uma década.
A principal concorrência vem de fora. “Existe muita importação. Então é essencial que continuemos trabalhando para nos estabelecermos como marca”, diz Rafael, diretor de criação responsável pelo desenvolvimento de novos produtos ao lado do irmão Guilherme (no centro da foto). “Antes nós desenvolvíamos coleções pautadas pelo gosto pessoal, não pelo mercado. Agora começamos a fazer pesquisas e a entender melhor o que o consumidor quer. Passou a ser de fora para dentro”, conta.
A fábrica em Embu das Artes, na Grande São Paulo, fornece material para todo o país. A recessão dos últimos dois anos teve impacto nas vendas. “Papel de parede não é um item de necessidade básica. Por outro lado, nós nos colocamos como uma possibilidade mais acessível para mudanças na casa. Sai mais barato do que fazer uma reforma.”
Os planos da Bobinex são expandir os pontos de venda, investir no mercado online (que tem atraído “cada vez mais consumidores”) e investir em novas categorias em decoração.
FICHA TÉCNICA
SEDE: Embu das Artes (SP)
CRIAÇÃO: 1967
FUNDADOR: José Eduardo Trindade
SÓCIO: Fabio Eduardo Trindade
FUNCIONÁRIOS: 90
FATURAMENTO: não divulgado -
Eduardo Knapp/Folhapress DR. CONSULTA
Um remédio para o sistema de saúde
Filho do médico urologista Miguel Srougi, Thomaz Srougi, 40 anos, passou a infância frequentando hospitais na companhia do pai. Apesar dessa influência, acreditava não ter vocação para seguir o caminho da medicina. “Meu pai trabalhava muito e ganhava pouco”, conta. Então foi estudar administração na Universidade de Chicago e na Harvard Business School.
Antes de criar a maior rede de centros médicos de baixo custo do Brasil, Thomaz passou pela Ambev, investiu e ajudou a configurar o IPO da Construtora Tenda e participou da montagem do fundo de investimentos Galícia. “Nunca pensei em montar um negócio na área da saúde. Eu acreditava que poderia melhorar meu entorno de outras maneiras.”
Mas a saúde acabou atravessando novamente seu caminho durante a temporada de estudos nos Estados Unidos, quando vislumbrou um novo modelo de serviços médicos, mais práticos, rápidos e baratos – bem a calhar para o deficitário serviço de saúde brasileiro. Quando voltou, criou o Dr. Consulta.
A primeira clínica foi inaugurada em 2011 em Heliópolis, bairro de São Paulo que hospeda uma das maiores favelas da América Latina. “Escolhemos uma região muito carente porque queríamos nos testar ao máximo no ambiente mais hostil possível. Foi nosso teste para validar o sistema”, diz Thomaz.
O teste levou quase dois anos, e só então foram abertas novas clínicas. O tempo de amadurecimento foi usado para aperfeiçoar o conceito e torná-lo replicável. “O objetivo não era criar um centro médico, mas um modelo que pudesse ser aplicado em escala.” A partir de Heliópolis, a expansão foi rápida. Atualmente, a rede soma 35 centros médicos no estado de São Paulo, com planos de chegar a 47 até o fim de 2017. A empresa já recebeu vários aportes de grupos estrangeiros e está agendando para o próximo ano a chegada a outros estados.
O Dr. Consulta já arregimentou um exército de mil médicos na sua “guerra para salvar vidas”, como define o empreendedor. E recebe cerca de 30 currículos por dia de profissionais interessados em trabalhar nos centros médicos do grupo.
Os agendamentos de pacientes podem ser feitos por telefone, site ou aplicativo, para exames de laboratório ou imagem e consultas em 40 especialidades, até para o mesmo dia. Além de mil tipos de exames, a rede oferece pequenos atendimentos ambulatoriais e até 100 tipos de cirurgia. “É um sistema de saúde integrado, como se fosse uma one stop shop.”
Além do modelo, outro diferencial da empresa são os preços mais baixos das consultas, a partir de R$ 60. Para chegar a valores baixos com alta qualidade, o empresário diz ter colocado em prática o modelo de gestão absorvido de sua passagem pela Ambev: gestão de processos, custos e pessoal.
Com essa fórmula, a empresa cresceu 400% entre 2015 e 2016, e hoje registra 150 mil consultas por mês. No total, meio milhão de pessoas utilizam seus serviços, número que o Dr. Consulta pretende dobrar até o fim do ano.
FICHA TÉCNICA
SEDE: São Paulo
CRIAÇÃO: 2011
FUNDADOR: Thomaz Srougi
SÓCIOS: Diversos
FUNCIONÁRIOS: 700 + 1.000 médicos
FATURAMENTO: não divulgado -
Diego Nata e Ale Santos GIULIANA FLORES
Navegando em um mar de rosas
Foi com um catálogo virtual de apenas dez arranjos que o empresário florista Clóvis Souza fez sua estreia na internet, lá no início dos anos 2000. Hoje dono da maior floricultura online do Brasil, Souza viu na rede mundial de computadores uma oportunidade de ampliar a visibilidade da Giuliana Flores, empresa que criou em 1990 em sociedade com a sogra.
O empresário começou a trabalhar com flores aos 10 anos, como ajudante em uma floricultura instalada no pavimento inferior do sobrado no qual morava com sua família, no bairro da Mooca, em São Paulo. Aos 20 anos, montou seu próprio negócio, batizado com o nome da então namorada. A Giuliana Flores nasceu em um espaço alugado de 32 metros quadrados, em São Caetano. O namoro acabou quatro anos depois, assim como a sociedade com a sogra, mas Souza decidiu manter o nome, que considerava bonito e diferente. A empresa chegou a ter quatro lojas físicas antes de fincar raízes na internet, no ano 2000.
“No primeiro mês na internet, fiz duas vendas. No mês seguinte, seis. Considerei o resultado animador e decidi apostar. O site era precário. Mas fui aprendendo”, lembra o empresário florista. Hoje, a Giuliana Flores domina o e-commerce de flores e presentes do Brasil, com uma média de 25 mil entregas por mês. O tíquete médio é de R$ 160, e o ponto alto do ano é o Dia das Mães, quando os pedidos chegam a 15 mil apenas na semana anterior à efeméride, fazendo as vendas mensais saltarem ao patamar de 40 mil. Outras datas de grande movimento são o Dia dos Namorados, em junho, e o Dia da Mulher, em março. Só em rosas, são mais de 3 milhões por ano.
Várias estratégias ajudaram a empresa a chegar a esses números floridos. Uma delas foi esticar o catálogo de arranjos de flores para outros presentes, como chocolates, perfumes, pelúcias, vinhos e cervejas. Para tanto, a Giuliana tem parcerias com várias marcas, como Godiva, Lindt, Kopenhagen, Havanna, Amor aos Pedaços, Ofner, Valmir Rodrigues & Gazola – Alta Confeitaria, Chandon, Salton, Erdinger, Guinness, Granado, Vyvedas e The Gourmet Tea.
Outro pulo do gato é o alcance das entregas: com o suporte de cerca de 400 floriculturas locais, a loja online alcança praticamente todo o Brasil. Graças ao azeitado esquema logístico, a empresa promete entregas em até três horas em todos os seus destinos, e em 1 hora na Grande São Paulo. Recentemente, a floricultura criou ramificações no exterior: começou a fazer envios para os principais países dos cinco continentes.
A crise não chega a murchar o ânimo de Souza. Pelo contrário: “Quando o país está numa boa, as flores passam a ser o segundo produto: o cliente compra um presente e as flores são um complemento. Mas, quando a situação econômica não está bacana, as flores passam a ser o presente principal”.
FICHA TÉCNICA
SEDE: São Caetano do Sul (SP)
CRIAÇÃO: 1990
FUNDADOR: Clóvis Souza
SÓCIOS: não tem
FUNCIONÁRIOS: 120
FATURAMENTO: não informado
MAZZAFERRO
Ela fisgou o mercado de linhas de pesca
Nello Mazzaferro chegou ao Brasil em 1949. Vindo de uma Itália destruída pela Segunda Guerra, o jovem procurava no Brasil a chance de uma vida digna. Trabalhou em vários lugares até que, em 1953, criou uma pequena empresa de transformação de plástico que levava seu sobrenome. Hoje, a paulista Mazzaferro é a maior produtora de linhas de pesca do país – e uma das maiores do mundo.
“Nem sempre foi fácil, já tivemos altos e baixos nesses mais de 60 anos de história”, afirma Maurízio Mazzaferro, filho de Nello e atual responsável pelo setor de pesca da empresa. “Atingimos o auge nos anos 1960 e 1970. Em 1980 passamos por sérios problemas, como boa parte dos negócios do Brasil na época.” Perto da falência e afundada em dívidas, a companhia começou a dar a volta por cima no meio dos anos 1990. Com a aposentadoria do fundador em vista, a família decidiu profissionalizar a gestão.
Em 2000, a Mazzaferro criou um conselho consultivo e, finalmente, separou os cargos de CEO e chairman. Hoje, a fabricante é uma empresa familiar sui generis, como Maurízio costuma dizer. Os quatro herdeiros de Nello dividem uma fatia de 53%, e o resto é pulverizado entre primos e outros familiares.
Com o novo planejamento, a empresa tornou-se uma gigante em transformação de plástico. “Na parte da pesca, só há uma empresa no mundo, nos Estados Unidos, que compete conosco”, afirma Maurízio. Para atender à demanda, a Mazzaferro tem duas fábricas na Grande São Paulo e um centro de distribuição em Manaus, responsável pelos produtos fabricados na China – uma parceria iniciada em 1994. “O mercado brasileiro enfrenta uma frequente perda de competitividade de base industrial. Às vezes o câmbio ajuda, mas o país, não: a legislação é complexa, o custo trabalhista é elevado, a energia elétrica é um ponto de interrogação…”, reclama o executivo. “Tivemos de optar pela Ásia, o que, infelizmente, reflete a falta de confiança que temos no Brasil.”
Embora seja uma empresa de transformação de plástico, que produz de vassouras a utilidades cosméticas, é a área de pesca que dá as cartas na Mazzaferro. Responsável por 70% da receita e um faturamento de R$ 100 milhões em 2016, o setor cresceu tanto que tornou-se praticamente uma empresa diferente, com CNPJ próprio, comandada por Maurízio, enquanto seu irmão mais novo, Cláudio, cuida das outras áreas.
No exterior não está só o futuro da produção da Mazzaferro. O grupo ítalo-brasileiro, que começou a exportar nos anos 1960, vislumbra o crescimento de clientes além das fronteiras nacionais. Hoje exporta para mais de 50 países, responsáveis por 30% da receita, e o objetivo é aumentar essa fatia para 50% nos próximos cinco anos.
FICHA TÉCNICA
SEDE: Diadema (SP)
CRIAÇÃO: 1953
FUNDADOR: Nello Mazzaferro
SÓCIO: família Mazzaferro
FUNCIONÁRIOS: 360
FATURAMENTO: R$ 100 milhões