A transferência do atacante Neymar para o Paris Saint-Germain faz pouco sentido comercial para o clube francês e pode ter suas raízes na situação política do Catar, segundo especialistas.
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O PSG, de propriedade do Catar, pagou € 222 milhões para levar o brasileiro do Barcelona para a capital francesa, em uma transferência que também aparenta fazer pouco sentido para o jogador, em uma perspectiva futebolística.
É a primeira vez que uma transferência recorde mundial foi dobrada, já que a transação de Paul Pogba da Juventus para o Manchester United, no ano passado, era, até então, o recorde: € 105 milhões.
O PSG ativou uma cláusula de compra ao invés de negociar uma típica quantia de transferência para Neymar, e embora torcedores do clube francês estejam encantados com a contratação de um dos melhores jogadores do mundo, o dinheiro investido no brasileiro tem pouca chance de ser recuperado.
Nenhuma quantidade de vendas de camisas ou ingressos pode arrecadar este montante gasto pelo PSG ao ativar a cláusula contratual ou gasto no gigante salário do brasileiro, relatado pela mídia francesa como sendo em torno de € 550 mil por semana. “Para o clube de futebol isto não faz qualquer sentido comercial”, disse o especialista em finanças do futebol Rob Wilson, da Universidade Sheffield Hallam. “Não importa de quantos ângulos diferentes olharmos para isto, eu não consigo ver como o clube de futebol pode ter qualquer aumento em vendas suficiente para cobrir a quantia de transferência, muito menos todo o pacote. A performance esportiva é uma questão diferente, mas eu não posso ver como eles podem ter qualquer retorno decente no investimento de qualquer modo”, acrescentou.
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Quase todas as transferências recordes anteriores foram de jogadores se mudando para um clube maior ou de mais sucesso, mas, neste caso, Neymar está se juntando a um clube com menos história e menor presença na elite do futebol.
O Barcelona, 24 vezes campeão espanhol e fundado há 117 anos, é cinco vezes campeão europeu. O PSG, fundado em 1970, nunca sequer chegou à final da Liga dos Campeões.
Ainda assim, o PSG, propriedade da Qatari Sports Investments, apoiada pelo Estado do Catar, tem afirmado publicamente o objetivo de conquistar a Europa desde a compra do clube em 2012.
O investimento pesado no clube foi recompensado com quatro títulos seguidos da Liga Francesa, até a temporada passada, quando o clube ficou em segundo lugar, atrás do Monaco.
AFIRMAÇÃO POLÍTICA
Na Europa, no entanto, o sucesso tem sido difícil. No ano passado, o PSG saiu da Liga dos Campeões nas oitavas de final, após deixar escapar uma vantagem de 4 x 0 na partida de ida ao perder por 6 x 1 para o Barcelona no Camp Nou, com Neymar marcando dois gols.
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O atacante brasileiro deve melhorar o PSG, mas ser bom o suficiente para transformar a equipe em um time capaz de vencer Barcelona, Real Madrid e Bayern de Munique é outra questão.
O fato de o Catar estar atualmente envolvido em uma disputa diplomática e econômica com quatro Estados árabes, incluindo Arábia Saudita, levanta perguntas sobre se há um aspecto político para o acordo, segundo o professor Simon Chadwick, da Universidade de Salford.
Chadwick, que tem observado de perto a aproximação de “poder brando” do Catar no esporte, acredita que o grande interesse no acordo pode ser em um bom momento para o Estado do Golfo, que tem sido acusado por seus adversários de apoiar organizações terroristas. Doha nega as acusações.
“A transferência de Neymar para o PSG, embora benéfica para o clube francês, pode ser motivada por uma afirmação política e a influência de poder brando que deve ter. Em um momento em que países como a Arábia Saudita querem que o mundo esteja falando do Catar em tons negativos, Doha se tornou um foco da maior história do ano no esporte favorito do mundo”, afirmou.
O Catar é a sede da Copa do Mundo de 2022.
Em termos mais concretos para torcedores do futebol, a vontade do PSG em pagar tal quantia pode levar a uma série de acordos de muito dinheiro pelo continente.
O Barcelona rapidamente estará sob pressão de seus torcedores para trazer um substituto de peso para Neymar e foi associado pela mídia espanhola com outro brasileiro, o meia Philippe Coutinho, do Liverpool.