Ao longo do último ano, em particular, a Amazon tem parecido cada vez mais intocável. O grande portfólio de serviços da empresa – cartões de crédito, “Prime Day” (dia de compras exclusivos para membros do programa “Prime”), serviços de nuvem, séries de televisão e venda de livros – cresceu ainda mais com o recente anúncio da aquisição da rede de supermercados de produtos naturais Whole Foods.
VEJA TAMBÉM: Amazon vai comprar Whole Foods por US$ 13,7 bilhões
No entanto, há um outro produto da marca que merece tanta atenção quanto os citados anteriormente: o Amazon Lending. Nos últimos 12 meses, o programa de crédito emprestou mais de US$ 1 bilhão para pequenas empresas da sua comunidade de negócios. Desde 2011, quando o serviço foi lançado, já foram destinados mais de US$ 3 bilhões em pequenos empréstimos para mais de 20 mil vendedores da Amazon nos Estados Unidos, Reino Unido e Japão.
“Sabemos que uma injeção de capital no momento certo pode colocar um pequeno negócio no caminho para se tornar um grande sucesso”“Nós criamos o Amazon Lending para tornar simples para pequenos negócios conseguir um empréstimo, porque sabemos que uma injeção de capital no momento certo pode colocar um pequeno negócio no caminho para se tornar um grande sucesso”, disse Peeyush Nahar, vice-presidente de mercado da Amazon. “Pequenos negócios estão no nosso DNA. A Amazon está oferecendo capital para ajudá-los a expandir seu inventário e suas operações em um período crítico do crescimento. Nós entendemos que um pequeno empréstimo pode fazer uma grande diferença.”
Em um sistema que funciona apenas por meio de convites, a Amazon oferece empréstimos de curto prazo que vão de US$ 1.000 a US$ 750.000 para micro, pequenos e médios negócios que vendem produtos na sua plataforma. A empresa não revela as taxas de juros, mas elas tendem a ser menores do que as dos cartões de crédito.
Comerciantes podem ser aprovados para um empréstimo em menos de 24 horas, e normalmente usam os recursos para financiar inventário e expandir o negócio.
Diferentemente de credores tradicionais, que podem exigir longos e burocráticos processos para a concessão de crédito, a Amazon usa algoritmos internos para convidar vendedores a participar do programa, com base na popularidade de seus produtos, nos ciclos de inventário e em outros fatores.
LEIA: Amazon lança rede social de compras para iOS
Os empréstimos são geralmente pagos em menos de um ano, e os devedores usam as vendas geradas na plataforma para pagar a Amazon em parcelas mensais fixas, debitadas da conta Amazon do devedor. Não há taxas de adesão ou multas por pagamentos antecipados.
De acordo com a Amazon, mais de 50% dos pequenos negócios que já contrataram o crédito, solicitam um segundo empréstimo.
E não são só os pequenos vendedores que se beneficiam. O negócio oferece diversas vantagens para a gigante do comércio eletrônico. Além da mais óbvia – o dinheiro gerado pelos juros – , os vendedores terceirizados podem vender mais produtos, o que aumenta as comissões da Amazon (já que a empresa fica com uma parte da receita). Para completar, a companhia ganha com os serviços extras que presta a eles, como armazenamento, embalagem e entrega. Quanto mais vendas, mais rendimentos também com estes serviços. E, por fim, a Amazon pode mitigar os riscos do crédito concedido ao acessar seus próprios dados em tempo real e as críticas dos consumidores sobre os negócios do vendedor.
Apesar de o serviço representar uma parte relativamente pequena dos negócios atuais da companhia, é válido questionar se a Amazon pretende aumentá-lo a ponto de se parecer mais com um banco do que com um varejo online.
De acordo com uma pesquisa feita com 32.715 pessoas em 18 países pela empresa de consultoria Accenture, 31% delas mudariam para Google, Amazon ou Facebook para contratar serviços bancários – caso estas empresas os oferecessem.
E MAIS: 4 países onde a Amazon mais impacta os hábitos de compra dos consumidores
Em outro estudo, a empresa de pesquisas CB Insights descobriu que a Amazon tem 86% de satisfação de clientes – enquanto o Citi tem 82%, o Capital One 80%, o TD Bank 79% e o Bank of America e o Chase 75%.
A crise financeira fez com que muitos bancos tradicionais diminuíssem os empréstimos para pequenos negócios, o que deu forças a fontes alternativas de capital. Empresas como PayPal e Square usam dados de seus negócios de pagamento para oferecer opções de crédito a comerciantes que poderiam não ter acesso às formas tradicionais de empréstimo. Juntas, as duas empresas emprestaram bilhões de dólares a comerciantes em suas respectivas plataformas
O potencial de uma expansão para serviços financeiros levanta diversas questões. Em primeiro lugar, o negócio bancário ainda é muito ligado ao contato humano. A Amazon poderia replicar seu modelo de negócios, baseado na “obsessão dos consumidores”, para os serviços financeiros?
O Whole Foods vai representar uma grande entrada no negócio de lojas físicas. Se a Amazon expandir seu negócio de crédito para outros produtos financeiros, consideraria criar agências bancárias físicas? Os vendedores da Amazon querem diversificar sua dependência da empresa e buscar formas alternativas de financiamento, ou preferem ter um único lugar para vender, emprestar, administrar inventário, embalar e entregar?
Independentemente das incertezas em relação ao futuro do serviço, o Amazon Lending é algo no qual devemos prestar atenção, pois pode ter papel crescente na companhia nos próximos anos.