Em um vídeo, Obderon Basilio caminha pelo albergue de sua família, o Rocinha Guesthouse, localizado na famosa favela carioca, mostrando um pequeno quarto com beliches. O albergue e o outro negócio da família, uma espécie de tour pela comunidade, gera R$ 3.000 por mês na alta temporada. Ao longo de cinco anos, graças aos dois negócios, a família conseguiu enviar a mãe para a Austrália, onde vive o filho mais velho.
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“Nós estamos indo bem. Hoje mesmo chega uma pessoa da Alemanha”, conta Obderon, que cobra US$ 12 por quarto por noite.
Um negócio próspero de hostels em uma favela brasileira é um exemplo de duas forças poderosas que se unem nos limites das grandes cidades: a mudança da população dos campos para as regiões urbanas e o aumento da tecnologia, que está empoderando as pessoas com informação e comunicação. Pessoas que não têm onde morar acabam em favelas nas periferias das grandes cidades do mundo. Estas comunidades acabam cumprindo a tarefa de servir como um meio de transição para a vida na cidade.
A tecnologia facilita o mapeamento da terra, o que, provavelmente, é a chave para elevar o status dos moradores de favelas a longo prazo, pois isso poderia dar a eles acesso à capital. Mas um outro resultado da tecnologia – internet e avanços em conectividade – é o empreendedorismo.
O Facebook, que muitas vezes não é visto como uma empresa forte em responsabilidade social, foi rápido em reconhecer o potencial das comunidades. O empreendedorismo que existe nelas já havia sido detectado antes – você talvez se lembre das histórias da Copa do Mundo no Brasil, quando turistas optaram por acomodações nas comunidades quando se depararam com hotéis esgotados.
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Mas você talvez fique curioso sobre a história por trás da história – a presença do Facebook nas favelas é algo incomum para a empresa, que até administra alguns programas de treinamento de empreendedorismo, mas, às vezes, é criticado por não fazer o suficiente e por não ter ações muito práticas. Acontece que essa história no Rio aconteceu, em grande parte, graças a uma mulher, Camila Fusco, e sua equipe, exemplos de como pessoas envolvidas com uma causa podem fazer a diferença mesmo dentro de uma corporação.
Cerca de 12,3 milhões de pessoas vivem em, aproximadamente, 1.000 favelas no Brasil. “Quatro a cada dez pessoas que vivem em uma comunidade querem empreender”, diz Camila, chefe de empreendedorismo do Facebook. Como jornalista – sua carreira antes de entrar na empresa -, ela tinha visto, em primeira mão, como são as pessoas empreendedoras das favelas.
“Na época, por volta de 2007, eu passei várias semanas aprendendo como a conectividade realmente era usada nas lan houses localizadas nessas áreas”, conta. A conectividade nas favelas foi melhorando como resultado de redes locais de Wi-Fi, mas Camila lembra do interesse das pessoas de ficarem online.
Posteriormente, durante um evento da indústria, quando já trabalhava no Facebook, um morador da favela apareceu querendo comprar anúncios na rede social – com dinheiro vivo. Camila então propôs a seu chefe, Dan Levy, que a empresa criasse um programa para ajudar empreendedores a começar um negócio ou expandir os já existentes.
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“Nós acreditamos no poder transformador da educação e da tecnologia e utilizamos isso como base da nossa abordagem, sempre com uma coisa em mente: ajudar pequenas e médias empresas a encontrarem o sucesso”, diz. Cerca de 9 a cada 10 empreendedores entrevistados na favela já estavam no Facebook, mas menos de 50% deles conheciam as ferramentas específicas para os negócios.
Os resultados do programa de Camila já são muitos: um laboratório de inovação em uma favela, que oferece treinamento de ferramentas do Facebook e habilidades empreendedoras, e os laboratórios móveis que prestam serviços semelhantes e podem se locomover e atender várias comunidades. Até agora, o programa já treinou 2.000 pessoas nos laboratórios fixos e 4.200 pessoas nos móveis.
O impressionante neste caso é o quão instantâneo é o poder econômico. Camila afirma que conheceu um empreendedor do ramo de eventos que investiu US$ 5 para impulsionar seu post no Facebook e, como resultado, fechou duas festas por US$ 5.000. O Facebook é especialmente poderoso para pequenos negócios de e-commerce, afirma Dan Levy. Eles podem criar um circuito fechado, pois existe uma conexão direta entre publicidade e vendas. Os algoritmos ajudam a encontrar os potenciais consumidores e mostram os melhores anúncios para alcançá-los.
O Rocinha Guesthouse, por exemplo, tem uma página na web e no Facebook, onde é possível assistir a um vídeo produzido pela plataforma sobre a história deles, e um feed do Instagram com muitas fotos.