O que é preciso para se tornar um bom CEO? Na lista de FORBES Brasil dos melhores CEOs do país em 2017 há executivos com as mais diferentes trajetórias, idades, setores de atuação e formação. Há, no entanto, uma característica que todos têm em comum: eles inspiram suas equipes. Esse é o atributo mais importante de todos, segundo especialistas das escolas de negócios mais respeitadas do país.
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Parece fácil? Não é. Para chegar ao mais alto cargo de uma grande empresa nacional ou internacional e, uma vez lá, fazer a diferença, é preciso somar uma série de atributos objetivos e subjetivos sem deixar de se atualizar em relação aos mercados interno e global – e ainda dedicar um tempo aos estudos.
“Um CEO tem de ter uma visão ampla, global”, afirma Vicente Ferreira, diretor do Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Não se pode mais administrar uma empresa sem enxergar como o seu setor se movimenta no mundo, que tendências internacionais afetam o mercado interno. Prender-se ao Brasil é como olhar a árvore e não ver a floresta.”
“É preciso estar antenado”, afirma James Wright, coordenador do Profuturo, da Fundação Instituto de Administração (FIA). “Sempre brinco que o dono da padaria está concorrendo com o McDonald’s e é verdade.” Tales Andreassi, vice-diretor da FGV-Eaesp, vai pelo mesmo caminho. “A economia é absolutamente integrada, é preciso ter a capacidade de vê-la como um todo. As novidades muitas vezes não nascem nos concorrentes, mas em outros setores.” Os exemplos são fartos: a Apple mudou a indústria musical; o Netflix, a cinematográfica; o Uber, a automotiva.
“Um CEO tem de saber solucionar problemas enquanto gerencia o risco”, afirma Roberto Pedote, vice-presidente de pós-graduação do Insper. “É preciso ter um olhar interessante, que se sobressaia. Isso mostra competência.” Como se manter à frente, então? A resposta é conhecida: tudo começa pela educação. Não à toa, os cursos de Master of Business Administration, os populares MBAs, têm se espalhado pelo país à medida que a procura por especialização no meio corporativo vem crescendo.
“Às vezes, há pessoas que se conectam bem, mas não têm conteúdo. As boas escolas colocam o aluno em situações para que aprendam a fazer networking, tragam conhecimento, ajudem a liderar e a se comunicar”, afirma Andreassi. O foco é sempre expandir as fronteiras – no sentido figurado e no literal. Um dos MBAs oferecidos pela FGV, por exemplo, leva os alunos para estudar em cinco países diferentes durante dois anos. Na FIA, por sua vez, todos os cursos têm de uma a três viagens internacionais. “É preciso conhecer diferentes culturas, diferentes pessoas. Os empreendedores na China falam que os brasileiros pensam em um mercado de 200 milhões, enquanto eles pensam em um mercado de 7 bilhões”, afirma Wright.
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O aumento pela procura dos cursos de especialização é reflexo da profissionalização das empresas no Brasil. As companhias têm focado cada vez mais em formar um quadro executivo técnico e preparado. “À medida que as empresas amadurecem, as transações ficam mais complexas. Já não é mais possível ter pessoas nos altos cargos que não tenham conhecimento técnico”, afirma Ferreira. “Ao contratar um executivo profissional, a empresa terá uma visão externa especializada, e isso contribui para qualquer estratégia”, avalia. “Quando você vai abrir capital na Bolsa, por exemplo, tem de haver toda uma estrutura de governança. É altamente indicado ter um profissional preparado à frente disso”, afirma Andreassi.
Essa filosofia vai de encontro a uma tradição antiga no Brasil: a de empresas familiares fechadas. “Já vimos muitas quebrarem por não se profissionalizarem. Acabam presas e atrasadas. Além disso, manter a companhia fechada à família muitas vezes desmotiva os bons funcionários. Fica a sensação de ‘nunca vou chegar lá’”, diz o vice-diretor da FGV-Eaesp.
As empresas começaram a entender isso. Não só procuram por bons profissionais como estimulam seus melhores funcionários. Segundo a pesquisa CEO Outlook Brasil 2017, da KPMG, desenvolvimento e gestão de talentos é uma das cinco prioridades entre os altos executivos no Brasil nos próximos três anos. Prova disso é que tem aumentado o número de companhias que pagam cursos de especialização e MBA para seus funcionários. “O recurso mais escasso para uma empresa é gente talentosa”, afirma Ferreira. “Todo o investimento feito por elas se paga muito rapidamente. Com um bom profissional, você consegue fazer qualquer coisa, levar a empresa para onde quiser.”
Há cursos para os mais diferentes gostos, bolsos, culturas e objetivos. Mas é preciso tomar cuidado na hora de escolher. “Não basta se atualizar, é preciso saber o que você está aprendendo. Tempo é, de longe, nosso recurso mais escasso e precioso”, argumenta Ferreira. “As boas escolas entregam uma estrutura de ponta com informações atualizadas.”
“Os executivos têm de fazer cursos de padrão internacional. O problema é que o Brasil parte de um patamar limitado. Embora o nível geral dos cursos venha subindo, o mercado é mal regulado, e o Ministério da Educação estabelece um patamar baixo”, alerta Wright.
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O coordenador da FIA orienta os interessados a, antes de se matricularem, prestar atenção no programa, ver os envolvidos no projeto e, de preferência, checar se ele tem credenciamento internacional e se faz parte da Associação Nacional de MBA (Anamba). “Mas o mais importante é ter claro qual é o seu objetivo com o estudo, se é tornar-se um CEO ou se é ter um título de especialização. Há oferta para tudo, é preciso saber o que você quer antes de escolher”, ensina.
Aprender é um processo contínuo. O diretor do Coppead sugere a dedicação de cerca de 100 horas/ano para formação e atualização profissional. “Chega-se a um determinado ponto da carreira em que fazer um curso longo não faz sentido, porque haverá muitas informações repetidas. Por isso as escolas começaram a oferecer cursos menores, chamados de pós-MBA”, explica Ferreira.
E DEPOIS?
O ensino é uma parte – fundamental – da preparação, mas é só o começo. Para Ricardo Vasques, diretor acadêmico da Adtalem Educacional Brasil, dona do Ibmec e DeVry Brasil, a formação de um bom profissional constitui-se da união de três características: conhecimento, experiência e atitude. “Bagagem baseada em um bom ensino e colocada em prática por uma atitude de liderança é o ciclo virtuoso que toda empresa procura.”
Pedote, do Insper, também considera a soma do aprendizado com a experiência um dos aspectos mais valiosos em um executivo. “Uma boa educação, com cursos de excelência, já é pré-requisito, só isso não basta. Na hora de aprender, também é bom contar com a experiência dos macacos velhos”, afirma.
“Um bom CEO tem de ter uma agenda produtiva: sempre procurar pela solução, ter vontade de aprender, fugir da zona de conforto, procurar acrescentar para as pessoas ao seu redor”, afirma Vasques. “E ser humilde. Soberba é um dos principais erros cometidos por altos executivos, é o oposto de determinação.”
Saber tratar as pessoas diferencia uma boa performance de uma excelente performance. “O mundo está mudando, não basta dar ordens”, continua o especialista. “É preciso saber liderar o grupo de forma inovadora.”
DUAS PALAVRAS
Outro consenso entre os especialistas é a dualidade liderança-inspiração. “O maior trunfo de um CEO é inspirar pessoas”, afirma Ferreira. “Para levar a empresa a outro patamar, ele tem de ser um líder, não um patrão”, completa Andreassi.
O que define “liderança”? Para o vice-diretor da FGV, ela é a união de conhecimento técnico, comunicação e inspiração. “Conhecimento é imprescindível, mas muitos o têm e não ‘chegam lá’. O que muda é o quanto você inspira, é seu carisma.”
E não há como inspirar sua empresa e seus funcionários sem ser um exemplo. “É imprescindível ter clareza daquilo que você está a serviço. Não gosto muito da palavra ‘objetivo’, prefiro ‘norte’, pois é preciso saber para onde você vai, para onde quer ir, mesmo que não seja um ponto específico”, afirma Pedote.
Em tempo de crise, as empresas precisam mais do que nunca desse norte. De acordo com a 20ª pesquisa global da PwC, feita com 1.379 CEOs de 79 países e divulgada em janeiro deste ano, em 2011 o Brasil era o terceiro país mais procurado por empresas do mundo para investir, atrás de Índia e Estados Unidos. Quase 20% dos executivos escolhiam terras brasileiras como segunda opção de investimento, depois do país-sede. Em 2017, esse número caiu para 7%. “Frente à crise, algumas coisas mudaram. Antes, a principal preocupação das empresas era preparar uma boa sucessão e achar locais para investimento. Hoje, é cortar custos”, afirma Vasques. “Quando a maré subir, quem estiver mais preparado terá as melhores chances de crescer.” A hora de começar a se preparar é agora.