Manter a Embraer na rota da inovação. Foi com essa responsabilidade que Paulo Cesar, 61, assumiu a presidência da fabricante brasileira de aeronaves em julho de 2016. E, apesar do pouco tempo, não decepcionou. Deu continuidade aos programas de desenvolvimento de novos produtos que agora estão prestes a conquistar seu lugar no mercado. O executivo foi, por isso, o único brasileiro a figurar na lista Global Game Changers de FORBES USA, que apresenta os CEOs e os empreendedores que revolucionam o mercado em que atuam.
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“A Embraer é uma empresa de alta tecnologia inserida em um setor do qual apenas alguns países ricos têm o domínio da tecnologia”, reagiu o executivo ao ser informado sobre a escolha de FORBES. A declaração de Paulo Cesar mantém a linha de seus antecessores: reconhecer a capacidade e trabalho da equipe de engenheiros para o sucesso da companhia fundada em 1969 em São José dos Campos (SP). O trabalho em equipe, no entanto, não esconde as qualidades e o poder de decisão do CEO. Economista, iniciou a carreira no setor financeiro, em São Paulo, e foi trabalhar em instituições europeias após fazer um mestrado no Velho Continente.
Hoje a Embraer é a terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo, atrás de Boeing e AirbusEm 1997, ingressou na área financeira da Embraer. “É um setor importante para a venda do avião”, relata, sobre o primeiro cargo. Em 2009, assumiu a presidência da aviação comercial, cujo trabalho levou ao aumento da participação da empresa no mercado de aviação.
ESTRATÉGIA CERTEIRA
A inovação está no DNA da Embraer desde sua fundação. Após a crise nos anos 1980 e 1990, que quase a levou à falência, essa estratégia foi reforçada, com maior enfoque em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos na aviação comercial e executiva. Atualmente, investe 10% do faturamento (de US$ 6 bilhões) nisso. A estratégia fez a empresa “arremeter”. Hoje a Embraer é a terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo (atrás somente das gigantes Boeing e Airbus) e lidera no segmento de aviões com até 130 assentos. Além disso, é uma das principais fabricantes de aviões executivos do mundo, com o jato Phenom 300 sendo líder de vendas nos últimos quatro anos. E está prestes a lançar novos produtos que podem revolucionar o mercado, como a aeronave comercial E195-E2 e o cargueiro militar KC-390. O E195-E2 foi concebido no programa de desenvolvimento de novos jatos iniciado em 2013. “Ouso dizer que esse é o melhor programa que a Embraer fez em sua história”, afirma Paulo Cesar. “Ele sim é um game changer.”
O respeito ao planejamento de desenvolvimento dos novos aviões é apontado por ele como um diferencial da fabricante brasileira em relação aos concorrentes. Segundo o executivo, os jatos do programa E2 estão dentro do cronograma e do orçamento, em um setor em que são comuns os atrasos e o encarecimento dos projetos. O novo avião, que vai substituir o E195, vai ter um consumo de combustível menor (16% em relação ao antecessor), mais assentos disponíveis (146 contra 120), redução de peso, novos motores e um custo operacional 24% menor – semelhante ao de aviões maiores, como o A320 (Airbus) e o 737-800 (Boeing). Os compradores do E195-E2 podem ter aviões maiores na mesma rota, o que vai possibilitar aumentar a oferta de voos e a rentabilidade. “A previsão da primeira entrega é no primeiro semestre de 2018”, diz. Na 52º Paris Air Show, feira do setor realizada em junho, dez dos 18 pedidos firmes – que equivalem a um pedido de compra – foram para o E2.
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CAMALEÃO MILITAR
Após o sucesso na aviação comercial e executiva, a empresa aumentou os investimentos no setor militar, com o desenvolvimento do cargueiro KC-390. O avião militar atende ao pedido da Força Aérea Brasileira (FAB), que vai substituir o Hércules C-190. A primeira das 28 unidades demandadas pela FAB também vai ser entregue no primeiro semestre de 2018. O KC-390 segue as especificações do C-190: um veículo multimissão de médio porte, ou seja, com capacidade de realizar missões diferentes a partir de reconfigurações do avião. Será possível, por exemplo, transportar paraquedistas ou carga – ou carregá-lo com água para combater incêndios. E com uma vantagem em relação ao Hércules: a reconfiguração para as diferentes missões é mais rápida.
Além disso, o KC-390 estará em um segmento em que o C-190 será seu único concorrente, credenciando a companhia brasileira a vender o equipamento a outras Forças Aéreas. A Embraer pode ser uma das poucas fabricantes de aviões militares a celebrar um contrato com um governo estrangeiro antes de comercializá-lo em seu próprio país – Portugal e um país do Sudeste Asiático não revelado estão em “conversas avançadas”, segundo o executivo. Por fim, a Embraer é parceira da sueca Saab para o desenvolvimento e produção dos caças Grippen, escolhidos pelo Ministério da Defesa brasileiro. A primeira unidade deve ser entregue à FAB em 2019.
DISRUPÇÃO
Já na gestão de Paulo Cesar, a empresa começou a sobrevoar o ambiente das inovações disruptivas. Este ano, inaugurou o Centro Embraer de Inovação nos Negócios, na Flórida, com o objetivo de ser um intermediário entre as equipes da companhia e os ecossistemas de startups de Boston e do Vale do Silício. Um dos frutos dessa iniciativa é a participação brasileira na proposta do Uber de desenvolver um veículo de transporte aéreo urbano.
UBER VOADOR
Após revolucionar o mercado de transporte individual de passageiros em terra, o Uber tem planos mais audaciosos do que a já anunciada implementação de veículos autônomos. A companhia lançou, em abril, o ecossistema Uber Elevate, que pretende estabelecer as diretrizes para a construção de um veículo de transporte aéreo urbano e desenvolver os equipamentos e as regras para o sistema de tráfego.
O veículo deve ser elétrico, silencioso, com direção autônoma e realizar pousos e decolagens na vertical.
A Embraer é a maior empresa aeronáutica a participar do projeto. “A empresa entrou para entender melhor a proposta e decidir se terá uma participação mais efetiva”, explica Paulo Cesar. O plano da Uber é realizar o primeiro voo em Dubai, durante a Expo 2020, e iniciar as operações comerciais em 2023.