A Cargill fechou a primeira compra de uma empresa no segmento de nutrição animal no Brasil. A iniciativa faz parte da estratégia de investimentos para expansão orgânica e novas aquisições em um mercado que cresce a uma taxa de 3% a 5% ao ano no país, embalado pela força da indústria do maior exportador de carnes de frango e de bovinos.
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O acordo anunciado nesta sexta-feira (27) envolve a compra de 100% dos ativos da Integral Nutrição Animal, incluindo fábrica localizada em Goianira, nas proximidades de Goiânia, e um portfólio de produtos da empresa, cujo foco é a produção de sal mineral, alimento bastante consumido pelo gado de corte em uma região que é uma das principais produtoras de bovinos do Brasil. O valor do negócio não foi revelado.
Com a aquisição da Integral, que tem faturamento de R$ 80 milhões por ano, a Cargill Nutrição Animal avança no mercado de alimentos para bovinos de corte no qual quer ser uma das líderes, posição que a empresa já ocupa na comercialização de suplementos minerais e premix vitamínicos para a ração de bovinos de leite, aves e suínos.
A compra da Integral dobra a participação da Cargill no segmento de sal mineral para gado de corte, para apenas 2%, em um mercado no Brasil ainda bastante pulverizado, com muitas empresas regionais e de pequeno porte, suscetíveis a novas investidas da gigante global do agronegócio.
“O nosso crescimento passa não só por crescimento orgânico. Passa por aquisições. [Com a compra da Integral], estamos dando vida ao nosso plano estratégico, buscando crescer no segmento de bovinos de corte”, afirmou o diretor-geral da Cargill Nutrição Animal no Brasil, Celso Mello, em entrevista à Reuters, que obteve a informação sobre a transação antecipadamente.
Se essa fatia de mercado em bovinos de corte ainda é relativamente pequena, a aquisição da companhia no Centro-Oeste permite que a unidade brasileira da multinacional norte-americana coloque os pés em uma região com forte produção de gado de pasto (predominante no país), que complementa sua alimentação com o sal mineral.
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A Integral atua ainda em Tocantins, Mato Grosso e Pará, que estão entre os grandes produtores de bovinos do país.
“Queremos ser um player relevante no mercado brasileiro. Em bovinos de corte não somos ainda, nos demais (avicultura, bovinocultura leiteira e suinocultura) já somos. Estamos entre as maiores empresas, e em bovino de corte esta é a nossa busca”, acrescentou o executivo, que é agrônomo de formação e trabalha no negócio da Cargill há 22 anos, o tempo de existência da marca da empresa de nutrição animal no mercado, a Nutron.
O executivo não revelou o tamanho do mercado de nutrição animal que a Cargill detém nos segmentos de avicultura e suinocultura, fortes demandantes de complementos vitamínicos, produzidos também nas fábricas da empresa de Toledo (PR) e Chapecó (SC), grandes produtores de carnes.
Para Mello, a aposta em nutrição animal ocorre porque esse setor no Brasil tende a crescer ainda mais, uma vez que o país tem uma indústria de carnes estruturada, o que dá uma “avenida de oportunidades para o Brasil” avançar na produção do item com ganhos de produtividade e na exportação, diante do crescimento da demanda global por proteína animal.
A maior parte do investimento da Cargill em nutrição animal em 2016 e 2017, que somou cerca de R$ 50 milhões (valor que exclui a aquisição da Integral, não revelado), foi feita em bovino de corte. Somente para a expansão de uma linha de produção de sal mineral na unidade de Itapira (SP) a empresa investiu neste ano R$ 30 milhões.
O acordo anunciado nesta sexta-feira vem na esteira de recentes negócios mundo afora no setor de aditivos alimentares naturais, envolvendo companhias como a Diamond V (EUA), anunciado esta semana, e a Delacon, fechado há cerca de quatro meses.
Se os negócios de trading e processamento de grãos e oleaginosas – que respondem por grande parte da receita líquida bilionária da Cargill – enfrentam tempos de difíceis em um mercado de preços mais baixos e margens menores por grandes safras, o segmento de nutrição animal da multinacional, que fatura R$ 700 milhões por ano no país, apresenta taxas de crescimento anual entre 10% e 12%.
NEGÓCIO COMPLEMENTAR
A aquisição da Integral, uma empresa de 31 anos, disse o executivo da Cargill, ocorreu muito em função de a empresa goiana ter um modo de trabalhar semelhante ao da multinacional, próximo ao cliente. Além disso, acrescentou Mello, a Integral complementará o negócio de nutrição de bovinos da empresa, já que Cargill tem participação relevante em suplementos para a ração do gado confinado. “É um negócio que não tem sobreposição com o que já temos.”
Se os principais concorrentes do setor de trading e processamento da Cargill (ADM, Bunge e Louis Dreyfus, entre outras) não atuam em nutrição animal no Brasil, disse Mello, a empresa tem concorrentes globais no segmento, como a DSM, que adquiriu há alguns anos a Tortuga, líder no mercado brasileiro de nutrição para bovinos.
O acordo entre Cargill e Integral ainda precisa ser aprovado pelas autoridades no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas o executivo não vê problema para obter o aval nos próximos meses, já que a multinacional ainda tem pequena participação de mercado.