Ser empreendedor no Brasil não é uma tarefa fácil, mas isso não significa que no exterior a iniciativa não seja difícil, ainda mais se o empreendedor for negro e tiver a ideia de abrir uma escola de inglês em um país do idioma de William Shakespeare. Mesmo com dificuldades de se comunicar quando chegou em Dublin, Irlanda, Tiago Mascarenhas não hesitou em abrir, em 2009, a Seda College, escola de inglês para não-nativos na capital irlandesa. “Saí de uma cidade pequena e hoje faço negócios em outro país”, reflete o empreendedor.
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Há oito anos no mercado, a Seda já é uma empresa global – com escritórios em 9 países – e foi premiada, por três anos consecutivos, como a melhor escola de idiomas da Irlanda. Passaram pela instituição mais de 20 mil alunos de diferentes nacionalidades, e em 2016 obteve um faturamento de R$ 30 milhões. Além disso, Mascarenhas abriu uma agência de intercâmbio e uma instituição de pós-graduação internacional – este em parceria com a Escola Superior de Negócios (ESUP), de Goiás; e com a Associação Brasileira de Relações Empresa-Cliente (ABRAREC).
“Saí da cidade pequena e faço novos negócios pelo mundo”, reflete sobre as suas realizações.“Trabalho para a democratização do ensino”, diz o empresário, explicando a sua motivação de empreender: eliminar as deficiências do setor educacional brasileiro, que falha, em sua opinião, na formação do jovem para o mercado de trabalho, além da ausência de qualidade combinada com preços elevados. “Investir em educação com qualidade possibilita pessoas, como eu, de aprender e crescer”, diz o empreendedor sobre o acesso de pessoas de baixa renda à educação.
Oportunidade é algo que o jovem do interior de São Paulo não desperdiçou durante os seus 33 anos. Nascido em Votorantim em uma família de baixa renda, fez o ensino básico em escola pública, inclusive o curso técnico de design interiores. Aos 13 anos, recebeu uma bolsa de uma escola técnica privada para jovens carentes em Sorocaba, próxima de Votorantim. “Recebia auxílio da prefeitura de Votorantim, que subsidiava a passagem de ônibus para estudantes”, relembra Mascarenhas. Sem ter condições de realizar o sonho de entrar em uma faculdade de arquitetura, cursou economia em uma instituição de ensino superior privada. Desde os 11 anos trabalha, inicialmente para ajudar na renda familiar, especialmente após que o pai o abandonou, as duas irmãs e a mãe. “Iniciei em um lava-rápido e depois virei garçom, sem abandonar os estudos”, explica sobre conciliar estudos e trabalho.
Após obter trabalhos melhores com o diploma universitário e fazer um curso de MBA, Mascarenhas resolveu ir morar em Dublin depois de fazer um intercâmbio de 2 meses no Canadá. “Não vou nascer e morrer no mesmo local”, disse quando tomou a decisão de sair do Brasil há mais de 10 anos. Mesmo com uma carreira estável, Mascarenhas decidiu sair da zona de conforto e desbravar o mundo. “Não posso voltar atrás”, pensou durante o voo após questionar se as decisões que tomou eram realmente as corretas.
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E o início no país europeu tampouco foi fácil. Com dificuldades financeiras e de entender o idioma, trabalhou como garçom e fez curso de especialização em contabilidade. A aproximação com o mercado de idiomas iniciou quando recomendava cursos para intercambistas não-nativos do inglês. Após três meses em Barcelona fazendo uma especialização em inglês para lecionar, conheceu seu atual sócio e abriram a primeira unidade da SEDA. “Saí da cidade pequena e faço novos negócios pelo mundo”, reflete sobre as suas realizações.
Após o sucesso na Irlanda, Mascarenhas tem planos para o Brasil. A Seda está expandindo os seus escritórios de intercâmbio pelo Brasil e planeja ter 16 escritórios até o fim de 2018. Além disso, está prestes a abrir a primeira escola de idiomas da Seda do Brasil, em São Paulo, no ano que vem, e visa expandir a rede por meio de franquias. E neste ano, abriu a modalidade online, com aproximadamente 120 mil estudantes do mundo todo aprendendo inglês gratuitamente na Internet.
“Se tiver oportunidade, vou mudar a vida de todo mundo”, anseia o empreendedor, que diz que vai atingir parte do seu objetivo quando comprar a grande rede privada de ensino superior do Brasil.