Acumular riqueza é o sonho de bilhões de pessoas. Exige dedicação, disciplina, sacrifícios e um pouco de sorte. Que o digam os bilionários que você vê na edição 53. Uma vez alcançado esse sonho, no entanto, o desafio é outro: a gestão do patrimônio. É imensa a lista de empreendedores que chegaram ao topo, mas não souberam se proteger das intempéries da economia, da sanha dos oportunistas e da própria falta de talento para lidar com o sucesso. Por desconfiança ou desconhecimento, não buscaram a ajuda de quem poderia blindar seu dinheiro.
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Esses guardiões são as gestoras de patrimônio e fortuna, um setor relativamente recente no Brasil, mas que vem crescendo. A menos que você seja um ás do mercado financeiro, a chegada do sétimo dígito em sua conta bancária já é motivo suficiente para procurar uma delas. O valor mínimo de aporte, a propósito, costuma ser de R$ 1 milhão (há casas em que o piso é de R$ 10 milhões).
Apesar da crise, no ano passado houve um aumento de 14,9% no número de clientes em relação a 2015, totalizando 4.193 pessoas e famílias atendidas, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Os clientes se concentram em São Paulo (65,4% dos recursos) e no Rio de Janeiro (19,3%). O volume dos ativos também cresceu, sendo 20,7% maior em 2016 em relação ao ano anterior – totalizando R$ 90,1 bilhões. Destes, 48,1% estavam aplicados na renda fixa (títulos públicos, debêntures etc.), seguidos dos fundos multimercado (24,6%), renda variável/ações de empresas (17,6%), fundos estruturados (7,4%) e previdência (1,8%).
"Haverá dois tipos diferentes de gestão: a baseada em tecnologia e a personalizada", Marc Braendlin, presidente do banco Julius Baer no Brasil
“As instituições já estão criando até segmentos”, explica Leonardo Hojaij, superintendente de private bank do Andbank (banco com sede em Andorra e atuação em 12 países), explicando que há serviços diferenciados para clientes de R$ 1 milhão a R$ 10 milhões, de R$ 10 milhões a R$ 50 milhões e acima de R$ 50 milhões.
Poucas empresas oferecem uma plataforma tecnológica para o cliente administrar seu patrimônio, mas sua inevitável adoção também segmentará o mercado. “Haverá dois tipos de gestão: a baseada em tecnologia e a personalizada”, projeta o suíço Marc Braendlin, presidente do banco Julius Baer no Brasil, administrador da GPS Investimentos. “Tecnologia vai ser commodity. O que vai diferenciar uma gestora será sua capacidade de oferecer boas recomendações”, avalia Hojaij.
Algumas casas oferecem alternativas que não estão ligadas aos produtos financeiros. “Esse cliente de alta renda precisa, também, de suporte na questão de heranças”, diz Hojaij. Existem serviços que lidam com a transferência de riquezas para as gerações seguintes e também com a complicada sucessão em empresas familiares.
NO BRASIL É DIFERENTE
“A riqueza em posse das famílias brasileiras geralmente é de primeira geração”, aponta Braendlin, afirmando que muitos clientes obtiveram seu patrimônio por meio do empreendedorismo. “A tendência é que elas interfiram mais na administração”, completa Hojaij. Esse misto de desconfiança e imediatismo é uma das principais diferenças de comportamento entre o milionário brasileiro e o europeu, onde fortunas estão presentes em inúmeras famílias há gerações – e elas se limitam a checar os números apenas quando a gestora presta contas.
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Outra diferença dos brasileiros é a obsessão pela renda fixa. “Estão acostumados com o retorno elevado proporcionado pelas altas taxas de juros”, explica Braendlin. Por isso, é um desafio para as gestoras buscar diversificar os investimentos dos brasileiros no exterior – outro produto oferecido por essas instituições –, já que o retorno da renda fixa na Europa e nos Estados Unidos é, tradicionalmente, baixo. “É difícil mostrar que não há retorno elevado no exterior, como acontece aqui”, diz o suíço. “O brasileiro está mais propenso ao risco no exterior”, afirma Hojaij, sobre nossa disposição de aceitar investir em renda variável, na qual os riscos são maiores.
“A gestão de patrimônio é de longo prazo”, afirma Braendlin. “O efeito das crises é de curto prazo, um ciclo de geralmente seis meses a um ano, enquanto a gestão de fortunas projeta rentabilidade em um horizonte de cinco a dez anos.” A crise brasileira, no entanto, não segue exatamente esse padrão. Seus efeitos têm durado mais tempo, retardando o ritmo de crescimento de novas riquezas – executivos deixam de ganhar bônus e empresários veem seus lucros minguarem.
SANGUE FRIO
Embora a volatilidade do valor de vários produtos durante a crise provoque insegurança, a rentabilidade das carteiras geridas por profissionais desde 2015 não deu nenhum motivo para pânico. Tanto a renda fixa como a variável apresentaram bons retornos ao patrimônio dos nossos milionários (enquanto que, no exterior, as baixas taxas de juros internacionais impactaram negativamente na renda fixa). Nossas altas taxas de juros favoreceram o retorno nos produtos de renda fixa.
Com a Selic cadente, o rendimento dessa modalidade tende a diminuir, tornando-se um desafio para os gestores – assim como as constantes reviravoltas políticas. Algumas delas, para o bem. “Desde o início do governo do presidente Michel Temer, o mercado teve uma reação bastante favorável”, diz Hojaij. “Cerca de 90% das perdas decorrentes da denúncia da JBS contra o presidente Temer já foram recuperadas.”
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As eleições de 2018, entretanto, podem afetar esse desempenho, na avaliação de Braendlin. Ele acredita que o mercado espera a vitória de um candidato comprometido com uma agenda de reformas. “Caso aconteçam, as reformas tributária e da Previdência serão uma importante contribuição para a performance da renda variável”, explica o suíço.
No meio desse tiroteio de análises, taxas e variáveis, o melhor a fazer é procurar uma gestora sólida, colocar lá seu dinheiro, pensar no longo prazo e manter o sangue frio. Afinal, estamos no Brasil.
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