Apesar de a tensão entre o Ocidente e a Coreia do Norte não ser uma novidade, a situação atingiu recentemente um patamar diferente, principalmente, na relação com os Estados Unidos. O radicalismo de Donald Trump e a postura provocativa de Kim Jong-Un intensificaram uma situação que começou na Guerra Fria, quando as Coreias foram divididas e o Norte se tornou um regime comunista, com o apoio soviético.
O regime autoritário e repressivo combinado à economia frágil influenciou os líderes norte-coreanos a desenvolverem um programa nuclear como forma de obter recursos e segurança. O resultado, depois de uma série de testes nucleares desde 2006, é a atual situação de tensão em que o país se encontra, sob ameaça de intervenção militar dos EUA.
Tudo isso é amplamente debatido, assim como os possíveis efeitos que uma guerra entre os dois países teria. No entanto, pouco se fala sobre os efeitos econômicos de um conflito.
O pesquisador da Unicamp Alcides Perón, especialista em economia de guerra, afirma que um conflito entre os dois países seria benéfico para a economia norte-americana. Durante períodos de conflito armado, há um esforço natural para produzir novas tecnologias e, assim, enfrentar o inimigo. Ou seja, muitas das principais inovações da história foram criadas em contexto de exceção, no qual havia autorização para mobilizar recursos. Por meio de um processo batizado de spin-off, muitas das tecnologias desenvolvidas para a guerra acabaram adaptadas para o setor civil.
Um aparato nuclear, como o atual, poderia gerar ainda mais transbordamentos, segundo Perón. O especialista afirma que os usos militares condicionam o emprego dessa tecnologia à produção de bomba atômica, mas há muitas possibilidades de emprego civil do recurso, sobretudo na produção de energia. “Existe uma dependência, uma cadeia que se desenvolve, graças a essa tecnologia. Portanto, quando se fala da iminência de uma guerra ou de um conflito, as ações das empresas relacionadas a ela disparam”, explica.
“Em 2001, depois dos acontecimentos do 11 de Setembro, houve uma queda histórica nas ações da Bolsa. Porém, quando as intervenções foram anunciadas, primeiro no Afeganistão e depois no Iraque, os papéis dessas empresas deram um salto. Isso porque elas iriam, por causa da guerra, começar a produzir muito para atender às necessidades de um conflito que não tinha data para terminar”, diz Perón. Segundo o pesquisador, portanto, as guerras, diferentemente do que se pensa (ou se pensava no início do século 20), não freiam necessariamente o processo econômico e não causam uma estagnação na economia mundial.
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No que diz respeito à Coreia do Norte, diz Perón, a análise é mais complicada devido à falta de dados. “Na economia norte-coreana, o efeito é mais restrito, já que não é um país capitalista, que depende dos conflitos e está inter relacionado com eles. Nos Estados Unidos a economia está relacionada à guerra.”
No país asiático, segundo Perón, o que se pode verificar com clareza são os efeitos políticos que a posse de armamentos nucleares gera. “A tecnologia nuclear não é uma arma de guerra, mas ela dá poder a quem a detém, poder de coagir, de obrigar alguém a alguma coisa”, explica. Esse poder tende a deixar a Coreia do Norte em uma posição menos vulnerável perante outros países, principalmente, os Estados Unidos , o que aumenta a relevância política de seu líder. E essa condição pode, portanto, servir a propósitos econômicos. “O poder nuclear norte-coreano está sendo utilizado para negociar a sua posição econômica no globo”, completa o especialista.
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