Apesar de ser uma indústria de US$ 15 bilhões, o mercado de brinquedos íntimos é tradicionalmente pouco comentado. Tabu na sociedade, em alguns Estados dos EUA, como o Texas, alguns acessórios sexuais, incrivelmente, foram ilegais até 2008.
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Mas este cenário tem mudado. Atualmente, um número cada vez maior de mulheres tem apostado no negócio, levam a conversa sobre vibradores e outros gadgets tecnológicos para fora da obscuridade, e já lucram com suas apostas.
Em evento recente do projeto Women@Forbes, ocorrido no Museu do Sexo, em Nova York, um grupo de empreendedores da área de tecnologia do sexo falaram para uma multidão sobre como presenciaram uma mudança na indústria ao longo dos anos.
Sid Azmi, dona da “boutique do prazer” Please in Park Slope, no Brooklyn, diz que aprendeu a conversar com seus clientes, independentemente de seu histórico religioso ou étnico. Ela conta que cresceu em uma família muçulmana conservadora, em Singapura, e é uma sobrevivente da mutilação genital feminina. Agora, afirma que sua missão é ajudar as mulheres a entenderem seus corpos e seu próprio prazer. “Se nós quisermos que as pessoas sejam abertas sobre brinquedos sexuais, precisamos encontrá-las nos lugares onde elas estejam prontas para nos ouvir”, explica.
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Polly Rodriguez, CEO e cofundadora da Unbound, uma loja online para “mulheres rebeldes”, é também a cofundadora (com Lidia Bonilla, da House of Plume) do Women of Sex Tech, um grupo de mais de 70 membros que trabalham na indústria de tecnologia do sexo.
Polly afirma se sentir frustrada ao perceber que muito da sexualidade feminina é infantilizada. Segundo ela, até o termo “brinquedo sexual” é uma maneira de fazer o prazer feminino parecer menos ameaçador. Segundo ela, em nosso clima político atual, a saúde feminina e o bem-estar sexual não são prioridades.
Como uma maneira de apoiar a saúde e a sexualidade feminina, Polly lançou a campanha Vibes for Congress, que permite que qualquer pessoa envie um vibrador ao congressista norte-americano em quem votou para “passar a mensagem de que a saúde e o bem-estar femininos não podem ser negociados”. Cada vibrador custa US$ 15, e 75% de todo o lucro é doado à organização sem fins lucrativos Planned Parenthood, que orienta sobre cuidados de saúde contra doenças sexualmente transmissíveis e defende temas como controle de natalidade e aborto.
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Hallie Lieberman diz ser revigorante ver mais mulheres no controle de sua sexualidade. No recentemente publicado “Buzz: A Stimulating History of the Sex Toy” (ainda sem edição em português), ela conta como passou de vendedora de vibradores no Texas (quando o produto ainda era ilegal) a autora de uma dissertação sobre a história dos brinquedos sexuais.
Hallie diz ter descoberto que, desde que os brinquedos sexuais fossem utilizados como uma forma de apoiar os casamentos e preservar a instituição tradicional, os conservadores religiosos topavam mantê-los em seus quartos. “Pensei que ter brinquedos sexuais em nossa cultura significava que éramos socialmente progressistas, mas isso não se mostrou totalmente verdade”, conta. Hallie diz esperar que, ao passo que as mulheres falem mais sobre sexo, irão se tornar mais confortáveis com a ideia de seu próprio prazer, e não apenas o de seus maridos.
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Um sinal de que os tempos podem estar mais progressistas é a empresa Dame Products, fundada por Janet Lieberman (sem relação com Hallie) e Alexandra Fine, ter se tornado a primeira a receber financiamento para a fabricação de um brinquedo sexual, na plataforma de crowdfunding Kickstarter.
Formada em engenharia mecânica no MIT, Janet diz ser importante aliar um design lindo e a uma boa tecnologia. O vibrador desenhado por ela foi batizado de Eva, e a Dame levantou US$ 575 mil em 2014 para trazê-lo ao mercado. Desde o início de 2015, mais de 65 mil unidades já foram vendidas.
Se a venda dos produtos é importante para manter os negócios dessas empreendedoras, as conversas que essas empresas têm provocado são fundamentais para mudar a maneira como pensamos a sexualidade feminina. Nadine Thompson, presidente da Bedroom Kandi, cujo produto mais comercializado é o Bible Belt, diz estar animada com esses novos tempos. “Há algo poderoso sobre dar às pessoas a chance de falar sobre o que elas não falariam durante o café da manhã”, afirma.