A criação do bitcoin é cercada de mistério. Sua invenção é atribuída – sem confirmação – a um tal de Satoshi Nakamoto, mas seu objetivo é muito claro: tornar-se um novo meio de pagamento para facilitar as transações financeiras feitas na internet, principalmente no que diz respeito ao comércio eletrônico. Volta-se, desta forma, à função clássica do dinheiro em espécie nas transações físicas: simplificação, transparência e anonimato, que deixou de existir com o cartão de crédito.
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A valorização de mais de 1.500% da criptomoeda em 2017 colocou-a no patamar de um ativo financeiro, reduzindo a sua função como meio de pagamento. A utilização do bitcoin em estabelecimentos comerciais como forma de pagamento é restrita ainda. Uma das possíveis causas pode ser a demora na validação da transação no blockchain, que é lenta – pode levar até quatro horas para ser processada.
Mesmo assim, cresce o número de locais que aceitam o bitcoin como forma de pagamento. Atualmente, estima-se que este número seja um pouco maior do que 11,5 mil em todo o mundo, segundo a página coinmap.org. No início do ano passado eram 8.186 estabelecimentos. No Brasil, não há um número exato de lugares que aceitam negociações na moeda digital mais famosa do mundo. FORBES conversou com oito empresas de diferentes setores que aceitam o bitcoin nas transações de compra e venda.
Os motivos são os mais variados: desde o entusiasmo dos pequenos empresários pela tecnologia até a necessidade de inovação das grandes empresas – quase todos com a expectativa de que as moedas digitais sejam uma novidade que veio para ficar. Algumas dessas empresas ainda não realizaram uma venda com bitcoin, mas somente o anúncio de que aceitam a moeda digital elevou a procura pelos seus produtos e serviços – também entre os estrangeiros –, a fidelização da marca e a venda em reais.
Veja, na galeria a seguir, como cada uma dessas oito empresas lidam com a criptomoeda.
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Divulgação Wayne Tattoo
O estúdio de tatuagem da capital paulista começou a aceitar bitcoin em 2013. “Meus irmãos e eu estávamos mexendo com criptomoedas na época”, diz Sandro Wayne, tatuador e proprietário do estúdio. A estratégia de Wayne para divulgar a iniciativa foi anunciar na página do estúdio nas redes sociais. Os anúncios chegaram a ser suspensos devido à queda do preço da moeda digital em 2014, mas foram retomandos no fim de 2016.
A estratégia deu certo: a procura aumentou tanto para pagamentos em reais quanto em bitcoin. Um dos clientes foi um jogador das categorias de base de um clube inglês de futebol que veio ao Brasil para participar de um torneio do craque Neymar. Desde então, o estúdio realizou 25 transações em bitcoin, com valores entre R$ 400 a R$ 600. -
Divulgação Tecnisa
A Tecnisa aceita bitcoin para o pagamento da entrada dos seus empreendimentos imobiliários desde 2014. As primeiras vendas com a moeda digital, entretanto, aconteceram somente em dezembro do ano passado. A empresa não divulga os valores exatos recebidos em bitcoin, mas menciona que as entradas de unidades de um empreendimento premium em Perdizes (R$ 800 mil) e outro em Jundiaí (R$ 200 mil) foram as primeiras pagas com a criptomoeda. “Em janeiro fizemos novas vendas com Bitcoin”, revela Gustavo Reis, gerente de marketing, sem divulgar os valores.
Apesar de a empresa ter um foco em inovação – metade da receita vem de pagamento online -, o executivo acredita que a maior utilização do bitcoin como meio de pagamento aconteça no longo prazo, pois as moedas digitais ainda não estão consolidadas. -
iStock PreVet Home
Nem todas as empresas conseguiram alavancar as vendas ao anunciar que aceitam bitcoin como forma de pagamento. “Apareceram curiosos e jornalistas, mas ninguém com intenção de contratar nossos serviços”, explica Renato Nagliati, da clínica veterinária domiciliar PreVet Home, em São Paulo.
A clínica começou a aceitar a moeda digital por volta de 2013, depois de ser cadastrada em uma página que indicam empresas que fazem transações em bitcoin. “Enquanto as grandes empresas não aceitarem, os pioneiros não serão os pequenos”, acredita Nagliati, apontando que a clínica não tem expectativa no curto prazo de realizar uma prestação de serviço paga na moeda digital. -
Divulgação Nobile Plaza Hotel
O Nobile Plaza Hotel, localizado em Brasília, aceita bitcoin como pagamento desde novembro de 2016. Apesar de os hóspedes pedirem recorrentemente informações sobre o pagamento com a moeda digital, ainda não foi registrada uma transação do tipo. “Começamos a aceitar por achar que poderia ser um serviço diferenciado”, explica o diretor Rodrigo Alves, que acredita que os hóspedes que apostam na moeda preferem mantê-la como investimento em vez de usá-la como meio de pagamento.
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Divulgação JS Hostel
O JS Hostel, em São Paulo, iniciou o pagamento com bitcoin em dezembro de 2016, a partir de um anúncio no Facebook – até hoje é a postagem com mais curtidas da página do hostel. “Acredito no potencial da moeda digital, além de achar que ela facilita as operações das empresas ligadas ao turismo”, diz Daniel Rodrigues, proprietário do estabelecimento, explicando os motivos para aceitar a criptomoeda, entre eles a facilitação de transferência de valores para estrangeiros, que ficam livres de taxas, já que a moeda não é administrada por nenhum governo.
O preço da hospedagem em bitcoin, em 11/1 (dia da entrevista), era 0,0008 btc, segundo a cotação do dia. O estabelecimento, porém, ainda não realizou nenhuma transação na moeda digital. “Recebi interessados, mas quem tem não gasta, fica esperando uma valorização”, explica Rodrigues, contando que já hospedou pessoas apenas porque o local aceita a criptomoeda – mas que pagaram em reais. -
Divulgação João Bosco & Vinícius
A dupla sertaneja João Bosco & Vinícius inovou ao anunciar, em 19 de dezembro, nas redes sociais, que estava aceitando uma unidade de bitcoin para a contratação de seus shows. “Depois da divulgação deste plano, já tivemos algumas consultas”, afirma Luiz Montoya, empresário da dupla, que justifica a adoção da moeda como forma de pagamento devido ao aumento do preço em 2017. Shows pagos na criptomoeda, entretanto, ainda não se concretizaram.
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Divulgação Grupo Reserva
As marcas de moda masculina e infantil do Grupo Reserva começaram a aceitar bitcoin em seus e-commerces no início do ano. Nas primeiras 24 horas, houve muita procura pelos produtos da marca, que resultaram em 100 compras aprovadas com bitcoin. No total, foram R$ 50 mil em vendas com a criptomoeda. “Os preços são em reais, mas o cliente sinaliza se vai pagar com a moeda digital”, explica Rodrigo Berutti, gerente da empresa. Além do sucesso de vendas em bitcoin, a procura pela marca também aumentou, assim como as vendas em reais. “A inovação faz parte da filosofia da grife”, explica Berutti.
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Divulgação MundiPagg
A plataforma de pagamento MundiPagg foi a primeira a lançar opção de vendas em e-commerce por criptomoedas no início de janeiro – e em parceria com o Grupo Reserva. “A empresa tem que ter todos os instrumentos de pagamentos existentes”, explica João Barcelos, CEO da MundiPagg, apesar de reconhecer que o bitcoin ainda não esteja em um nível maduro para ser utilizado como meio de pagamento – o processo de validação do blockchain demora mais que a validação de uma compra por cartão de crédito. Entretanto, o DNA inovador da empresa com a demanda dos clientes antecipou a decisão de oferecer a criptomoeda como uma das formas de pagamento. A empresa não revelou o número de transações realizadas com o bitcoin.
Wayne Tattoo
O estúdio de tatuagem da capital paulista começou a aceitar bitcoin em 2013. “Meus irmãos e eu estávamos mexendo com criptomoedas na época”, diz Sandro Wayne, tatuador e proprietário do estúdio. A estratégia de Wayne para divulgar a iniciativa foi anunciar na página do estúdio nas redes sociais. Os anúncios chegaram a ser suspensos devido à queda do preço da moeda digital em 2014, mas foram retomandos no fim de 2016.
A estratégia deu certo: a procura aumentou tanto para pagamentos em reais quanto em bitcoin. Um dos clientes foi um jogador das categorias de base de um clube inglês de futebol que veio ao Brasil para participar de um torneio do craque Neymar. Desde então, o estúdio realizou 25 transações em bitcoin, com valores entre R$ 400 a R$ 600.