Pessoas de negócios sabem que o sucesso depende de um mercado viável e sustentável. Foi isso que o jovem Laduma Mgxokolo percebeu enquanto estudava e trabalhava em sua tese na Universidade Metropolitana Nelson Mandela, na cidade de Porto Elizabeth, na África do Sul, onde nasceu: um mercado viável e sustentável baseado em uma tradição centenária do povo sul africano xhosa.
VEJA TAMBÉM: Como uma aluna ruim se tornou uma engenheira aeroespacial da Nasa
“Homens xhosa entre 18 e 25 anos passam por um ritual de iniciação da masculinidade”, contou a FORBES durante a LUXURY CONNECT AFRICA, uma exposição de três dias criada pelo estrategista de negócios de luxo Uche Pezard para exibir as mais sofisticadas marcas de luxo da região e realizada no hotel Le Bristol Paris, em janeiro. “Eles são circuncidados. É a transição para a masculinidade, e, como parte desse processo, eles se livram de todas as suas roupas antigas. Seus pais têm de comprar para eles um novo guarda-roupas para a sua nova vida.” Como essa cerimônia de transição ocorre a cada seis meses e há cerca de 8 milhões de xhosas na África do Sul, basta fazer as contas para perceber um mercado em potencial.
Armado com uma paixão por tecidos e malhas que vem de seus dias no ensino médio, do benefício do fervilhante comércio de lã e mohair de Porto Elizabeth (70% do mohair utilizado em roupas no mundo todo são da África do Sul) e de um dinheiro de empréstimo de sua universidade, Laduma lançou a Maxhosa by Laduma em 2011 como uma linha masculina de malha. Agora, o jovem atua como seu designer e diretor executivo.
Para o olho ocidental, a linha evoca uma mistura das marcas Etro e Missoni: cores fortes e materiais de luxo bem trabalhados e meticulosamente acabados. Porém, no caso da Maxhosa, as ricas cores, estampas, miçangas e texturas são herança cultural do povo xhosa. Dois anos depois, em função da demanda do público, ele acrescentou peças femininas à linha.
Aos 32 anos e de fala mansa, Laduma tem foco e ambição bem equilibrados com uma paixão por seu método, seu país e as tradições Xhosa. Ele é profundamente ciente de sua dívida com aqueles da África do Sul que o apoiaram – ele pagou de volta o empréstimo da Universidade Nelson Mandela em dois anos. “Eles confiavam em mim”, relembra.
LEIA: UNDER 30 de FORBES Brasil terá indicações online
Essa confiança não era infundada. Em 2010, enquanto ainda era um estudante universitário, Laduma venceu a nacional sul-africana da competição de design da Society of Dyers and Colorists (SDC). A vitória, por sua vez, rendeu a ele uma viagem para competir nas finais em Londres, onde ganhou o primeiro lugar internacional.
Sua entrada na competição masculina, “The Colorful World of the Xhosa Culture” (“o mundo colorido da cultura xhosa”, em tradução livre), foi a base para a sua primeira coleção comercial, enquanto seu sucesso foi a fundação de um novo programa em sua universidade. “Eles lançaram uma incubadora para apoiar a mim e ao meu trabalho”, contou. “Isso hoje tornou-se a Nelson Mandela Art and Design Incubator, que tem como objetivo apoiar outros artistas e designers promissores.”
A educação de Laduma continuou em 2014, quando ele ganhou uma bolsa de estudos WeTransfer Scholarship de dois anos para cursar o mestrado na Universidade Central Saint Martins, em Londres. Isso o colocou em contato comercial com a cena da moda europeia: ele ganhou o prêmio Vogue Italia Scouting for Africa de 2015, o que permitiu que ele exibisse suas coleções no Palazzo Morando Show, em Milão.
No ano seguinte, a marca escocesa de uísque Chivas Regal contatou o empreendedor da moda para criar a embalagem de sua edição limitada de 18 anos. Laduma criou um design xhosa: dourado adornando um vívido plano de fundo azul. Sua reinterpretação do icônico suéter pescador da Aran foi parte de uma exposição do Museu de Arte Moderna de Nova York no ano passado em comemoração às 100 peças de moda mais influentes criadas no último século.
E MAIS: Conheça Federico Marchetti, o inventor da moda online
Agora, Laduma vende online para todo o mundo por meio do site http://www.maxhosa.co.za, no qual um suéter masculino custa cerca de US$ 325, um par de meias US$ 15 e uma saia feminina US$ 200. Ele tem pontos de venda físicos na África do Sul e no Japão. Suas peças foram vendidas em Paris no ano passado durante a celebração da moda africana da loja de departamento BHV (parte do Galleries Lafayette Group). Ele começou a desenhar móveis para casa e tem um olho nos Estados Unidos – mais especificamente, na Neiman Marcus.
Copyright Forbes Brasil. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, total ou parcial, do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, impresso ou digital, sem prévia autorização, por escrito, da Forbes Brasil ([email protected]).