Em 2017, Jessica Nabongo passou apenas 21% do ano em casa. Viajando do Sri Lanka às Ilhas Maldivas ou da África do Sul a Moçambique, ela visitou 53 países, dos quais 38 nunca tinha estado antes. Isso são 304 mil km em 131 voos.
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A norte-americana não planeja desacelerar suas viagens pelo mundo em 2018. Ela já visitou nove países, incluindo Botswana e São Cristóvão e Nevis, e tem planos de conhecer muitos outros lugares.
A rotina de Jessica cansaria até a pessoa mais aventureira, mas, para uma executiva com intensa wanderlust (termo em inglês que descreve um forte desejo de viajar), tudo isso faz parte da vida de nômade digital que ela tem construído desde os 23 anos.
Morando fora pela primeira vez
Tudo começou quando Jessica tinha 23 anos. Ela trabalhava como representante farmacêutica para a Pfizer em Detroit, Michigan, e percebeu que queria mais do que uma casa bonita e um belo carro. Naquele momento, ela decidiu deixar o trabalho corporativo e se mudar para o Japão para dar aulas de inglês.
A executiva já havia visitado três continentes, mas nunca tinha explorado nenhum deles sozinha. Ainda assim, não deixou a falta de experiência em viagens solo prejudicar seus planos. “De uma perspectiva financeira, eu não me senti vulnerável”, conta, o que a ajudou a tomar a decisão mais facilmente. Ela tinha despesas baixas na época, cerca de US$ 180 mensais em empréstimos estudantis.
Segurança financeira e profissional
Com cerca de US$ 10 mil no banco, além do salário de professora, ela sabia que conseguiria financiar a aventura. E o mais importante: Jessica tinha certeza de que, se quisesse, encontraria outro emprego corporativo nos EUA quando – e se – precisasse voltar.
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A jovem aventureira guardou, então, todos os pertences de uma vida em um depósito, raspou a cabeça (ela estava preocupada de não encontrar um salão de beleza que cortasse cabelo afro) e teve um final de semana épico. A executiva não se arrepende e a cabeça raspada tornou-se sua marca registrada.
Inicialmente atraída pela cultura e pela moda de rua do Japão, Jessica ficou também intrigada com as similaridades linguísticas entre o japonês e luganda, idioma da tribo de sua família em Uganda: ambos usam os mesmos sons de consoantes longas e curtas. Quando chegou, todos conseguiam pronunciar seu sobrenome. “Durante toda a minha vida escolar nos EUA, ninguém conseguiu pronunciar meu nome corretamente.”
Ela mudou-se para perto da prefeitura de Kyoto, onde teve dificuldades com o idioma nos primeiros três meses. Embora tenha usado o software de ensino Rosetta Stone um mês antes da viagem, foi muito difícil aprender uma língua não-latina. “Você reconhece palavras quando vai para a Europa Ocidental”, afirma. “O mesmo não acontece no Japão.”
A empresária não costuma se desencorajar fácil: estudava o idioma duas horas por dia até que, finalmente, passou no teste básico de proficiência.
O charme de Londres
Apaixonada pela vida de expatriada, Jessica prometeu viver em outro país por, pelo menos, mais três anos depois do seu período no Japão. Ela acabou morando fora dos Estados Unidos por sete anos, indo da Ásia à Europa e vice-versa.
Um destaque para a millennial foi morar em Londres, onde cursou uma pós-graduação na London School of Economics. Jessica se apaixonou de novo, dessa vez pela cidade de múltiplas culturas, e, provavelmente moraria por lá se não fosse o clima. “Você pode caminhar pela rua em Londres e ouvir 15 idiomas diferentes”, diz. Ao classificar a capital britânica como uma “porta de entrada para o mundo”, ela diz que “você pode ir para quase todo lugar em um voo direto”.
Jessica mudou então para Benim (país da região ocidental da África) e para a Itália, onde conseguiu um emprego de tempo integral nas Nações Unidas. Embora ela tenha amado Roma, nunca se sentiu completamente confortável na cidade devido ao racismo que encontrou, que ela credita, em parte, à falta de imigração no país.
Dicas para conseguir um emprego
Ao conversar com a aventureira, a impressão que dá é que é muito fácil conseguir empregos fora do país de origem em organizações de prestígio. Mas, como ela mesmo diz, é necessário muito trabalho para entrar em companhias e entidades como a Pfizer e as Nações Unidas. Além de ter excelentes notas, Jessica diz que estudar em uma instituição com boa reputação, como a London School Of Economics, onde fez pós-graduação, abre muitas portas e o coloca no patamar internacional. Outros programas que a millennial recomenda incluem a Universidade de Sorbonne, a London Business School, a Universidade de Oxford e a Universidade de Cambridge.
A construção de um negócio de viagens bem-sucedido
Depois de perder muitos aniversários, nascimentos, casamentos e funerais, Jessica retornou aos EUA quando completou 30 anos, com um emprego de consultora na USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional). Mas o desejo de viajar não a abandonou.
Depois de ajudar um amigo a organizar a lua de mel, ela teve a ideia de fundar a Jet Black, uma agência boutique que encoraja o turismo para países na África, América Central e do Sul e Caribe.
Quando o amigo voltou da viagem, relatou que tinha sido a melhor de sua vida. Ela decidiu criar o negócio em 2015, usando suas economias para imprimir cartões e criar um site. “O meu foco é me certificar de que as pessoas estão realmente interagindo com os locais. Em Cuba, particularmente, tenho guias e vendedores incríveis.”
Cerca de 60% das viagens da agência são em grupos, como o recente retiro para a Colômbia ou uma futura aventura no Senegal. O resto diz respeito a planejar viagens privadas para clientes, seja para lua de mel ou aniversário de casamento. “96% dos meus clientes dizem que foi a melhor viagem que já fizeram na vida”, conta a empreendedora, que descreve suas tours como uma mistura de restaurantes chiques e comidas de rua. “Todos querem se hospedar em um hotel de luxo ou em um apartamento Airbnb, mas também desejam interagir com a população local.”
“Eu já viajei para 108 territórios e países”, conta Jessica. “Eu acredito que tenho uma vantagem competitiva por isso. Para ser franca, a maioria dos agentes do ramo não viaja. Eles apenas ficam sentados atrás de um computador.”
A agência, agora no segundo ano, possui mais de 100 clientes. O negócio é cerca de 85% da renda de Jessica, complementada por contratos de consultoria com as Nações Unidas, patrocínios como influenciadora no Instagram e matérias sobre destinos como freelancer.
Jessica gerencia um time que vai de Nova York e Maryland à Cidade no Cabo, na África do Sul. E diz que uma das partes mais difíceis do empreendedorismo é montar uma boa equipe. “Eu trabalhei com muitas pessoas nos últimos dois anos”, diz ela.
Reforço do Instagram para erguer uma marca
Para construir uma marca no Instagram, Jessica diz que é necessário usar imagens de boa qualidade com legendas que geram engajamento. Ela também recomenda ter “algo a mais”. Por exemplo: ela sempre se veste com cores chamativas, usa batons coloridos e incorpora a viajante.
Apesar da rede social ser uma excelente fonte de negócios para os millennials, ela diz que cerca de 95% dos seus clientes a encontraram por meio do site, e que seus seguidores no Instagram agem, algumas vezes, como se a “possuíssem”. De pedidos por tours privados a pessoas perguntando se ela fica com coágulos de sangue, a mídia social traz uma certa invasão pessoal. Por isso, uma das maneiras de manter a segurança é nunca encontrar um cliente que não tenha compartilhado uma conexão pessoal.
O trabalho por trás do sonho de viagem em tempo integral
Não se engane ao pensar que a vida de Jessica parece umas férias eternas. “As pessoas querem ser o nômade digital”, diz. “Você coloca o seu laptop na praia e escreve #escritoriododia, mas essa não é a realidade. Viajar e trabalhar ao mesmo tempo é extremamente difícil.”
Administrar um negócio durante as viagens é complicado, especialmente porque ela não está no mesmo fuso-horário que seus clientes. A executiva acorda sempre cedo para acompanhar os pedidos. “Eu digo para as pessoas que o Instagram é uma parte mínima da minha vida, cerca de 20%.”
Às vezes pode ser difícil explorar um novo destino enquanto trabalha. Apesar de Jessica buscar o equilíbrio, ela se sente culpada por não conhecer tantos lugares de um país novo como gostaria em alguns casos.