Com a aproximação das eleições no Brasil, um grupo de empreendedores preocupados com o destino da nação idealizou aquele que pode ser considerado o aplicativo mais “cidadão” já criado no país. O app se chama Poder do Voto (www.poderdovoto.org) e se propõe a conectar eleitores e eleitos em uma plataforma de mão dupla: de forma simplificada, os eleitores são informados sobre projetos relevantes em votação e dizem qual é sua posição (a favor ou contra); os políticos em que votaram recebem esse inputs em suas redes sociais e decidem se vão atender ou não ao desejo de sua base. No fim do ciclo, os eleitores são informados sobre como seus representantes se posicionaram num período de um a quatro anos. E decidem o que fazer nas eleições seguintes.
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O idealizador da iniciativa é Mario Mello, 51 anos, conhecido no mercado por sua atuação como diretor geral da Paypal na América Latina e, antes, pela carreira bem-sucedida em outras multinacionais (aos 34 anos, já era vice-presidente executivo da Visa nos EUA). Recentemente, no entanto, ele concluiu que sua carreira como executivo havia cumprido um ciclo. Agora ele participa de fundos (como Valor Capital Group e Fircapital) e investe em startups. Seu grande foco é criar projetos que deixem um legado para a sociedade.
“A reforma política (sancionada em outubro de 2017) foi irrelevante. Não resolvemos o problema da representatividade e da cobrança junto ao legislador”, afirma. Assim, desde os últimos meses do ano passado, ele passou a investir tempo e dinheiro na criação de uma tecnologia que permitisse que cada brasileiro pudesse se posicionar junto ao seu representante, criando no mundo digital uma proximidade “semelhante à do voto distrital”. Inicialmente, os “alvos” do app são os quase 600 deputados federais e senadores do Congresso, além dos 90 milhões de eleitores do país.
“A proposta do Poder do Voto é fazer um link entre seu Facebook, seu Twitter, seu Whatsapp e o do deputado federal ou senador em quem você votou”, resume. No app, o usuário pode marcar em quem votou (pessoa ou partido) e escolher áreas de interesse (saúde, segurança, educação etc.). Uma empresa especializada e auditada (para garantir isenção e apartidarismo) resume e contextualiza os próximos temas a serem votados no Congresso. Essa informação simplificada gera um debate envolvendo o político. “Quando você também formar sua opinião, informa no app se é a favor ou contra. O político decidirá se acompanha o desejo da maioria de sua base de eleitores ou não. Com o passar do tempo, eleitor e eleito poderão visualizar o quanto estão em sintonia, o quanto de fato ele está representando aqueles que o elegeram. O eleitor levará isso em conta nas eleições seguintes”, explica.
O caráter cidadão do aplicativo vai além. Ele não tem fins lucrativos e todo o trabalho é voluntário (nem o próprio Mello receberá pro-labore). Foi financiado até aqui com dinheiro próprio dos envolvidos (pessoas físicas e fundações), que já investiram R$ 500 mil. “Estamos buscando recursos (outros R$ 500 mil) para finalizar o app e lançá-lo ao público ainda este ano.” A meta do Poder do Voto é chegar a 50 milhões de downloads até março de 2019, com 10 milhões de clientes ativos.
Reportagem publicada na edição 57, lançada em março de 2018