A Marfrig Global Foods anunciou hoje (9) acordo para aquisição de 51% da norte-americana National Beef Packing Company, quarta maior processadora de carne bovina dos Estados Unidos, por US$ 969 milhões.
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O acordo tornará a companhia brasileira a segunda maior processadora de carne bovina do mundo, atrás da também brasileira JBS, com faturamento consolidado de 43 bilhões de reais.
O anúncio fez as ações da Marfrig dispararem hoje. O papel fechou em alta de 18,8%, cotado a R$ 7,39. O Ibovespa encerrou em queda de 1,8% e as ações da JBS tiveram baixa de 1,2%.
Analistas afirmaram que a companhia resultante da aquisição será menos endividada e melhor posicionada para lucrar no mercado global de carne bovina.
Apesar disso, o grupo norte-americano de defesa da concorrência Organização para Mercados Competitivos lamentou o aumento da participação de companhias estrangeiras no mercado dos EUA.
“Estas gigantes internacionais vão dominar o mercado de carne bovina dos EUA, colocando agricultores e pecuaristas norte-americanos à sua mercê”, afirmou a entidade.
A transação também dará à Marfrig acesso ampliado ao mercado norte-americano quase um ano depois que os EUA proibiram importações de carne in natura do Brasil alegando questões de segurança alimentar.
“É mais da mesma tendência destas companhias em promoverem processos de consolidação e do apetite de empresas do Brasil para se diversificarem nos EUA”, disse Altin Kao, analista na Steiner Consulting Group. “O Brasil enfrenta barreiras para vender carne para os EUA e isto é apenas uma maneira para se exportar para o país. Se você não consegue vender carne lá, compre uma empresa dos EUA”, acrescentou.
O presidente-executivo da Marfrig, Martín Secco, afirmou em entrevista a jornalistas que espera que os EUA suspendam o bloqueio às exportações de carne in natura do Brasil até meados do ano. Atualmente a Marfrig vende o produto para os EUA a partir do Uruguai, disse o executivo.
O Uruguai tem uma cota de exportação de 20 mil toneladas de carne in natura para os EUA sem cobrança de tarifas e a Marfrig é responsável por 25% deste volume, disse Secco.
O BTG Pactual afirmou em relatório que o acordo tornará a Marfrig “uma operadora de proteína mais focada e menos alavancada, com uma presença altamente diversificada em carne bovina na América do Sul e Estados Unidos”.
O vice-presidente financeiro da Marfrig, Eduardo Miron, afirmou que a companhia não prevê obstáculos para a aprovação do acordo para comprar o controle da National Beef nos EUA, pois a empresa brasileira tem pequena presença direta no país.
A Marfrig espera concluir no segundo trimestre a venda da divisão Keystone, fornecedora de alimentos processados para redes de restaurantes que foi responsável por 48% do faturamento da companhia brasileira em 2017.
TRANSAÇÃO
A National Beef, sediada em Kansas City, no Estado do Missouri, tem capacidade de abate de 12 mil cabeças. A empresa possui duas unidades de processamento no Kansas, que respondem por cerca de 13% da capacidade total de abate do mercado norte-americano. A empresa exporta para 40 países, incluindo o Japão e a Coreia do Sul, mercados atualmente fechados às exportações de carne brasileira.
“Com a transação, teremos operações nos dois maiores mercados de carne bovina do mundo, chegaremos a países consumidores extremamente sofisticados e conseguiremos crescer mantendo uma rigorosa disciplina financeira”, disse Secco.
Os resultados da National Beef serão consolidados pela Marfrig, reduzindo o nível de alavancagem da empresa brasileira para 3,35 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), ante 4,55 vezes no fim do ano passado, disse a Marfrig.
Além disso, com a venda da Keystone, a Marfrig espera que sua alavancagem caia para 2,5 vezes até o fim de 2018. A venda da unidade vai financiar dois empréstimos-ponte, no valor total de US$ 1 bilhão.
A National Beef, que faturou no ano passado US$ 7,3 bilhões, ou R$ 24,3 bilhões, é controlada pela holding de investimento norte-americana Leucadia National Corportation, desde 2011, com 79% de participação.
A Leucadia se manterá como acionista minoritária da empresa, com uma fatia de 31% do capital total. A US Premium Beef, associação de produtores norte-americanos, ficará com 15% e outros acionistas com os 3% restantes.
“Tanto a Leucadia quanto os demais investidores se comprometeram a manter suas ações da National Beef por um período mínimo de cinco anos”, disse a Marfrig.
Os principais executivos da National Beef permanecerão na empresa, que segue sob a gestão de Tim Klein, atual presidente-executivo, disse a Mafrig. O conselho de administração da empresa comprada será composto por nove membros, dos quais cinco serão indicados pela Marfrig, dois pela Leucadia e dois por outros acionistas minoritários.
A Marfrig disse que espera concluir a aquisição da National Beef até o fim do primeiro semestre deste ano.