Eduardo Costantini tem um olhar empreendedor que, além de trazer vantagens no período pós-ditatorial da Argentina, há 40 anos – época de hiperinflação e políticas econômicas irreais -, também o favoreceu no mundo das artes. O empresário reuniu uma das mais importantes coleções de arte latino-americana do mundo e estabeleceu, como consequência, uma das mais importantes coleções públicas da região, o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (MALBA). Em 28 de março de 2018, FORBES avaliou sua fortuna em US $ 1,12 bilhão.
O olho para os negócios veio antes da arte. Um dos sete filhos de uma família argentina de classe média, Costantini usou o pouco dinheiro que tinha para se inscrever no programa de mestrado em Economia da East Anglia University do Reino Unido. Com recursos emprestados de um amigo, especulou o mercado de ações em seu retorno a Buenos Aires, o que rendeu lucro suficiente para comprar uma parcela de terras improdutivas a preços baixos – vendida por ele meio ano depois (sem investimento) por US$ 1 milhão. “Foi assim que me tornei milionário”, disse o então jovem empreendedor imobiliário ao “Financial Times” durante uma entrevista em 2017.
Lucro investido em arte
Os lucros desse acordo levaram Costantini a montar sua própria empresa de investimentos, a Consultatio, em 1980, e a sair em busca das melhores ofertas na volátil economia argentina do período. Como um dos primeiros investidores no setor bancário do país – cujo resultado o elevou à categoria de bilionário -, Costantini voltou seu perspicaz olhar para os negócios imobiliários. Depois de construir a versão argentina das Torres Gêmeas de Nova York, o empresário criou, em 1999, a primeira comunidade exclusiva da capital, Nordelta – um refúgio para os argentinos ricos que buscam fugir da incessante criminalidade e do barulho, problemas que afetam até os mais exclusivos bairros de Buenos Aires. Com cerca de 30 mil habitantes, Nordelta conta com atendimento médico, recreação escolar e comércio – uma cidade dentro de uma cidade, às vezes criticada por aumentar a diferença social.
Agora, aos 70 anos, Costantini poderia ser confundido com um jovem empreendedor, graças ao alto nível de interesse e envolvimento na vida argentina sob o comando do presidente Mauricio Macri, que ganhou maioria parlamentar nas eleições do ano passado, consolidando sua política de reformas.
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Costantini conversou com a FORBES sobre o futuro da Argentina e seu papel como empresário e patrono das artes. Veja, a seguir, os melhores momentos:
FORBES: O governo de Mauricio Macri fez muito para trazer a Argentina de volta à comunidade econômica global, e a vitória partidária em ações legislativas sugere que ele tem o apoio do eleitorado. O que ainda precisa ser feito para levar o país à uma base sustentável? Quais setores devem se beneficiar da privatização?
Eduardo Costantini: A situação é complexa. Como uma nação, nós gastamos mais do que temos. Empregamos funcionários públicos gerando despesas muito mais altas do que podemos pagar. Diante deste cenário, surge a cultura da corrupção: nós temos a capacidade de não pagar nossos impostos, e não outros desafios, incluindo a burocracia e a inflação. Macri começou sua administração com problemas significativos que, de certa forma, a sociedade compreendia. E mesmo que a última eleição argentina não tenha permitido que o país crescesse rapidamente, a população apoiou Macri na esperança de ver melhorias e mudanças graduais. O governo argentino está trabalhando em uma abordagem de longo prazo para uma solução que está em desenvolvimento há cerca de três anos.
FORBES: Quais são suas preocupações quando o assunto é o atual cenário global econômico? Quais são os pontos positivos? E quais as perspectivas para a economia latino-americana?
Costantini: A economia mundial está crescendo a um ritmo constante, muito mais do que há quatro ou seis anos. O risco são a inflação e as políticas de Trump contrárias à ordem global, com as quais ele tenta mudar as regras estabelecidas para interesses comuns internacionais que poderiam, em contrapartida, interferir na taxa de crescimento do mundo.
A América Latina segue a tendência econômica global em crescimento. Por enquanto, tudo bem. Não há diminuição nas taxas de empregabilidade ou previsão de que isso aconteça, as empresas estão com um melhor desempenho e há um impressionante movimento inovador no campo da tecnologia que está afetando positivamente todos os setores em geral.
FORBES: Hoje você é tão reconhecido pelo MALBA e por seu patrocínio das artes, incluindo no Oceana Bal Harbour, Flórida, projeto no qual você incorporou duas obras do artista Jeff Koons, quanto por ser um empresário de sucesso. Por que o mundo dos negócios deve patrocinar as artes? O que você diria a um empresário que pensa que arte e negócios são incompatíveis?
Costantini: Negócios e arte estão integrados. A arte transforma, envolve e educa a comunidade, como os museus fazem. Nós temos uma responsabilidade social para cumprir. A arte faz parte da nossa vida. Está na nossa existência cotidiana. No meu caso, como fundador do MALBA, tenho uma responsabilidade social, e o tempo que dedico à arte concorre com o tempo que dedico ao meu negócio imobiliário, a Consultatio Real Estate. Tanto os negócios quanto a arte enriquecem com conhecimento. A compatibilidade e a integração dos dois me deram uma perspectiva mais ampla. Quando estou desenvolvendo um novo edifício, a arte é o que me dá um olhar atento para design e arquitetura, fazendo com que eu teenha uma maior sensibilidade quanto ao ambiente ao meu redor.
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FORBES: Olhando para sua trajetória de vida e carreira, o que você teria feito diferente? Quais são seus planos?
Costantini: Primeiramente, eu gostaria de ter estudado mais sobre arquitetura e artes. Talvez eu tenha me dedicado muito aos assuntos econômicos. Eu sinto que trabalhei muito duro no início da minha carreira. Obviamente, era um momento em que eu tinha necessidades diferentes das que tenho agora. Eu também poderia ter tido uma visão mais holística da vida e dado mais importância a aspectos essenciais, mas, no princípio, eu estava mais concentrado em “fazer acontecer”. Coisas que você aprende mais tarde, ao fazer uma retrospectiva.
Hoje eu tenho mais projetos do que tinha há cinco anos. Seis novos locais na Argentina, voltados à comunidade, com espaço para coworking e escritórios integrados de tecnologia inovadora. Tanta coisa está evoluindo na indústria e há tanto ainda por vir, que me sinto com mais energia e mais vivo do que nunca. Estou focado no crescimento da minha equipe, na adaptação à nova geração e na mudança nas abordagens do consumidor, ao mesmo tempo em que agrego perspectivas e jovens talentos à minha corporação. Existe uma certa arte em combinar experiências com novos conhecimentos. No momento, estou aproveitando a vida com um grau maior de liberdade para fazer o que realmente gosto.