Companhias poderosas como Magazine Luiza, Vulcabras Azaleia, MRV, Grupo SEB, Óticas Diniz e Pague Menos são hoje comandadas por uma fornada de jovens sucessores que conquistaram o respeito do mercado – inclusive o acionário, do qual algumas delas fazem parte, pela presença em bolsa.
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“O que impressiona é a habilidade das empresas de família — tradicionalmente vistas como pequenos empreendimentos — de criar valor significativo”, diz Thomas Zellweger, do Centro de Negócios Familiares da Universidade de St. Gallen, na Suíça, que comandou um estudo que elencou as 500 maiores companhias familiares do mundo por receita. A lista incluiu 15 brasileiras.
Especialistas estimam que cerca de 80% das empresas no Brasil tenham controle ou gerência com um ou mais grupos familiares. O grande desafio delas é a perpetuação: menos de 30% das empresas familiares conseguem passar o negócio para a geração seguinte. “Os números não são favoráveis”, observa o consultor Domingos Ricca, especializado no tema. “Os problemas maiores são relativos a conflitos entre parentes, e muitas vezes as desavenças são oriundas de brigas pelo poder.”
Por isso, a sucessão familiar é um tema tão desafiador. Para conduzi-la com êxito, as setas apontam todas para a mesma direção: a qualificação dos herdeiros. “Quanto mais cedo o sucessor começar sua preparação, mais apto para atuar na função de gestor ele estará.”
Conheça na galeria de fotos a seguir alguns casos de sucesso:
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Erivelton Barbosa FAMÍLIA QUEIRÓS
1. Carlos Henrique Alves de Queirós
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IDADE: 42 anos
CARGO: diretor vice-presidente de expansão e novos negócios2. Patriciana de Queirós Rodrigues
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IDADE: 41 anos
CARGO: diretora vice-presidente comercial3. Mário Henrique Alves de Queirós
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IDADE: 39 anos
CARGO: diretor-presidente4. Rosilândia Maria Alves de Queirós Lima
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IDADE: 46 anos
CARGO: diretora de gerenciamento de categorias5. Aline Couto Alves Girão
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IDADE: 35 anos
CARGO: diretora de vendasPague Menos
Ser filho do dono não é garantia de estabilidade na empresa da família, qualquer que seja o cargo. Foi o que aprendeu muito jovem o atual diretor-presidente do grupo cearense Pague Menos, Mário Henrique Alves de Queirós, 39 anos, desde 2016 ocupando o principal posto da terceira maior rede de farmácias do Brasil.
Aos 18 anos, Mário Henrique trabalhava na PAX Corretora, também da família, quando fez uma aposta malsucedida em uma operação de derivativos, que causou um prejuízo de 30 vezes seu salário. “Meu pai [Francisco Deusmar de Queirós] me demitiu e me mandou trabalhar no centro de distribuição da Pague Menos, carregando caixa na cabeça. Aprendi a lição”, lembra.
O presidente da rede Pague Menos gosta de recontar a história para ilustrar como o pai ajudou a modelar os filhos para sucedê-lo à frente do grupo que criou em 1981. Atualmente, todos os quatro filhos de Deusmar atuam em altos cargos: além de Mário Henrique na presidência, o irmão Carlos Henrique, 42, é vice-presidente de expansão e novos negócios, e as irmãs Patriciana, 41, e Rosilândia, 46, são, respectivamente, vice-presidente comercial e diretora de gerenciamento de categorias. Há ainda uma prima, Aline Alves, 35 anos. Ela é filha de Josué Ubiranilson Alves, cunhado de Deusmar e sócio-fundador do grupo.
Todos eles costumavam acompanhar o pai no trabalho ainda crianças, sobretudo nas férias. “Ele sempre nos motivou a participar daquilo que era o seu sonho. Por isso, nos fazia viver o ambiente da empresa desde a infância. Dizia que era preciso conhecer para se apaixonar”, relata Patriciana.
Os herdeiros rodaram por várias posições dentro da empresa – as mulheres começaram pelo atendimento no balcão das farmácias e os homens, pelo centro de distribuição. “Meu pai colocava a gente para carregar caminhão, limpar banheiro, o que precisasse fazer”, diz Carlos Henrique.
Os filhos admitem que as comparações com o pai são constantes – principalmente de funcionários mais antigos. “Foi um desafio fugir delas. No início, lidei com várias: ‘Seu pai não agiria assim’ ou “No tempo do seu pai os resultados eram outros’”, recorda Mário Henrique. Outro teste veio com o ingresso do fundo norte-americano General Atlantic, que comprou 17% da empresa no fim de 2015. O fundo contratou uma empresa para avaliar a atuação dos irmãos. Foram todos validados. “Foi ótimo, porque nos deu transparência”, avalia Patriciana.
Os irmãos estão focados agora na perpetuação e no aprimoramento da empresa – cada um na sua área. “O Deusmar continua na companhia e já avisou que não sairá antes dos 90 anos. Mas gradativamente fui aplicando meu estilo de gestão, mais analítico, focando em resultados através de indicadores e métricas para assim poder avaliar melhor o desempenho de cada colaborador”, diz o presidente.
Um dos caminhos à frente da Pague Menos pode ser o IPO (lançamento de ações em bolsa), que já foi cogitado no passado. Para tanto, a experiência de Mário Henrique com mercado financeiro é um grande trampolim.
SEDE: Fortaleza (CE)
FUNDAÇÃO: 1981
FUNCIONÁRIOS: 22,1 mil
RECEITA BRUTA 2017: R$ 6,3 bilhões -
Gláucia Rodrigues FAMÍLIA MENIN
GESTÃO EM FAMÍLIA
Rafael Menin (foto)
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IDADE: 37 anos
CARGO: codiretor-presidente da MRV (região 1)João Vitor Menin
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IDADE: 35 anos
CARGO: diretor-presidente do Banco Inter, uma das empresas do grupoEduardo Fischer
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IDADE: 43 anos
CARGO: codiretor-presidente da MRV (região 2)Maria Fernanda Menin Maia
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IDADE: 39 anos
CARGO: diretora executiva jurídica da construtora MRVMRV
Cotada a quase R$ 7 bilhões, a construtora mineira MRV praticamente dobrou de valor em bolsa nos últimos dois anos. O dado é um indicador da aprovação do mercado à sucessão familiar que o fundador Rubens Menin Teixeira de Souza, 61 anos, consolidou ao passar seu cargo de presidente da maior construtora residencial do Brasil e da América Latina para o filho, Rafael Menin, 37, e o sobrinho Eduardo Fischer, 43. Os dois são co-CEOS, respondendo por regiões diferentes. A filha Maria Fernanda, 39, é diretora jurídica, enquanto o terceiro filho do fundador, João Vitor, 34, comanda o banco do grupo, o Inter (ex-Intermedium).
Formado em engenharia, Rafael trabalha na empresa desde os 18 anos e rodou por diversas posições. “Trilhei um caminho convencional. Nunca tive privilégios por ser filho do fundador”, diz o CEO. “O DNA da empresa é a meritocracia. Não tivemos vantagens diferentes dos demais por sermos da família. A gente conquistou tudo com dedicação, fazendo o mesmo caminho de outros funcionários”, reforça Maria Fernanda, que começou a trabalhar na MRV na área de cobranças, aos 19 anos, quando ainda cursava direito, e acabou responsável por criar um departamento jurídico – antes inexistente – dentro da construtora.
Ambos reconhecem, no entanto, que a convivência com o pai ajudou a incutir a cultura e os valores da empresa. “Crescemos vivendo a MRV. Muitas de nossas conversas e almoços de família viram reuniões de trabalho”, conta Maria Fernanda. E, como frutas não caem longe do pé, a nova geração dos Menin também atribui à influência do pai sua formação de liderança. “Rubens é meu mentor. Tê-lo como coach é um privilégio. Aprendemos muito com ele – disciplina, liderança, visão”, testemunha.
Ao assumir a gestão da companhia, a segunda geração implantou algumas modernizações, como o grande investimento em tecnologia, e uma meta: o projeto MRV 60 mil, que pretende lançar, vender e construir 60 mil novas unidades ao ano. Só no ano passado, a MRV teve crescimento de 23% das vendas líquidas e 41,1% dos lançamentos em 2017.
“Nossa preocupação é não deixar a empresa envelhecer. A companhia não pode perder a vontade. Ser líder no Brasil não é de graça.”
SEDE: Belo Horizonte (MG)
FUNDAÇÃO: 1979
FUNCIONÁRIOS: 21,9 mil
RECEITA BRUTA 2017: R$ 4,95 bilhões -
Joyce Cury PEDRO BARTELLE
Pedro Bartelle
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IDADE: 42 anos
CARGO: CEO da Vulcabras AzaleiaVulcabras Azaleia
Antes de começar a trabalhar na Vulcabras Azaleia, empresa controlada pelo pai, o atual presidente da companhia, Pedro Bartelle, 42 anos, teve seus próprios negócios. Em 1995, com apenas 19 anos, abriu sua primeira loja, um outlet de produtos esportivos. Mas antes disso já gerenciava sua própria carreira de automobilista: foi piloto dos 14 aos 21 anos em várias categorias, sendo duas vezes campeão brasileiro e uma vice-campeão sul-americano pela F-3. “Desde cedo aprendi a me disciplinar, a lidar com patrocínios, gestão de equipe, metas e resultados. Essa fase foi uma grande escola”, conta.
O filho do empresário Pedro Grendene Bartelle ingressou na Vulcabras em 1997 e passou por várias áreas “para entender todas as etapas, da indústria à comercialização”. Antes de ser CEO, esteve por quatro anos à frente da operação na Argentina, onde morou e abriu a filial. Também foi diretor de marketing, até assumir a presidência, em 2015.
Antes de Pedro Bartelle assumir a cadeira de CEO, a empresa teve presidentes que não eram da família. “Minha ascensão a esse cargo se desenvolveu de forma natural, uma vez que eu participei de vários processos da operação, por anos. Quando houve a necessidade de reestruturar a companhia, me dediquei intensamente a essa fase, em função do conhecimento que tinha do negócio. Era o momento de usar toda a experiência adquirida.” A reestruturação da Vulcabras Azaleia durou de 2012 até a metade de 2015 e, nesse tempo, junto a consultores, Bartelle se preparou para assumir a direção.
“Após essa fase, a empresa precisava se modernizar para avançar. Deixei a diretoria de marketing e fui à presidência, assumindo também a tarefa de estar à frente do processo de turnaround. Trouxe novos nomes do mercado para nosso time e transformamos a cultura do negócio”, relata.
O momento-chave foi quando Pedro mudou o foco do negócio. Antes, a Vulcabras tinha ênfase na indústria, fabricando e destinando ao mercado o que produzia. Passou, então, a mirar a gestão de marcas, utilizando a indústria como diferencial competitivo. “Com a inteligência de mercado, hoje produzimos o que a demanda pede. Como nossa indústria é no Brasil, podemos trabalhar com prazos enxutos, fabricando e entregando já em seguida o que os clientes precisam. Com isso, os lojistas otimizam os pedidos, comprando o que tem mais saída, o que permite que tenham mais giro, sem liquidações.”
A aposta mostrou rapidamente os resultados: a partir da modernização, a empresa voltou a ter lucro em 2016, em plena recessão. Em 2017, as curvas positivas dos números se acentuaram, e a empresa alcançou resultado operacional líder no setor. Nos nove primeiros meses de 2017, o lucro líquido registrado foi de R$ 143,5 milhões, ante R$ 22,1 milhões do mesmo intervalo de 2016. A expansão é de 549,32%. Nesse mesmo período, a receita cresceu 14,7%, registrando R$ 948,4 milhões, e o Ebitda passou a R$ 226,1 milhões, uma ampliação de 73,7%.
Com esses dados e a governança corporativa elevada, em função da modernização, em outubro de 2017 a Vulcabras migrou para o Novo Mercado e fez um re-IPO na B3, movimentando R$ 685,6 milhões.
Mas a empresa não se dá por satisfeita: está investindo R$ 100 milhões nos parques fabris, a maior parte em 2018. “Também estamos reformulando a Azaleia, que em breve vai trazer novidades em seu segmento. Ela será uma marca fast fashion, com sapatos com apelo de moda”, antecipa Pedro Bartelle. A ideia é repetir a bem-sucedida virada da Olympikus, principal marca de calçados esportivos da Vulcabras, que há um ano retomou a liderança na venda de tênis no Brasil, à frente de gigantes globais.
Pedro diz que todas essas mudanças foram possibilitadas pela base criada pelo pai. “Os valores impressos por ele à companhia por tantos anos foram fundamentais para podermos, hoje, viver este novo momento, e nos guiam para um futuro otimista. Sinto-me privilegiado por estar à frente deste negócio que sempre teve tanta dedicação de nossa família.”
SEDE: Jundiaí (SP)
FUNDAÇÃO: 1952
FUNCIONÁRIOS: 15 mil
RECEITA LÍQUIDA 2017* (acumulado de 9 meses): R$ 948,4 milhões*Os resultados de 2017 serão divulgados em 6 de março
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Divulgação BRUNO E ARIANE DINIZ
Bruno Diniz
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IDADE: 31 anos
CARGO: diretor comercial das Óticas DinizAriane Diniz
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IDADE: 27 anos
CARGO: diretora administrativo-financeira das Óticas DinizÓticas Diniz
Ariane Diniz, 27 anos, foi batizada em homenagem ao pai, o empresário paraibano Arione Diniz, cofundador das Óticas Diniz, maior rede de varejo ótico do Brasil. Ela e o irmão, Bruno Diniz, 31, estão se preparando para comandar o negócio fundado por Arione em 1992. Atualmente, os irmãos já atuam nos cargos de diretora administrativo-financeira e diretor comercial, respectivamente.
O processo, conduzido pelo fundador, está em curso há três anos e envolve uma consultoria especializada em sucessão familiar. “Mostrar e ensinar aos jovens sobre como manter o sucesso do negócio de seus pais é essencial para uma condução próspera e segura da rede”, explica Arione, presidente do grupo, que tem como sócio Francisco Vidal.
Bruno ingressou na empresa em 2005, aos 19 anos, na área de expansão e comercial. Seu primeiro grande desafio foi consolidar a marca em Minas Gerais. Conseguiu: em 12 meses, foram inauguradas 12 lojas no estado, e a partir daí a rede ampliou sua presença na região Sudeste.
Ariane entrou na empresa como trainee em 2014, aos 23 anos, depois de se formar em administração. “Mas eu já acompanhava um pouco da rotina do meu pai e do meu irmão”, relata. Antes disso, atuou como estagiária na área de marketing de uma startup. “Foi muito interessante, é um ambiente muito dinâmico, onde toda tomada de decisão é feita rapidamente e com resultados imediatos.”
Em seguida, veio o convite para trabalhar lado a lado com o pai e o irmão. “Como desde pequena vi minha família batalhar para construir a empresa, eu também queria fazer parte dessa história. Mas precisava estar mais preparada.”
Além dos irmãos, diversos integrantes da família atuam no negócio, mas como franqueados. “Ser membro da família tem pontos positivos. O amor leva as pessoas a darem o seu melhor, a cuidar mais um do outro, e a sinergia é gigante. Um ponto que talvez dificulte é saber separar a vida pessoal da profissional, e o excesso de abertura também implica conversas muito diretas, que por vezes podem ter um tom muito informal”, compara a jovem diretora.
Ariane e Bruno são conscientes da responsabilidade que têm nas mãos. “Chegar aonde chegamos não foi uma tarefa fácil, e o intuito é dar continuidade a tudo o que foi conquistado, trazendo modernidade e inovação. No setor ótico brasileiro ainda tem muito espaço para evoluir, em comparação com outros setores do varejo. Também visamos manter os pilares e os valores familiares que ajudaram a construir a empresa.”
SEDE: São Paulo (SP)
FUNDAÇÃO: 1992
FUNCIONÁRIOS: 10.500
LOJAS: 1.050
RECEITA BRUTA 2017: não informa -
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Alexandre Suplicy THAMILA CEFALI ZAHER
Thamila Cefali Zaher
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IDADE: 29 anos
CARGO: diretora-executiva do Grupo SEBGrupo SEB
Aos 7 anos, Thamila Zaher, hoje com 29, já ocupava uma função na companhia do pai, o empresário de educação Chaim Zaher: a hoje diretora-executiva do Grupo SEB tinha então a responsabilidade de assinar os “cheques” da loja de uniformes de uma escola em Ribeirão Preto (SP). Ainda pequena, passava dias inteiros com Chaim no trabalho, acompanhando até reuniões – o que lhe deu amplo conhecimento de tudo o que ocorria na empresa, que hoje é a maior rede de colégios privados do Brasil. “Eu sempre soube o que eu queria fazer: trabalhar na educação”, diz Thamila, com a vivacidade que é uma de suas marcas registradas.
A sucessora de Chaim Zaher passou por várias posições no grupo: foi diretora de escola e trabalhou na área administrativa, enquanto fazia duas faculdades. Em 2014, Thamila e o pai assumiram cadeiras no conselho de administração da Estácio, segunda maior rede de ensino superior do país. A família Zaher era então um dos maiores acionistas da Estácio e acabou se tornando peça-chave no processo de fusão do grupo com a Kroton (depois reprovada pelo Cade).
Quando assumiu como conselheira, Thamila tinha 26 anos e participou, do olho do furacão, das tumultuadas negociações de venda da Estácio. Os Zaher chegaram a cogitar comprar o controle da companhia. Em outubro de 2016, pouco depois de finalizado o acordo de fusão da empresa com a Kroton, os Zaher renunciaram aos assentos no conselho e redirecionaram seu foco para a outra ponta do ensino: a educação fundamental.
Nessa época, Thamila já estava à frente de um novo projeto do SEB, que veio a se tornar sua menina dos olhos: a inovadora escola bilíngue Concept, que iniciou as aulas em 2017 em unidades em Salvador (BA) e Ribeirão Preto (SP) – sede do grupo. Recentemente, a marca fincou bandeira em São Paulo, no histórico prédio do Colégio Sacré Coeur, comprado e remodelado pelo SEB.
Maior rede privada de educação básica do Brasil, o SEB está investindo alto no novo projeto. “A Concept é um projeto que me entusiasma, dá uma cara nova para a companhia, além de reforçar a crença de que estamos no caminho certo”, festeja. “Nós queremos preparar os alunos para um mundo que ainda não existe.”
Thamila tem três irmãs e apenas uma delas não atua na empresa. “Foi um processo natural. Nós nos preparamos para a sucessão.” Tido como figura de inspiração, o pai sempre foi um gestor exigente com todo mundo, mas “um pouco mais com as filhas”. A confissão não tem tom de queixa, mas de reconhecimento: “Conosco ele pegou mais pesado, mas eu agradeço todos os dias”.
SEDE: Ribeirão Preto (SP)
FUNDAÇÃO: 1963
FUNCIONÁRIOS: 5 mil
RECEITA BRUTA 2017: não divulgada -
Leticia Moreira FREDERICO TRAJANO INÁCIO RODRIGUES
Frederico Trajano Inácio Rodrigues
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IDADE: 41 anos
CARGO: CEO do Magazine LuizaMagazine Luiza
Não se pode dizer que a sucessão no Magazine Luiza foi de mãe para filho: entre Frederico Trajano assumir a presidência da rede e sua mãe Luiza Helena Trajano repassar o cargo, a empresa teve por seis anos um CEO profissional ocupando a cadeira principal da terceira maior varejista de eletrônicos e móveis do Brasil.
Integrante da terceira geração da família fundadora, Frederico foi guindado à presidência em 2016, quando a empresa e o varejo brasileiro viviam uma temporada de vacas magras. Nesse cenário, as ações da empresa em bolsa tinham atingido a lona: os papéis da companhia eram negociados a R$ 1.
O filho da carismática ex-presidente Luiza Trajano havia ingressado na rede criada pelos avós seis anos antes, atuando no lançamento da operação de comércio eletrônico. Em seguida, passou a cuidar também das áreas de marketing, logística e tecnologia. Mas foi no projeto inicial, de e-commerce, que o Magazine Luiza deu seu pulo do gato: com Frederico no comando, a empresa empreendeu uma revolução digital e virou case de sucesso no setor. Hoje, cerca de 30% das vendas são oriundas de cliques.
Desde então, os números da empresa deram uma guinada, e suas ações também: os papéis já tiveram uma alta de 3.800% até seu preço recorde. O resultado veio a reboque da inversão de uma lógica: “Quando assumi, meu plano de gestão já era transformar uma empresa tradicional com área digital em uma plataforma digital com lojas físicas”, definiu Frederico um ano depois de chegar à presidência.
Com essa fórmula, o presidente do Magazine Luiza acredita que a empresa está preparada até para a chegada de concorrentes do porte da Amazon ao mercado brasileiro, onde cerca de dois terços dos compradores online costumam comprar pela internet e retirar o produto na loja física. “Não vejo um único player puramente online no Brasil ganhando dinheiro. Eles realmente vendem, mas não ganham dinheiro. Então o melhor modelo é um canal com um pouco de calor humano, que é muito importante para os brasileiros”, declarou recentemente.
SEDE: São Paulo (SP)
FUNDAÇÃO: 1957
FUNCIONÁRIOS: 20 mil
RECEITA BRUTA 2017: não divulgada
FAMÍLIA QUEIRÓS
1. Carlos Henrique Alves de Queirós
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IDADE: 42 anos
CARGO: diretor vice-presidente de expansão e novos negócios
2. Patriciana de Queirós Rodrigues
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IDADE: 41 anos
CARGO: diretora vice-presidente comercial
3. Mário Henrique Alves de Queirós
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IDADE: 39 anos
CARGO: diretor-presidente
4. Rosilândia Maria Alves de Queirós Lima
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IDADE: 46 anos
CARGO: diretora de gerenciamento de categorias
5. Aline Couto Alves Girão
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IDADE: 35 anos
CARGO: diretora de vendas
Pague Menos
Ser filho do dono não é garantia de estabilidade na empresa da família, qualquer que seja o cargo. Foi o que aprendeu muito jovem o atual diretor-presidente do grupo cearense Pague Menos, Mário Henrique Alves de Queirós, 39 anos, desde 2016 ocupando o principal posto da terceira maior rede de farmácias do Brasil.
Aos 18 anos, Mário Henrique trabalhava na PAX Corretora, também da família, quando fez uma aposta malsucedida em uma operação de derivativos, que causou um prejuízo de 30 vezes seu salário. “Meu pai [Francisco Deusmar de Queirós] me demitiu e me mandou trabalhar no centro de distribuição da Pague Menos, carregando caixa na cabeça. Aprendi a lição”, lembra.
O presidente da rede Pague Menos gosta de recontar a história para ilustrar como o pai ajudou a modelar os filhos para sucedê-lo à frente do grupo que criou em 1981. Atualmente, todos os quatro filhos de Deusmar atuam em altos cargos: além de Mário Henrique na presidência, o irmão Carlos Henrique, 42, é vice-presidente de expansão e novos negócios, e as irmãs Patriciana, 41, e Rosilândia, 46, são, respectivamente, vice-presidente comercial e diretora de gerenciamento de categorias. Há ainda uma prima, Aline Alves, 35 anos. Ela é filha de Josué Ubiranilson Alves, cunhado de Deusmar e sócio-fundador do grupo.
Todos eles costumavam acompanhar o pai no trabalho ainda crianças, sobretudo nas férias. “Ele sempre nos motivou a participar daquilo que era o seu sonho. Por isso, nos fazia viver o ambiente da empresa desde a infância. Dizia que era preciso conhecer para se apaixonar”, relata Patriciana.
Os herdeiros rodaram por várias posições dentro da empresa – as mulheres começaram pelo atendimento no balcão das farmácias e os homens, pelo centro de distribuição. “Meu pai colocava a gente para carregar caminhão, limpar banheiro, o que precisasse fazer”, diz Carlos Henrique.
Os filhos admitem que as comparações com o pai são constantes – principalmente de funcionários mais antigos. “Foi um desafio fugir delas. No início, lidei com várias: ‘Seu pai não agiria assim’ ou “No tempo do seu pai os resultados eram outros’”, recorda Mário Henrique. Outro teste veio com o ingresso do fundo norte-americano General Atlantic, que comprou 17% da empresa no fim de 2015. O fundo contratou uma empresa para avaliar a atuação dos irmãos. Foram todos validados. “Foi ótimo, porque nos deu transparência”, avalia Patriciana.
Os irmãos estão focados agora na perpetuação e no aprimoramento da empresa – cada um na sua área. “O Deusmar continua na companhia e já avisou que não sairá antes dos 90 anos. Mas gradativamente fui aplicando meu estilo de gestão, mais analítico, focando em resultados através de indicadores e métricas para assim poder avaliar melhor o desempenho de cada colaborador”, diz o presidente.
Um dos caminhos à frente da Pague Menos pode ser o IPO (lançamento de ações em bolsa), que já foi cogitado no passado. Para tanto, a experiência de Mário Henrique com mercado financeiro é um grande trampolim.
SEDE: Fortaleza (CE)
FUNDAÇÃO: 1981
FUNCIONÁRIOS: 22,1 mil
RECEITA BRUTA 2017: R$ 6,3 bilhões
Reportagem publicada na edição 57, lançada em março de 2018