Quando, no início de seu curso de administração de empresas pela PUC-SP, Rodrigo Galvão foi contratado pela Oracle como estagiário da área de finanças, não tinha ideia de que, menos de duas décadas mais tarde, estaria à frente das operações da companhia no Brasil.
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“Estava na faculdade, indo em direção ao estacionamento, e passei por um mural com anúncios de posições de estágio abertas. Lembro que vi um cartaz da Oracle, que era só uma folha escrito o nome da empresa e um e-mail. Mandei o currículo e estou aqui até hoje”, relembra o executivo de 36 anos.
Galvão diz que, logo no início, percebeu que seu caminho não estava nas finanças. “Achava que não era aquilo que fazia meus olhos brilharem e percebi uma aptidão para a área comercial”, conta. Cerca de um ano e meio mais tarde, entrou no time de vendas por telefone. Aos poucos, começaram as promoções e ele passou a assumir posições de liderança. “Uma coisa que vejo hoje, ao olhar para trás, é que, para entrar em uma empresa, você tem de começar na posição que está disponível”, ensina.
“Nunca pulei nenhum passo nem desenhei na minha cabeça que queria ser o presidente da Oracle. Como todo bom esportista, sempre quis ganhar um jogo após o outro, completar um desafio após o outro”, conta Galvão, que busca no esporte e na música sua motivação. “É engraçado pensar em quantas vezes eu já ouvi que precisava deixar a empresa para ganhar musculatura e ter experiência. Respeito essas opiniões, mas não existe uma vacina para todas as doenças. Cada um tem a sua história”, afirma.
Desde que assumiu o comando da Oracle, o executivo tem capitaneado importantes mudanças na companhia. “Fui convidado para assumir a empresa no Brasil em um momento em que o mercado passa por transformações digital e cultural”. Na parte cultural, Rodrigo defende que uma empresa tem de ter uma causa. “Nossa missão é mudar o mundo por meio da tecnologia”, exemplifica. Além disso, durante sua gestão, já foram implementadas diversas iniciativas para mudar a cultura da empresa. Uma delas foi a criação de um bicicletário e de um vestiário para os funcionários. “Vou e volto de bicicleta. As pessoas tinham a mesma vontade, então, criamos essa estrutura. Hoje, cerca de 70 ou 80 pessoas a utilizam”, conta.
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Em relação às mudanças na estratégia de negócios, Galvão fala de uma disrupção. “Começamos a passar do modelo tradicional de venda de tecnologia para um modelo de venda de serviço. Isso faz com que precisemos de profissionais preparados. Hoje, o bom profissional não é mais aquele que frequentou a melhor universidade ou o que é mais inteligente. Passa a ser aquele que se adapta às mudanças”, explica.
Grande parte de seu modelo de gestão consiste em trabalhar com brilho nos olhos e se divertir com as demandas do dia a dia. “Se eu passo 70% do meu tempo no trabalho, não posso transformar isso em uma coisa chata”, explica. Ele diz que outra coisa que o guia é a percepção de que não existe uma separação clara entre vida pessoal e profissional. “Sou uma pessoa só. Então, é tudo uma questão de autenticidade, transparência e valores claros.” Além disso, Galvão afirma apostar em cinco pilares: desenvolvimento do profissional, educação, empreendedorismo, cidadania corporativa e satisfação do cliente.
Além de se formar em administração de empresas, Galvão fez dois MBAs no exterior. Ele diz que, apesar de considerar o estudos fundamental, suas inspirações vão além dele. “No esporte coletivo, aprendi a importância de fazer todo mundo se sentir importante. No esporte solitário, como o tênis, aprendi a tomar decisões corretas, na hora certa, e a respeitar e aprender com as derrotas. A música também me traz inspiração. Gosto de cantar e de tocar violão.” Segundo o executivo, outra inspiração importante foram muitos gestores e colegas com quem trabalhou. “Uma coisa é você ler sobre, outra é você ver as pessoas em ação.”
Galvão, que é casado e tem dois filhos, afirma dar muita importância ao tempo que passa com sua família. “Valorizo demais o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Acho super importante termos tempo. Não acredito que o melhor profissional é o cara que trabalha mais, e sim aquele que consegue administrar melhor o seu tempo.” O executivo também diz que seu pai e seu sogro foram outras grandes inspirações para o seu modelo de gestão.
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Ao fazer um balanço do ano em que passou à frente da Oracle, Galvão afirma que ainda tem muito a aprender. “Quando você assume a presidência, vê que tudo o que pensava é totalmente diferente. Em 12 meses, parece que se passaram 12 anos. A gente nunca está 100% preparado para a próxima posição. Há um ano, eu era um cara completamente diferente do que eu sou hoje”, conclui.