Mudar o modelo de negócio é comum na evolução de uma startup. Mas raramente a consequência disso é a entrada de seu fundador na lista americana Under 30 da FORBES – ainda mais se o empreendedor for um brasileiro. Foi o que aconteceu com Victor Santos, 26 anos, e sua startup Airfox, que desenvolveu uma carteira virtual para smartphone baseada em blockchain – a tecnologia por trás do bitcoin –, depois de fazer certo sucesso vendendo licenciamento de tecnologia para empresas de telefonia nos EUA.
Santos é hoje considerado um jovem influenciador em empreendedorismo social – sua solução é destinada às pessoas que não têm conta bancária (nada menos que 50% da população mundial). “O usuário Airfox pode colocar dinheiro na carteira virtual e comprar o bilhete do ônibus, fazer a recarga do celular e pagar as contas de água e de luz”, afirma o empreendedor. Os depósitos na carteira virtual são feitos por meio da emissão de boletos.
“Usando a plataforma por 30 dias, é possível qualificar se o usuário pode reivindicar um microempréstimo sem consultar os serviços de proteção ao crédito”, afirma Santos. A plataforma solicita autorização para acessar a localização e a rede de contatos do usuário. Com no mínimo 15 dias de uso, é possível elaborar um perfil de risco e a definição da taxa de juros do empréstimo. “Criamos um algoritmo que detecta a previsibilidade de deslocamentos do usuário, como a ida ao trabalho”, explica. Isso ajuda a determinar seus hábitos e seu grau de confiabilidade.
Após a definição do perfil do usuário, qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo, pode oferecer-lhe empréstimos – sem saber sua identidade. “Essa pessoa compra um AirToken e obtém o direito de acessar a lista dos instrumentos financeiros”, explica Santos. O que ele chama de instrumentos financeiros são as análises de crédito do detentor da carteira virtual. Em troca, o comprador do AirToken recebe juros sobre o empréstimo que concedeu.
A utilização de tokens não se restringe ao emprestador. O detentor da carteira virtual pode recebê-los para fazer a recarga de celular ou realizar compras em e-commerces parceiros – Santos não revela nomes, pois ainda estão em fase de negociações. “O usuário recebe tokens ao indicar amigos ou visualizar vídeos de publicidade”, diz.
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A carteira virtual foi lançada no fim de fevereiro no Brasil, e rapidamente foi baixada em 3 mil smartphones. Os microempréstimos ainda não se iniciaram, mas serão financiados com os US$ 15 milhões que a Airfox levantou em uma oferta inicial de moeda (ICO, na sigla em inglês), uma espécie de oferta inicial de ações (IPO) que, em vez de ações, concede criptomoedas ou tokens que dão direito a algum serviço ou participação na empresa.
A startup foi criada no Vale do Silício e atualmente tem sede em Boston. O serviço de carteira virtual está disponível apenas no Brasil, mercado que vai ser o foco da Airfox até 2019. O plano, em seguida, é avançar para outros países da América Latina.
Reportagem publicada na edição 58, lançada em abril de 2018