Quando o assunto é barril de petróleo a US$ 200, as últimas notícias sobre o Irã fazem o tema reverberar de outra forma. O país pode tornar esse cenário uma realidade com apenas o bloqueio parcial do Estreito de Ormuz.
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A agência de notícias Reuters detalhou recentemente as operações militares iranianas que poderiam interromper o fornecimento do petróleo que passa pelo Estreito de Hormuz: 18 milhões de barris por dia, ou cerca de 20% da oferta mundial.
E como chegaremos ao preço do barril a mais de US$ 200? É preciso fazer uma análise econômica para entender tal situação.
A agência norte-americana Crude Oil Imports estima um índice de -0,04 para a flexibilidade/preço da procura por petróleo bruto. Ou seja, se a quantidade ofertada ao mercado for reduzida em 10%, o preço do barril aumentará em 250%. Com o petróleo atualmente em US$ 70 por barril, uma interrupção na navegação no estreito de Hormuz levaria a um aumento de preço de US$ 175 por barril, ou um total de US$ 245 por barril.
O presidente Donald Trump está correto ao afirmar que os Estados Unidos pagaram muito dinheiro pela defesa dos interesses petrolíferos no Oriente Médio. O projeto O Custo da Guerra, da Brown University, estima os gastos com os conflitos desde o 11 de Setembro em US$ 5,6 trilhões. Sem falar nas baixas militares de 6.961 mortos e 52.682 feridos.
O ex-presidente dos EUA Dwight D. Eisenhower evitou a armadilha ao rejeitar os apelos da Grã-Bretanha, França e Israel para entrar na Guerra de Suez, em 1956. Ao entender que os conflitos no Oriente Médio eram sobre quem possuía o petróleo e sua produção, o pragmático Eisenhower percebeu que as nações consumidoras comprariam o produto sem se importarem com quem o vendeu a elas.
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Ele também percebeu que a dependência estratégica do petróleo barato do Oriente Médio prejudicaria a segurança nacional dos EUA e a capacidade dos militares norte-americanos de projetar linhas de suprimento durante a Guerra Fria. Eisenhower, então, impôs uma cota de importação de petróleo em 1959 para limitar a dependência dos EUA do produto bruto estrangeiro. O preço do barril no país era aproximadamente o dobro do preço mundial, e a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) foi formada em resposta a esse cenário. A indústria petrolífera norte-americana era estável e robusta.
Essa política permaneceu em vigor até que seu vice-presidente, agora presidente, Richard Nixon, retirasse as restrições à importação.
A ironia hoje é que os Estados Unidos iniciaram um regime de tarifas em nome da proteção nacional das indústrias de aço e alumínio do país, mas excluíram o setor do petróleo dessas medidas. Resta saber por quê, já que essa política beneficiaria a segurança dos EUA ao diminuir a dependência da OPEP. Os preços mais altos do petróleo no mercado interno também podem estimular o crescimento de empregos e uma transição mais rápida para combustíveis alternativos.
Tarifas ou restrições de importação podem eliminar a exposição a oscilações de preços descendentes e proteger a indústria nacional dos amigos e dos inimigos. Em 2014, a Arábia Saudita aumentou a produção para reduzir o preço, o que custou aos EUA 250 mil empregos diretos, mais de 300 falências, mais de US$ 250 bilhões em capital perdido, outros bilhões em perda de PIB, e mais bilhões em impostos locais, estaduais e federais.
No caso de um bloqueio iraniano ou de uma guerra no Estreito de Ormuz, é provável que o Congresso norte-americano proiba novamente as exportações, mas as refinarias locais podem não conseguir se ajustar rapidamente à operação. O estoque da Reserva Estratégica de Petróleo possivelmente poderia ajudar a curto prazo, mas nunca foi testado em até 10% da capacidade de redução. Os consumidores possivelmente enfrentarão escassez e preços mais altos.