Caçula de cinco irmãos, ele nasceu cercado de conforto. Seu pai, Júlio Kogut Neto, era diretor da United States Information Agency (Usia) em Curitiba. A família vivia em uma casa “enorme”, era protegida por seguranças, as crianças estudavam nas melhores escolas e andavam nos carros do corpo consular. Além disso, Júlio era o idealizador do glamouroso festival de cinema local, que recebeu estrelas como Janet Leigh e Anthony Perkins no auge da carreira.
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“Um dia, o governo dos EUA decidiu fechar a Usia de Curitiba. Ofereceram ao meu pai transferência para São Paulo ou Washington, mas ele recusou”, conta Marcio Kogut, 45 anos. O pai investiu tudo em um negócio próprio. Faliu e entrou em depressão. “Ele não conseguiu mais trabalhar. Por isso, me vi obrigado a empreender desde cedo. Aos 17 anos, eu e meu irmão Marcelo abrimos a primeira empresa de computadores de Curitiba. A gente comprava as peças, montava e vendia para grandes empresas”, lembra. O negócio cresceu – até que o Plano Collor abriu o mercado e ficou impossível competir com as gigantes de tecnologia. Aos 22 anos, Marcio também conheceu o gosto da bancarrota.
Mudou-se para São Paulo. Aprendeu a fazer sites, criou a Kogut e chamou Marcelo para ajudar na empreitada. Entraram no segmento de consórcios, no qual se especializaram. “O primeiro e-commerce de consórcios fomos nós que desenvolvemos, em 2002”, conta Marcio. “Desde então, todas as inovações implantadas no segmento, sem exceção, foi a Kogut que criou”, diz, sem modéstia. “Agora, depois de gerar mais de R$ 10 bilhões em vendas para as administradoras, achamos que era hora de fazer nosso próprio negócio nessa área.”
O negócio a que ele se refere chama-se Mycon, primeira fintech de consórcios que vai funcionar sem vendedores humanos (chats e áudios serão conduzidos por robôs alimentados por inteligência artificial), com “a menor taxa de administração do mercado” e que, segundo Marcio, abordará os clientes de forma consultiva, “jamais empurrando o produto com promessas falsas”. Como um consultor financeiro, a plataforma vai indicar as melhores opções para o interessado e pode até desaconselhar a adesão. “O Mycon vai aconselhar que ninguém comprometa mais de 30% da renda”, exemplifica.
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Marcio e Marcelo investiram R$ 5 milhões na plataforma, que aguarda os últimos trâmites junto ao Banco Central para o lançamento oficial no mercado. “Em cinco anos, nossa projeção é chegar a R$ 1 bilhão em créditos vendidos. Vamos fazer do Mycon um unicórnio.”
VALE DO SILÍCIO PAULISTANO
O Mycon terá sua sede na Kogut Labs, edifício de cinco andares que os irmãos construíram na Vila Olímpia (bairro que chamam de Vale do Silício paulistano) “com R$ 10 milhões do próprio bolso”. A equipe da plataforma trabalhará ao lado de outras fintechs da dupla – como o PagConsórcio e Pay1, plataforma de pagamentos que está sendo negociada com “uma das maiores empresas de tecnologia bancária da Itália”, segundo Marcio. “A Kogut Labs nasce com a proposta de ser um hub de fintechs, um ecossistema de inovação com cursos, treinamentos, eventos… Vamos selecionar e acelerar aqui mais dez fintechs. Para investir nelas, contamos com fundos parceiros – como a Ibirá Partners, que, com recursos próprios e de investidores europeus, vai investir até € 15 milhões nos próximos 18 meses.”
Reportagem publicada na edição 58, lançada em abril de 2018