A Polícia Federal indiciou o empresário Abilio Diniz, ex-presidente do Conselho de Administração da BRF e 12º homem mais rico do país, segundo a FORBES Brasil, com patrimônio estimado em R$ 9,65 bilhões, e ex-diretores de uma das maiores empresas alimentícias do mundo. Os executivos são acusados de organização criminosa, estelionato, falsidade ideológica e crime contra a saúde pública. Entre eles está Pedro Faria, ex-presidente da empresa, que chegou a ser preso no começo do ano. As informações são do jornal “O Globo”.
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A medida é consequência da Operação Trapaça, segunda fase da Operação Carne Fraca, deflagrada em março do ano passado para investigar empresas do setor por adulteração de carne vendida aos mercados interno e externo. No relatório, assinado pelo delegado Maurício Moscardi Grillo, a Polícia Federal usou a troca de mensagens por meio do aplicativo WhatsApp e acesso a e-mails para indiciar Abilio Diniz e Pedro Faria.
Ao todo, foram 43 indiciados na operação. Caberá ao Ministério Público Federal decidir se oferece denúncia com base nas conclusões da polícia, se pede novas diligências ou se arquiva a apuração, por não considerar haver provas para fazer uma acusação criminal contra os citados.
No relatório de 404 páginas, o delegado Grillo afirma que na análise de arquivos durante a investigação, como conversas por mensagens de emails e WhatsApp, “concluiu-se a prática das condutas delitivas não se restringia ao círculo das equipes técnica e gerencial das fábricas da BRF”.
“Há, de fato, a participação do corpo diretivo da empresa na trama investigada, o qual tinha ciência de seu modus operandi, e que, não somente se omitiu em relação a fazer cessá-lo, mas, também, participou comissivamente dos atos de ocultação das fraudes, norteando sua execução”, diz o relatório.
“Destaca-se a participação ativa, em caso envolvendo a detecção de resíduo tóxico em carne de frango pelas autoridades chinesas (Dioxina), de Pedro de Andrade Faria (à época diretor-presidente global do grupo BRF), Abilio dos Santos Diniz (à época Presidente do Conselho da BRF) e José Carlos Reis de Magalhães Neto, sócio da Tarpon Investimentos”, segundo o relatório.
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Em um dos casos citados no relatório, a PF relata uma conversa por WhatsApp entre Pedro Faria, Abilio Diniz e José Carlos, de 12 de dezembro de 2014.
Entre as mensagens citadas no relatório da PF, consta comunicação de Abilio com Faria e Magalhães Neto em que o executivo afirma: “Não estou a par mas enquanto pudermos não alimentar mais é melhor. Mas temos ótimos assessores, confio neles”.
Para a PF, o contexto das conversas indica o conhecimento dos principais executivos da BRF sobre os problemas.
“Abilio Diniz e Pedro Faria, pela posição hierárquica que ostentavam no quadro corporativo do grupo, possuíam plena capacidade de orientar os círculos sob sua subordinação a tomar as medidas técnicas e eficazes, em âmbito sanitário, para que se determinasse a causa-raiz da contaminação química dos produtos destinados ao consumo e a regularização do processo industrial.”
O delegado anota que, contudo, o que ocorreu na conversa foi a “lamentação” dos executivos do vazamento da informação, a interlocução com a então ministra da Agricultura, a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), e a tomada de medidas com o objetivo de “abafar” a disseminação de fatos descritos em matéria veiculada na imprensa nacional.
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O escândalo da carne adulterada no Brasil envolveu mais de 30 empresas, acusadas de comercializar carne estragada, mudar a data de vencimento, maquiar o aspecto e usar produtos químicos para tentar revender os produtos. Agentes do governo foram acusados de liberar a mercadoria imprópria para consumo.
Procurado, Abilio Diniz, por meio de sua assessoria de imprensa, disse: “Abilio Diniz não cometeu nenhuma irregularidade como Presidente do Conselho de Administração da BRF. No relatório apresentado pela Polícia Federal, não existem elementos que demonstrem irregularidades cometidas por ele. É importante ressaltar que o indiciamento não indica culpa, mas apenas que a autoridade policial considera haver indícios de atos ilícitos, o que será apreciado ainda pelo Ministério Público”.
A BRF é presidida, atualmente, por Pedro Parente, que deixou a Petrobras em junho deste ano para assumir o cargo na gigante alimentícia. Também por meio de comunicado de sua assessoria de imprensa, a companhia disse: “É de interesse máximo da administração da BRF que os fatos relacionados às investigações das autoridades sejam esclarecidos em toda a sua profundidade e extensão, uma vez que a empresa tem como princípio tolerância zero com qualquer tipo de conduta indevida. Neste sentido, a companhia decidiu afastar preventivamente todos os funcionários citados no relatório do inquérito da Polícia Federal até o esclarecimento dos fatos. A BRF vem mantendo conversas de forma ampla e transparente com as autoridades encarregadas das investigações, com o objetivo de colaborar com o esclarecimento dos fatos. Ao mesmo tempo, prosseguirá as avaliações internas lideradas pelo Comitê Independente de Investigação, ligado ao Comitê de Auditoria Estatutário, que tem mandato para elucidar todos os fatos que foram ou venham a ser levantados. A companhia entende que este processo de cooperação constante com as autoridades fortalece e consolida as mudanças e aprimoramentos que a empresa implementou em seus processos e regramentos internos, com o objetivo de garantir os mais elevados padrões de segurança, integridade e qualidade”.