Quando a empreendedora social Shayna Fowler entrou em um avião para passar um ano no leste da África, rumo a um projeto voluntário em escolas e instituições de internação voltadas aos jovens, ela não sabia que a viagem — ou uma menina — mudaria toda a sua trajetória de sua vida. O nome dela era Esther.
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A estudante de 16 anos logo se tornaria a inspiração para a startup de Shayna Fowler, Khana Panties, onde, ao comprar algo, você tem a oportunidade de fazer com que uma marca de roupas íntimas ajude meninas do mundo todo e contribua para o desenvolvimento da conscientização, ao fazê-las administrar a própria menstruação e permanecer na escola.
De acordo com Fowler, a história de Khana teve início num dia em que Esther não apareceu para a aula. Esse dia se tornou uma semana, e Fowler descobriu que garotas como Esther não frequentavam a escola uma semana por mês devido aos ciclos menstruais. Sem acesso a produtos adequados de higiene feminina, as meninas não saem de casa quando menstruadas.
Infelizmente, o problema não era apenas de Esther ou de suas colegas de classe, mas de quase toda a África Oriental.
Um abismo global
Shayna Fowler descobriu que mais de 8 milhões de meninas na África Subsaariana perdem aulas nos ciclos menstruais e que muitas desistem por completo da escola quando começam a menstruar. No mundo todo, segundo a Unicef, a falta de produtos de higiene feminina é uma barreira para mais de 500 milhões de garotas. “Isso priva as meninas de educação, afetando a sua participação no mercado de trabalho, no futuro, e ampliando o abismo de oportunidades para as mulheres”, diz a empreendedora.
Mas Fowler, uma empresária por natureza, deixou Uganda inspirada, a fim de criar uma solução. Ela se perguntou se doar produtos de higiene feminina para as escolas poderia ajudar, e acabou descobrindo que muitos desses produtos são proibidos por questões culturais. Mesmo os tradicionais absorventes, a opção favorita da maioria das meninas, representavam um problema no uso: a maioria das meninas não tinha uma calcinha para mantê-los no lugar.
Sem algo para segurar os absorventes, as doações não fariam sentido. Foi então que nasceu a ideia de Khana: uma calcinha própria para a menstruação.
Design diferenciado
De volta aos Estados Unidos, Shayna Fowler começou a trabalhar a ideia. Depois de descartar um primeiro rascunho, ela decidiu fazer de Khana uma marca um-a-um, mas com uma ressalva. “Mulheres diferentes precisam de calcinhas diferentes para lugares diferentes”, pensou.
Junto à sócia e diretora da marca, Alex Ry, também com 22 anos então, ela passou um ano e meio pesquisando a indústria de roupas íntimas. As duas também mudaram de endereço, adotando um centro comercial, Los Angeles, como sede. Depois de 1.142 entrevistas com mulheres de todo o país e contatos locais em Uganda, a dupla estabeleceu um modelo de negócios e design que acredita ter impacto duradouro.
De acordo com Fowler, a Khana Panties une modelos de calcinha diferentes, de propósito: a peça que uma consumidora compra nos EUA e a peça que uma menina recebe em troca, na África, não são a mesma. Quando uma mulher compra uma calcinha tradicional de corte de biquíni de Khana, uma jovem garota de Uganda receberá uma calcinha à prova de menstruação projetada para mantê-la na escola, além de fornecer uma maneira fácil e acessível de gerenciar a menstruação.
As calcinhas para as consumidoras norte-americanas serão fabricadas nos EUA, criando oportunidades econômicas no entorno, enquanto as calcinhas de Uganda serão produzidas no próprio país, também apoiando a economia local. Uma vez produzida a calcinha, os parceiros de doação vão se associar a professores e escolas ugandenses para distribuir as calcinhas e fornecer educação às estudantes sobre higiene feminina.
“As meninas vão aprender o quão poderoso é ser mulher, assim como a melhor forma de cuidar de si e do corpo quando estão menstruadas”, disse Fowler. “Acreditamos que, quando as necessidades básicas de uma garota são atendidas, ela pode se concentrar menos em sobreviver no mundo e mais em transformá-lo”, diz a empreendedora social.
A palavra Khana, que significa “menina” na língua mbale, simboliza o início da história — com a garota, Esther. Ao lembrar a origem de tudo, Shayna Fowler resume a missão de Khana: “Qualidade excepcional para você, oportunidades iguais para ela”.
Khana, diz a empreendedora, pode ser a calcinha mais poderosa do mundo, convidando consumidoras conscientes a fazer parte de uma grande mudança.