Combater doenças raras é um dos maiores desafios da medicina hoje e sempre. De acordo com a Global Genes, os cientistas já descobriram cerca de 7 mil tipos diferentes, que juntos afetam 350 milhões de pessoas em todo o mundo. No entanto, de tão graves e complexas, essas doenças quase sempre são incuráveis. Uma startup de biotecnologia inglesa quer agora mudar esse cenário, lançando mão dos recursos de aprendizado da inteligência artificial (IA).
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Fundada em 2014 pelo engenheiro bioquímico Tim Guilliams e pelo inventor do Viagra, David Brown, a Healx empreende uma missão para melhorar a vida de pacientes com doenças raras, encontrando novos usos para medicamentos já existentes. A empresa recentemente levantou US$ 10 milhões em financiamentos para levar a sua tecnologia a um novo nível.
“A Healx combina IA, especialização em farmacologia e conhecimentos de grupos de pacientes para acelerar tratamentos de doenças raras. Acreditamos que todo paciente nessa condição merece atenção e cuidado, independentemente do tamanho do mercado”, diz Guilliams, CEO e co-fundador da Healx. “Nossa plataforma permite prever terapias com precisão e segurança maiores, muito mais rápidas do que as abordagens convencionais. Estamos mudando todo o modelo.”
Fazendo o impossível
Guilliams e Brown decidiram criar a Healx depois de entrar em contato com a história do empresário americano Matt Might, cujo filho Betrand foi diagnosticado com uma nova doença rara, chamada NGLY1.
“Os médicos disseram que não havia esperança nem tratamento. Depois de ler a história na revista New Yorker, entramos em contato com Matt para ajudar a encontrar um tratamento para o filho. Matt e Betrand não estavam mais sozinhos”, explica Guilliams.
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Segundo o engenheiro bioquímico, o modelo tradicional de descoberta de remédios é falho e deixa de lado pacientes com doenças raras. “É um modelo voltado a drogas para o dia a dia, produzidas para grandes populações. Um remédio leva de 12 a 15 anos para ser desenvolvido e consome cerca de US$ 1,8 bilhão em investimentos. Não é um modelo comercial viável para doenças raras, já que seriam necessários mais de US$ 13 trilhões e milhares de anos de pesquisa para desenvolver tratamentos potenciais para 7 mil males distintos.”
“Para resolver esse problema, desenvolvemos a HealNet, uma plataforma de inteligência artificial que inaugura outro modelo para o desenvolvimento de medicamentos em menor tempo e com menor custo, enquanto aumenta as chances de sucesso clínico em massa.”
Apoiada por uma base abrangente de dados sobre doenças raras, a plataforma pode encontrar terapias adequadas muito mais rapidamente que as abordagens convencionais. “Nossos algoritmos de inteligência artificial e machine learning podem prever tratamentos para doenças raras com maior precisão. Mais de 20 fontes de dados estão sendo analisadas com técnicas de aprendizado de máquina supervisionadas e não supervisionadas para capacitar nossa equipe de farmacologia a tomar decisões melhores com agilidade”, diz Guilliams.
Tecnologia a postos
Recentemente, a Healx passou a trabalhar em estreita colaboração com a Fraxa Foundation para encontrar uma cura para a condição genética da Síndrome do X Frágil. É a causa hereditária mais comum de autismo e de dificuldades de aprendizagem, e afeta 1 em 4 mil homens e 1 em 8 mil mulheres.
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“Como a maioria das doenças raras, é uma condição difícil ainda sem tratamento. A missão era aplicar nossa tecnologia e abordagem para identificar e validar medicamentos já aprovados que podem tratar alguns dos sintomas mais graves da doença”, continua Guilliams. “Combinamos nossa tecnologia de comparação de medicamentos e conhecimento farmacológico especializado para priorizar oito candidatos ao tratamento dos sintomas da Síndrome do X Frágil. Todas as nossas previsões demonstraram alguma eficácia na validação pré-clínica. Uma foi particularmente potente e vai progredir para o ensaio clínico de segunda fase em breve. Levamos apenas 18 meses para chegar a esse resultado. É notável.”
Segundo o diretor científico da Fraxa, Michael Tranfaglia, descobertas clinicamente úteis não são frequentes, apesar do investimento de mais de US$ 27 milhões em financiamento direto de pesquisas. Mas a colaboração com a Healx tem performance radical. “Nossos estudos de reaproveitamento são extraordinariamente produtivos e representam uma importante mudança de paradigma na pesquisa do X Frágil. Em um período curto e com pouquíssimo custo, a Healx nos ajudou a identificar uma série de novas terapêuticas, que passam agora por testes clínicos”.
De olho no futuro
Comprovada a eficácia da plataforma de IA, HealNet, Guilliams e sua equipe querem implantá-la em escala e encontrar curas para 100 doenças raras até 2025. Eles também trabalham na integração entre armazenamento de dados e medicina de precisão.
“As doenças raras são uma oportunidade para amadurecer nossa tecnologia para prever com precisão o curso individual do tratamento. Afinal, a condição de cada paciente e as características da doença são uma combinação difícil de encontrar. Num futuro próximo, os tratamentos serão diferentes do que estamos acostumados a encontrar — eles devem ser adaptados a cada paciente”, diz Guilliams.
Nos próximos anos, Guilliams acredita que a aprendizagem por máquinas e a inteligência artificial terão um impacto revolucionário em todo o setor de saúde. “Uma vez que a IA esteja totalmente integrada, ela automatizará a estruturação e a consolidação dos dados médicos, aprenderá com eles e aplicará seu conhecimento para descobrir intervenções terapêuticas putativas, mesmo antes de a doença afetar o indivíduo. O futuro da medicina será mais ágil, barato e eficiente”, conclui Guilliams.