Sempre ouço meus amigos dizerem que odeiam seu carro, odeiam engarrafamentos, odeiam procurar um lugar para estacionar, odeiam dirigir – já que parece um desperdício de tempo – e eu mesmo odeio desperdício. Quando nós fundamos o Waze, tínhamos o sonho de ajudar as pessoas a evitar congestionamentos e acreditávamos genuinamente que o tráfego melhoraria por causa do aplicativo de navegação. Isso foi em 2007, 2008 e aqui estamos hoje, 10 anos depois, com congestionamentos piores do que nunca.
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Então, como acabar com os engarrafamentos?
Pense no que já foi construído sobre a terra – casas, edifícios, estradas, shoppings, fábricas, estacionamentos. De fato, um terço do que construímos são edifícios, um terço são estradas e um terço são estacionamentos. Em outras palavras, um terço para nós, um terço para nossos carros se moverem e um terço para nossos carros descansarem.
Imagine agora a via principal que você pega todos os dias para ir ao trabalho, e então um trecho de um quilômetro e meio dessa via no horário de pico. Nesse trecho, há cerca de 70 veículos, que levam umas 80 pessoas – 80 pessoas em um quilômetro e meio.
O problema é esse: nós ocupamos muito espaço, e não há estradas suficientes para nos servir. Só para esclarecer, um carro compacto tem 4,5 metros de comprimento. Na hora do rush, o tráfego se move a 24 km/h, o que nos obriga a manter uma distância de cerca de 18 metros de um carro a outro, extra que estica o veículo para 22,5 metros.
Além disso, o número médio de pessoas por carro é apenas 1,1, o que resulta em 80 pessoas por quilômetro no horário de pico. Isso representa uma taxa de transferência muito baixa: em uma rodovia de cinco faixas, cerca de 100 pessoas andam 1,5 km por minuto na hora do rush.
Quando entendemos a natureza desse problema, fica claro como podemos acabar com os congestionamentos. Veja, na galeria de fotos abaixo, três soluções para isso:
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Getty Images Carros autônomos
Enquanto continuarmos dirigindo, continuará havendo acidentes. Já veículos autônomos conseguem realizar a tarefa de dirigir mais rápido sem precisar manter longa distância do carro à frente. Por isso, é preciso haver pistas exclusivas para autônomos.
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Getty Images Veículos menores
Bons exemplos seriam patinetes ou bicicletas. Na verdade, meu principal meio de transporte em Tel Aviv é minha bicicleta que, em muitos casos, eu uso em conjunto com outros meios: levo-a no trem ou no porta-malas do carro. Essa pode ser uma solução, mas existem condições. A primeira delas diz respeito à disponibilidade de bicicletas e patinetes (a regra geral é que deve haver uma bicicleta ou patinete disponível a cada 90 metros, em estandes públicos). Em segundo lugar, as faixas exclusivas não podem tomar conta das calçadas nem das estradas, bloqueando o trânsito de pedestres e de carros. Em terceiro, essa solução não é para todos, afinal, quem não sabe andar de bicicleta não aprenderá do dia para a noite.
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Getty Images Mais gente por carro
Isso pode ser feito através de dois métodos principais: compartilhamento de caronas e transporte público ou táxis.
. compartilhamento de carona (como o oferecido pelo Waze): será incrivelmente impactante, se bem-sucedido. Dois passageiros em um veículo, em vez de um único, reduzirão drasticamente os congestionamentos, embora o desafio aqui seja conquistar os passageiros (combinar origem, destino e tempo do trajeto, já que ninguém quer esperar mais ou se desviar da rota original)
. sistema de transporte público eficaz: seria o fim dos engarrafamentos. Podemos ter o metrô de Nova York como um modelo de eficiência. Quando escolhemos um meio de transporte, nos preocupamos com três coisas: tempo, conveniência e custo. Se pudéssemos construir um sistema de transporte público em qualquer cidade que atendesse a esses três requisitos, sem gastar bilhões em infraestrutura, seria incrível.
Podemos imaginar uma estrada com um sistema baseado em grade, pequenos veículos circulando em maior frequência, faixas exclusivas e subsidiadas. Isso é simples, basta transformar algumas ruas e avenidas em pistas exclusivas para transporte público. Se cada ônibus faz viagens de ida e volta na mesma avenida, e há muitos deles, a demanda é atendida pela alta frequência de ônibus passando pelo ponto. Essas viagens seriam gratuitas ou oferecidas ao público a um custo muito baixo.
Esse modelo poderia funcionar, mas existem duas questões a ressaltar. Primeiro, o salário dos motoristas: quando você começa a analisar o custo de um veículo, percebe que o valor da operação dos elétricos pode ser tão baixo, algo como US$ 2 a US$ 3 por hora. Já o salário de um motorista pode ser dez vezes maior que isso. Em um cálculo rápido, podemos supor que uma avenida exclusiva para transporte público exigirá um veículo a cada minuto no horário de pico, ou seja, 60 ônibus por hora. Um único motorista faz duas viagens de ida e volta na hora do rush, então são 30 motoristas por rua. Se você quiser que isso funcione em 100 ruas e avenidas, seriam necessários cerca de 15 mil motoristas para operar esse sistema, com um custo de US$ 1 bilhão ao ano com motoristas. Agora pense em veículos autônomos como uma solução para isso — é disso que precisamos.
. áreas suburbanas: o que moradores de regiões suburbanas podem fazer? Um caminho seria usar o compartilhamento de caronas até locais com sistema de transporte público adequado. As pessoas costumam dirigir de casa até a estação de trem, não encontram lugar para estacionar e acabam seguindo de carro até a metrópole — o que piora o congestionamento. Por essa razão, se um serviço de estacionamento fosse oferecido dentro de um raio de 4 a 6 quilômetros de cada estação de trem, o número total de carros que viajam para a cidade seria drasticamente reduzido.
Se você imaginar um serviço de carona semelhante ao do Uber e, em seguida, implementar esse projeto — sem o custo do motorista — as cidades ficarão lotadas por esses veículos e será quase impossível se locomover. A verdade é que, embora você acredite que é um serviço melhor porque é mais barato, a oferta será muito maior do que a demanda, o que significa que os congestionamentos serão insuportáveis.
Se, no entanto, veículos autônomos forem usados como transporte público, com faixas exclusivas, então devemos esperar ecossistemas muito mais eficientes em nossas cidades.
Carros autônomos
Enquanto continuarmos dirigindo, continuará havendo acidentes. Já veículos autônomos conseguem realizar a tarefa de dirigir mais rápido sem precisar manter longa distância do carro à frente. Por isso, é preciso haver pistas exclusivas para autônomos.