Na semana passada, o Bank of America informou que o comércio mais efervescente do globo é agora o dos mercados emergentes. Com certeza, o dólar mais fraco e a pausa do Fed contribuem para esse aquecimento dos mercados emergentes. Mas há um fator verde e amarelo nesse quadro: nos últimos doze meses, o Brasil está até batendo a China em desempenho e atratividade, embora Wall Street cada vez mais se convença de que a guerra comercial com os Estados Unidos está chegando ao fim.
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O iShares MSCI Brazil (EWZ), índice que mede investimentos em ações brasileiras, subiu 16% nos últimos doze meses, mais que o dobro do MSCI Emerging Markets Index. A Petrobras, petroleira estatal que esteve no centro dos escândalos de corrupção que assolam a política brasileira há três anos, viu seu valor crescer 28,5%. Nos últimos seis meses, se expandiu ainda mais — subiu 52%, uma das melhores performances em ações de mercados emergentes no período. Até mesmo a Turquia (TUR), país queridinho dos gestores de fundos que buscam custo baixo, é pequena diante do Brasil.
“O Brasil é o peso-pesado do momento”, diz Katherine Renfrew, gerente de fundos da TIAA Investments.
Jair Bolsonaro assumiu o poder há apenas um mês. Mas o mercado já está enfeitiçado por sua equipe econômica, liderada pelo ultra-liberal Paulo Guedes, banqueiro de investimentos e co-fundador do BTG Pactual. Guedes prometeu uma reforma previdenciária até março — para a aprovação pelo Congresso Nacional, no entanto, o prazo é maior, não termina antes de junho. Depois disso, uma reforma tributária e privatizações, outros elementos que o mercado enxerga como positivos na agenda econômica de Paulo Guedes e que devem ser empurrados para o final do ano.
A recente eleição de aliados de Bolsonaro para o comando da Câmara e do Senado — Rodrigo Maia e David Alcolumbre — são consideradas “vitórias-chave” deste novo governo, afirmou na última quinta-feira, em relatório, The Economist Intelligence Unit (EIU), braço da revista britânica The Economist que fornece serviços de previsão e consultoria por meio de pesquisa e análise. Maia e Alcolumbre, que conseguiram desbancar o enraizado Renan Calheiros, agora definem a agenda legislativa de Bolsonaro no Congresso.
Não se deve esperar um céu de brigadeiro para Bolsonaro. Partidos poderosos como o PSDB, por exemplo, devem dar apoio a Bolsonaro caso a caso. Por isso, para a gerente de fundos Katherine Renfrew, mesmo que Bolsonaro aprove uma reforma da Previdência fraca, com pequeno aumento da idade mínima para a aposentadoria, já será uma vitória. A reforma da Previdência é tida como fundamental para o desempenho brasileiro. Se ela se revelar um fiasco, Bolsonaro pode ter boas dificuldades à frente.
A ideia de Guedes é também implementar um sistema de capitalização, em que as contas individuais de contribuições obrigatórias são recuperáveis no momento da aposentadoria, em oposição ao sistema atual, em que as pensões são financiadas por um conjunto comum de contribuições dos trabalhadores na ativa. Esse esquema se aplicaria apenas aos novos ingressantes no mercado de trabalho. A unificação de funcionários públicos e trabalhadores privados também é provável, mas as pensões militares devem continuar em outro regime.
Outro desafio para o governo Bolsonaro é a insolvência dos estados. Sete deles, incluindo o Rio de Janeiro, admitiram um quadro de dificuldades financeiras neste ano. Paulo Fugulin, diretor de finanças públicas internacionais da Fitch Ratings em Nova York, disse na sexta-feira suspeitar que em breve outros estados se somarão a esses sete. Um dos obstáculos para a recuperação dessas unidades é que, ao contrário do que ocorre na Argentina, elas não vendem títulos públicos para estrangeiros.
O catalisador da crise fiscal dos estados foi a recessão de 2014-2016, agudizada pela campanha do impeachment de Dilma Rousseff, que paralisou o país. O PIB real do Brasil sofreu contração de 3,6% em 2015 e de 3,5% em 2016, seguida por uma fraca recuperação. Os investidores acham que a retomada pode ocorrer agora, com Paulo Guedes.
“O risco para esses mercados é a percepção de que são muito dependentes da política monetária norte-americana”, diz Scott Clemons, estrategista-chefe de investimentos da Brown Brothers Harriman. “E eu não acho que o Fed vá parar de subir os juros.”