Imagine um mundo onde, em vez de preços, houvesse dados. As pessoas não seriam mais divididas entre aquelas que têm dinheiro para pagar mais e as que não têm o suficiente para comprar nada. Em vez de usar o preço nas mensagens aos consumidores – como no slogan do Walmart, “Economize dinheiro, viva melhor” -, nossos celulares nos diriam o que comprar e a nossa renda corresponderia à nossa demografia. Se a pessoa precisasse de sapatos, por exemplo, receberia uma mensagem. Se não tivesse o suficiente para comprá-lo, uma quantia seria subtraída da conta de outra pessoa que não estivesse precisando de sapatos, tudo de forma automática. No fim, não precisaríamos do dinheiro ou da moeda, uma vez que elas são representações imperfeitas da oferta e demanda.
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As pessoas não gostam de preços, a não ser que sejam baixos. E, mesmo nesses casos, elas sempre ficam se perguntando por que valem aquilo. Os preços sempre dizem às pessoas o que fazer (não explicitamente), mas quando algo é caro, as pessoas tendem a conservar o item adquirido por mais tempo. Se for barato, é mais usado. Quando um produto está “saindo de moda”, há uma preocupação de que o preço vai cair para quase zero. Todos querem ganhar mais para gastar mais. As pessoas tentam economizar para evitar possíveis dificuldades, mas tentam equilibrar a economia com o aumento de preços – o que pode fazer com que o dinheiro valha menos no futuro do que atualmente.
Quando se trata de moradia, os socialistas não gostam da ideia de que os preços racionam e separam as soluções habitacionais dos indivíduos. Outros se ressentem com o aumento dos valores causado pela escassez, ao mesmo tempo em que se apegam à esperança de que ela aumentará o valor de sua própria casa, se eles a possuírem. Os proprietários são auxiliados pela inflação, enquanto os inquilinos são prejudicados.
Enquanto isso, os especialistas em planejamento acreditam que uma pessoa deveria gastar exatamente 30% de sua renda familiar bruta em moradia Se uma família gastar muito, ficará sobrecarregada com os custos. Se estiver gastando pouco, será culpada por ter mais do que o necessário ao ocupar uma unidade que seria própria para alguém com uma renda menor. Se todas as famílias pagassem exatamente 30% de sua renda bruta da habitação, não haveria crise imobiliária.
E se toda a luta sobre política habitacional pudesse ser resolvida com apenas um algoritmo? Se as rendas e moradia pudessem ser perfeitamente coordenadas, juntamente com outros bens de consumo, não precisaríamos de preços. As necessidades de alimentos poderiam ser determinadas de acordo com a ingestão de calorias e a produção poderia ser administrada sem lucros e perdas. Se eu estivesse com fome, meu celular me avisaria com base no tamanho do meu corpo.
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E a distribuição de recursos seria alinhada de forma semelhante. Quando eu quisesse ter um filho, precisaria de mais metragem quadrada para moradia e de mais renda. Quem não estivesse prestes a ter filhos, poderia ter alguns dos seus ganhos realocados para mim. Eles não se sentiriam lesados porque suas necessidades de quase tudo seriam calibradas conforme as de todos os outros – e tudo seria distribuído e redistribuído com perfeição.
Naturalmente, este novo mundo não teria bilionários ou moradores de rua. Os salários seriam alocados sem disparidade e não haveria a necessidade deles, nem de declarações de lucros e perdas. Se alguém precisasse de algo a mais, seria perfeitamente equilibrado com alguém que não precisasse de tanto. As falhas nas populações seriam compensadas por aumentos perfeitamente calibrados na produção. O transporte de mercadorias e a produção de moradia seguiria o mesmo caminho.
Não haveria mais uma má alocação de recursos baseados em raça, e as realizações de cada um – como formatura no ensino médio ou mortalidade – não seriam mais determinadas pelo censo. Não haveria mais crime, despejo econômico, deslocamento ou gentrificação, nem necessidade de prostituição ou uso de drogas. Uma vez que o mundo entrasse neste modo, não haveria, também, necessidade de imigração, fronteiras ou, até mesmo, países.
Além disso, o equilíbrio de interesses não seria mais ao redor de impostos, orçamentos governamentais e legisladores ou autoridades eleitas. E, certamente, a motivação para a guerra teria um fim.
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Este mundo de produção e distribuição algorítmica baseadas na necessidade alcançaria o que Karl Marx descreveu em seu livro “Crítica ao Programa de Gotha”, “de cada qual, segundo sua capacidade, a cada qual, segundo suas necessidades.”
Eu sugiro um mundo no qual a Amazon elimine os preços, o comando de quanto as pessoas devem economizar ou gastar e o responsável pelos problemas e desigualdades. Nossos celulares nos apontariam nossas necessidades, já que, com base em dados, elas seriam atendidas em perfeito equilíbrio com os recursos e as urgências de outros. Que mundo maravilhoso de viver.