A Danone e a Dairy Partners Americas Brasil (DPA), que tem a Nestlé como sócia, correm o risco de entrarem na “lista suja” do governo brasileiro de empresas que já usaram trabalho escravo, disseram autoridades. Organizações que aparecem na lista são proibidas de acessar linhas de crédito de bancos estatais e outras formas de financiamento público. As duas empresas aparecem numa auditoria que investiga a cadeia de fornecimento de laticínios em São Paulo, disse Renato Bignami, auditor-fiscal que coordena o inquérito. São acusadas de ser coniventes com empresário que mantinha 28 pessoas em situação de escravidão, uma vez que seus distribuidores afiliados vendiam produtos a granel sem monitorar as condições de trabalho da operação.
“Elas receberam notificação (das violações) que, se consideradas bem fundamentadas, resultarão no nome das duas companhias sendo adicionados à lista suja”, disse Bignami à Thomson Reuters Foundation. As companhias negaram qualquer irregularidade.
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Vendedores de porta-a-porta foram vítimas de uma rede de tráfico de pessoas, que os tiraram de regiões pobres do Ceará, e os obrigaram a vender iogurtes perto da data de validade com desconto na cidade de Salto (SP). Investigadores descobriram que cerca de 70% dos produtos vendidos eram de marcas da Danone e da Nestlé. Os demais 30% correspondem a empresas menores que também serão notificadas dentro das próximas semanas. Embora a Danone e a DPA não estivessem diretamente envolvidas na situação de escravidão, os auditores querem responsabilizá-las por não monitorar sua cadeia de distribuição.
“Muitos trabalhadores já chegavam com dívidas, devido ao custo da viagem”, disse Luis Alexandre Faria, auditor fiscal do trabalho que coordenou as operações no local. “Eles às vezes trabalhavam por 15 horas sob calor extremo, frio ou chuva”.
A Danone Brasil, fabricante de produtos como o iogurte Activia e a água Evian, negou ter qualquer relacionamento com o empresário, e disse que irá lutar contra a alegação de que foi conivente com o seu trabalho. “A companhia ressalta que tem trabalhado em parceria com o Ministério do Trabalho no sentido de divulgar as melhores práticas da companhia e de ser um agente ativo contra toda e qualquer prática de trabalho escravo junto às mais de 10 mil empresas que integram a complexa rede varejista que comercializa seus produtos”, disse a companhia em comunicado.
A DPA, joint venture da neozelandesa Fonterra com a Nestlé que vende produtos refrigerados, também disse não ter cometido nenhuma irregularidade. A companhia afirmou que, assim que soube do caso em outubro de 2018, rompeu relacionamento comercial com o distribuidor envolvido. A DPA também disse que está no estágio final da contratação de um auditor externo para verificar as condições na qual operam seus microdistribuidores. “Além disso, em linha com seus princípios e valores corporativos, ambas as empresas (Nestlé e DPA) adotaram, em sua cadeia de distribuição, medidas para garantir que seus parceiros comerciais possam contribuir com a luta contra o trabalho em condições análogas à escravidão”, disseram as empresas em email.