A crescente preocupação com a articulação política em relação à reforma da Previdência catapultou hoje (27) o dólar ao maior patamar em quase seis meses, com a cotação saltando mais de 2% e ficando perto da marca de R$ 4.
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O ambiente externo negativo também pesou, com depreciação de várias divisas de países emergentes refletindo os temores sobre a economia mundial.
O dólar à vista terminou a sessão em alta de 2,27%, a R$ 3,9545 na venda. É o maior patamar desde 1º de outubro passado (R$ 4,0183). Na máxima intradiária, a divisa norte-americana bateu R$ 3,9730 na venda.
Na B3, a referência do dólar futuro tinha ganho de 2,01%, a R$ 3,9555.
O mau humor foi deflagrado após a Câmara dos Deputados votar na noite de ontem (26) a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que obriga a execução de emendas coletivas no Orçamento da União, o que foi interpretado como derrota para o governo.
A PEC contraria o que o ministro da Economia, Paulo Guedes, vem defendendo como “plano B” à reforma da Previdência, a desvinculação total do Orçamento. O texto foi aprovado em dois turnos por ampla maioria e agora seguirá para o Senado.
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À tarde, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, chamou a atenção fala de Guedes de que não tem “apego ao cargo”, embora tenha ponderado que não tem “irresponsabilidade” de deixar o posto na primeira derrota.
“Com certeza foi isso que fez piorar [o dólar]”, disse o operador de uma corretora.
“O recado é claro. O governo não tem apoio. E menos ainda para uma pauta impopular como a reforma da Previdência. O mercado está sendo chamado à realidade”, disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.
No fim da tarde, o presidente Jair Bolsonaro, em entrevista à TV Bandeirantes, disse que, de sua parte, “não tem briga” e que na volta da viagem a Israel se encontrará com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
As compras recentes de dólar têm sido lideradas sobretudo por estrangeiros, que já sustentam posições líquidas compradas de US$ 37,1 bilhões. Apenas na véspera a compra líquida foi de quase US$ 1 bilhão.
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“Nem mesmo a entrada do exportador está conseguindo aliviar o câmbio. No máximo, não deixa subir mais”, disse Marcos Trabbold, da B&T Corretora.
Mauricio Oreng, estrategista sênior para o Brasil do Rabobank, reconheceu que o risco de uma reforma mais diluída e mesmo de não aprovação está mais alto, mas ainda considera cedo para se apostar em um cenário disruptivo.
“Mas até lá o caminho do dólar será de mais solavancos”, disse, embora ainda preveja taxa de R$ 3,70 no fim do ano, aprovada uma reforma previdenciária com economia prevista de R$ 700 bilhões em uma década.
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