E o Ibovespa chegou lá. Depois de ameaçar em algumas sessões, foi no pregão de hoje (18) que o índice de referência do mercado acionário brasileiro alcançou o almejado patamar dos 100 mil pontos, embalado em boa parte por perspectivas otimistas para a pauta de reformas no país.
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Às 14h51, o principal índice de ações da B3 avançava 0,91%, a 100.025 pontos. Na máxima, bateu 100.037 pontos. No ano, o Ibovespa acumula alta de cerca de 18%.
“Isso marca a quebra de uma barreira histórica, mas, na nossa visão, é só o começo do que está por vir”, afirma Karel Luketic, analista-chefe da XP Investimentos. Ele não descarta volatilidade, com alguma realização de lucros nos próximo meses, mas ressalta que o quadro estrutural é muito positivo.
Investidores veem a mudança no regime atual de previdência do país como crucial para a melhoria da situação fiscal brasileira, a fim de estabilizar o comportamento da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), que alcançava 76,7% em janeiro, o dado mais recente disponível.
Uma melhora nesse quadro teria efeito de queda na curva longa de juros do país, que é vista como uma das principais métricas para o investimento em ações.
“A marca dos 100 mil pontos é mais um passo na tendência altista do Ibovespa”, afirma Daniel Gewehr, chefe de estratégia em renda variável para América Latina no Santander Brasil em São Paulo. “Nosso preço-alvo para o Ibovespa é ainda maior, de 115.000 pontos para o final de 2019.”
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Pela mediana de estimativas compiladas no mercado pela Reuters em fevereiro, o Ibovespa deve chegar a 120 mil pontos até o final do ano.
Para Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável do BTG Pactual digital, o fator psicológico dessa marca representa uma “virada de página” das expectativas para a Previdência. “Mostra que virou a página sobre a questão, que o mercado vê que ela está caminhando.”
A proposta que muda as regras das aposentadorias foi encaminhada ao Congresso Nacional em fevereiro. No dia 13 foi instalada a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, primeiro colegiado em que tramitará, e a primeira reunião deve ocorrer nesta semana.
“Não muda muito o Ibovespa estar em 99 mil pontos ou 100 mil pontos, mas é algo psicológico”, reforçou Viccenzo Patrnostro, responsável pela área de renda variável da Legacy Capital.
Além da reforma da previdência, o mercado também monitora os planos de privatização dos governos, leilões de concessões de infraestrutura e venda de ativos entre outras medidas com potencial de sanar a questão fiscal do país.
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A melhora das perspectivas fiscais é o que deve atrair o capital externo que segue afastado ou detém posições ainda relativamente tímidas na bolsa brasileira.
Em 2017, havia elevada expectativa de que o governo do ex-presidente Michel Temer conseguisse avançar com uma reforma nas regras das aposentadorias, mas os planos foram atropelados após denúncias de corrupção enfraquecerem a base política.
“O fluxo estrangeiro vai ser o responsável por uma nova mudança de patamar do Ibovespa… Mas ele não deve vir – ou fará posições pequenas – até que ocorra a aprovação da reforma”, ressaltou Patrnostro, citando que esses agentes podem preferir perder o começo do movimento de olho em um horizonte maior.
Dados da B3 sobre as negociações de estrangeiros no segmento Bovespa mostram saída líquida de R$ 598 milhões neste ano até o dia 14.
“A percepção é de que investidores estrangeiros entrarão de maneira mais relevante no país quando tivermos algo mais concreto em termos de aprovação da previdência”, afirmou Gewehr.
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O desempenho das companhias na temporada de balanços também aparece como suporte para tal performance do Ibovespa, bem como para as perspectivas otimistas para o mercado à frente. “A previdência está muito no radar, mas há também outros fatores, como a melhora no desempenho das empresas”, ressaltou Zanlorenzi.
Ele cita compilação do BTG mostrando que 53% das empresas que já divulgaram balanço tiveram resultado acima do esperado pelos analistas da casa, com melhoria de margens operacionais e resultado financeiro e recuperação de vendas.
Gewehr afirma manter recomendação de alocação acima da média para Brasil no contexto da América Latina devido a crescimento atrativo dos lucros, valuation ainda favorável e retorno potencial vindo da realocação de ativos domésticos.
RISCOS
Agentes financeiros têm reiterado a visão positiva para a bolsa brasileira com base na aposta de avanço da agenda econômica da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas não descartam volatilidade até a concretização dos planos do guru econômico do presidente Jair Bolsonaro.
Patrnostro, da Legacy Capital, não descarta realização de lucros no curtíssimo prazo, uma vez que o desfecho da tramitação da reforma é desconhecido. “A bolsa andou bastante este ano, já colocou no preço bastante chance de a reforma passar.”
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No longo prazo, contudo, a avaliação no mercado é de que, se aprovada, o otimismo com a reforma tende a prevalecer a qualquer eventual movimento de embolso de ganhos.
Entre os riscos para tal cenário estão o fracasso na implementação da pauta positiva de Guedes e equipe, notadamente as mudanças na previdência, uma vez que deixaria o país em uma situação fiscal insustentável e afugentaria investimentos, necessários para a retomada do crescimento econômico.
Uma eventual desidratação acima que o mercado também pesaria nas ações. O texto original da proposta de reforma prevê economia de R$ 1 trilhão, mas agentes financeiros trabalham com uma faixa ao redor de R$ 750 bilhões.
Também o cenário externo pode frustrar os prognósticos favoráveis, principalmente um desenlace negativo nas negociações comerciais entre os Estados Unidos e China, o que teria impacto direto em papéis sensíveis ao movimento de commodities, que têm peso relevante no índice.
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