O cofundador e ex-presidente-executivo do Uber Technologies, Travis Kalanick, costumava dizer aos investidores que gostava de manter sua empresa entre a ordem e o caos. No momento em que ele saiu, foi o caos. A empresa foi atingida por uma série de escândalos, incluindo revelações de que havia usado táticas ilícitas para prejudicar concorrentes e contornar autoridades.
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Quase dois anos depois, sob nova liderança e com a estreia em Wall Street marcada para sexta-feira (10), a maior oferta pública de ações (IPO) dos Estados Unidos desde 2014, o Uber ainda está testando os limites da legislação.
Com o crescimento desacelerando, a empresa continua a batalhar com autoridades locais em todo o mundo, que procuram limitar os carros de motoristas credenciados na companhia em suas ruas.
Nos Estados Unidos, o Uber usou os tribunais para tentar bloquear o que considera restrições irracionais aos seus negócios. E conseguiu fazer com que governos estaduais aprovassem leis que passaram por cima de regulamentações municipais, para grande frustração de autoridades em algumas cidades onde opera.
Pessoas de dentro do Uber dizem que o presidente-executivo, Dara Khosrowshahi, fez progressos na limpeza de uma cultura machista que gerou acusações de assédio sexual e vazamentos vergonhosos de comportamento reprovável de executivos.
Mas as táticas de negócios agressivas do Uber, detalhadas por legisladores, funcionários municipais e reguladores em todo o mundo, bem como motoristas e ex-funcionários, continuam a impulsionar a empresa.
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“Está no DNA”, disse um ex-gerente do Uber. “Velhos hábitos são difíceis de morrer.”
Se a cartilha da empresa oferece o crescimento e a lucratividade que investidores do mercado acionário estão buscando, ainda é uma questão pendente. O crescimento da receita desacelerou para 2,3% no quarto trimestre em relação ao trimestre anterior, um sinal preocupante para um negócio que teve prejuízo de mais de US$ 3 bilhões no ano passado.
O modelo de negócios do Uber “não é atraente de maneira óbvia para investimento sustentável de longo prazo”, disse Mark Hargraves, diretor na Framlington Global Equities da AXA Investment Managers, em nota recente a clientes.
Um porta-voz do Uber se recusou a comentar. Em seu processo de IPO, a empresa disse que está “usando uma abordagem proativa e colaborativa com os reguladores” e “reconstruindo e fortalecendo” suas relações com as cidades. Onde o app é proibido, o Uber está oferecendo serviços de bicicletas elétricas ou parcerias com empresas de táxi tradicionais.
Ainda assim, a empresa reconheceu “obstáculos legais e regulatórios” em todo o mundo que poderiam atingir sua receita e seu crescimento.
Grandes cidades preocupadas com congestionamentos, qualidade do ar e segurança de passageiros e motoristas estão elaborando novas políticas e exigindo mais dados de empresas de transporte urbano por aplicativo para encontrarem soluções.
O Uber rebatendo isso. A empresa processou a cidade de Nova York em fevereiro por uma lei que impõe um teto para o número de motoristas de aplicativos, uma medida tomada pela prefeitura para lidar com um quadro de agravamento dos congestionamentos. Em sua cidade natal, São Francisco, o Uber está lutando contra uma ordem judicial que obriga a companhia a entregar dados que, segundo a cidade, ajudariam a melhorar o gerenciamento do trânsito e a segurança dos motoristas da empresa.
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Como as autoridades municipais dos Estados Unidos ficaram mais rígidas, o Uber procurou legisladores estaduais mais amistosos para contorná-las.
Em apenas quatro anos, o Uber e a rival Lyft ajudaram a aprovar leis em 41 Estados que colocaram o negócio de transporte por aplicativo sob a jurisdição do estadual, antecipando algumas ou todas as regulamentações locais, de acordo com um estudo de 2018 do National Employment Law Project.
O Uber agora está defendendo uma legislação em Oregon que priva autoridades locais de definirem limites sobre o número de motoristas, licenças, obrigação de coleta de dados e acesso para passageiros em cadeiras de rodas, entre outras demandas.
Autoridades em Portland dizem que a cidade está na mira da empresa. Depois que o serviço do Uber foi lançado no final de 2014, Portland processou a empresa, declarando que o serviço era ilegal. O processo foi mais tarde descartado, mas a prefeitura de Portland mantém o Uber sob acompanhamento próximo.
Noah Siegel, diretor-assistente interino do departamento de transporte de Portland, disse que a legislação proposta prejudicará a capacidade da cidade de gerenciar seu crescimento e garantir que todos possam se locomover com segurança.
“Não guardamos muito ressentimento sobre o que aconteceu” com o Uber no passado, disse Siegel. “Mas este projeto de lei serve como um ponto de referência de que faz quatro anos e eles ainda não tiveram lucro e farão qualquer coisa para ganhar dinheiro.”
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