Resumo:
- Com diferentes indústrias adotando a tecnologia de biometria, questões de privacidade estão cada vez mais em pauta;
- Novas leis já estão sendo criadas para adaptar o uso da internet a esses novos riscos;
- Entenda o que você pode fazer para proteger suas informações biométricas.
Imagine uma cafeteira que faça café de modo personalizado: com base na temperatura corporal e na pressão sanguínea de quem irá bebê-lo. Ou um serviço fitness que recomende séries de exercícios a partir da análise dos níveis de açúcar do consumidor nas últimas 24 horas. Ou um carro que realize o teste do bafômetro antes de ligar o motor.
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Alguns anos atrás, quando eu era CMO (Chief Marketing Officer) da Neustar, empresa de tecnologia norte-americana que fornece informações e análises em tempo real para outras companhias, comecei a pensar no impacto da internet e da conexão entre tudo para quem trabalha com marketing. E também nas potenciais implicações dos bancos de dados altamente personalizados para os serviços que oferecemos aos nossos clientes. Se os dados são a nova matéria-prima para quem trabalha com marketing, a biometria é a substância de mais alto nível entre eles. Ela não só traz novas perspectivas, mas também um novo significado para a privacidade de dados.
Quando compartilhar informações biométricas?
Vamos mudar um pouco as coisas. Você estaria disposto a compartilhar suas informações biométricas para ter a xícara de café perfeita toda manhã? Acredito que alguns sim, outros não. Você forneceria informações biométricas para que sua rotina de exercícios fosse mais atrativa? Centenas de milhares de pessoas fazem isso todos os dias em plataformas fitness como o Peloton e o Mirror. Mas o que você se sentiria se um desses aplicativos compartilhasse seus dados com outras empresas para que elas criassem ofertas para você? Se, por exemplo, os entregasse a empresas de seguro para que elas oferecessem planos a você? O que pensaria se seus dados fossem integrados às estatísticas de pesquisa para a publicidade de uma linha de roupas plus-size? Se as informações do seu treino fossem usadas chamar ajuda, caso a sua frequência cardíaca subisse demais?
É possível responder a essas perguntas de formas diferentes ou ter incertezas sobre o tópico. No marketing, a privacidade é, por princípio, direito fundamental do consumidor. É nosso dever criar limites na maneira como pedimos para que pessoas compartilhem suas informações biométricas. Também devemos esclarecer a forma de usar esses dados.
É hora de rever as práticas de privacidade
Trabalhando com dados automobilísticos como CMO da Otonomo, empresa especializada na conexão de dados entre carros, discuto sempre esse tipo de questão, e ainda mais quando o assunto é biometria. Confira algumas práticas de privacidade fundamentais para proteger indivíduos e dados:
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Prática nº 1: Engenharia para transparência
No ano passado, comissionamos uma pesquisa com motoristas conectados, feita pela Edison Research, para entender as atitudes dos consumidores em relação ao compartilhamento de dados do carro. Os resultados mostraram que, além da confiança em marcas específicas, a transparência é um fator crucial para que motoristas compartilhem informações: 64% dos entrevistados disseram querer saber exatamente quais dados estavam sendo coletados, como seriam usados e por quem. Acredito que o uso da biometria, que possui dados ainda mais personalizados, criaria expectativas similares.
Uma boa prática emergente graças à GDPR – General Data Protection Regulation (regulamento de proteção geral de dados em tradução livre,) lei criada pela União Europeia para proteger informações pessoais, é o processo de gerenciamento do consenso transparente. Na indústria automotiva, algumas marcas criaram aplicativos que esclarecem quais dados estão sendo compartilhados e com qual finalidade.
Para proteger os serviços automobilísticos atuais, fabricantes buscam formas de lembrar seus clientes dos ajustes de compartilhamento de dados por seus sistemas de entretenimento informativo. Consigo ver sistemas parecidos funcionando para a indústria de eletrônicos, viagens e saúde, entre outras, onde os consumidores interagem com a marca por meio de aplicativos ou computadores. Por exemplo, sua conta no Peloton pode pedir autorização para compartilhar suas informações biométricas e dar ao cliente a clara opção de receber ofertas relacionadas à sua saúde ou não.
Prática nº 2: Aumentar o nível de segurança
Sempre é bom falar: segurança é fundamental no novo mundo da internet. Ao contrário de logins e senhas, pessoas não podem mudar suas digitais ou retinas se forem hackeadas. Fui encorajado a ver novas tecnologias de segurança do mercado e orçamentos elevados da empresa onde trabalho por essas razões.
Prática nº 3: Seja vigilante além da indústria
A informação biométrica mudará regras antigas entre indústrias. Enquanto vários regulamentos, como o Ato de Informação Biométrica de Illinois, emergem, seus negócios talvez estejam sujeitos a novas regras que normalmente não atingiriam sua indústria. Por exemplo, a esteira que pode chamar uma ambulância pode ser considerada um agente de saúde e ser sujeita a leis que envolvem seguros de saúde? Regulamentos serão discutidos e desenvolvidos por um bom tempo, então passaremos por um momento no qual constantemente repensaremos como coletamos e gerenciamos dados.
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Grandes dados, grandes implicações
A biometria incomoda àqueles preocupados com privacidade por um motivo: é uma tecnologia que pode salvar vidas ou destruí-las, a depender da forma como for usada. No marketing, será necessário que as medidas relacionadas à privacidade subam de nível. É preciso pensar além do básico cumprimento de regras e focar em construir relacionamentos com os consumidores baseados em transparência e confiança. Um último conselho: recomendo que vá tomar um café com o gestor de privacidade da empresa regularmente.
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