Resumo:
- Desde que lançou a libra, seu projeto de criptomoeda, o Facebook é alvo de críticas e desconfianças;
- A empresa não tem apoio governamental, o que piora sua popularidade;
- A questão agora é se seus parceiros, que entrariam com US$ 10 milhões cada um, irão permanecer no projeto.
No dia 2 de julho, o Congresso dos Estados Unidos exigiu que Mark Zuckerberg; Sheryl Sandberg, chefe operacional do Facebook; e David Marcus, CEO da Calibra, interrompam o desenvolvimento da libra.
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Quando o Facebook anunciou a iniciativa da Libra, o mundo das criptomoedas tremeu em antecipação. A grande notícia se espalhou rapidamente, o que trouxe atenção e especulações sobre o tópico. De repente, notícias sobre a Libra viraram ultrapassadas quando o Congresso pressionou o Facebook.
A lenta máquina do governo exigiu que o Facebook pause todas as ações relacionadas à Libra, e enquanto legisladores não resolvem como lidar com as possíveis ramificações de resposta do Facebook, o futuro do projeto é incerto. É difícil dizer se isso foi um ato de desespero do Congresso ou uma decisão bem pensada daqueles que ainda estão no poder. A única coisa clara é que, por hora, os planos do Facebook estão em “stand-by”.
Quando o Facebook lançou a Libra no dia 17 de junho, todos os apoiadores de criptomoedas, de libertários a investidores institucionais, tinham algo a dizer sobre o anúncio. Comentaristas do blockchain prestaram muita atenção às regras da Libra, seu mecanismo de consenso e sua nova linguagem de programação, Move. Aqueles que não fazem parte da comunidade cripto, em contraste, passaram boa parte de seu tempo explicando o conceito de bens digitais para seus leitores e ouvintes, com poucos detalhes sobre como a Libra se diferencia de outras criptomoedas.
No entanto, um detalhe chamou atenção: os US$ 10 milhões que o Facebook pediu a cada um de seus parceiros no projeto. Infelizmente para o Facebook, o “The New York Times” noticiou que nenhuma empresa havia pago ainda, e que muitas estavam relutantes. A pergunta que resta é: é possível ter certeza de que os membros da “Libra Association” continuarão no projeto?
Primeira reunião da Libra Association
Em julho, acontece em Genebra, na Suíça, a primeira reunião da Libra Association. Talvez os ares suíços inspirem os vários delegados (27 companhias anunciaram parcerias com o Facebook) a firmarem seus acordos não vinculativos.
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Ou talvez, a vigilância sofrida pelo Facebook, a crítica vinda de governantes e profissionais de tecnologia e as dúvidas de experts em criptomoeda farão com que algumas companhias desistam. Mesmo sendo uma entusiasta de criptomoedas e seu potencial de melhorar o mundo, as coisas que li assisti e discuti desde que a Libra foi lançada criam desconfiança em torno dos objetivos e métodos do Facebook. Eu sei que não sou a única com dúvidas.
Em 15 anos de operação, o Facebook conseguiu mais de dois bilhões de usuários. Milhões de pessoas que não usam o produto em si têm interações diárias com a companhia, que também é responsável pelo WhatsApp e pelo Instagram. Dado o ritmo meteórico do crescimento do Facebook, não é surpresa que os planos da companhia tendam a ser ambiciosos e suas implementações normalmente mudem. No caso da Libra, no entanto, o Facebook pode ter tentado fazer demais em muito pouco tempo.
O representante americano Maxine Waters, chefe do comitê de serviços financeiros do país, respondeu ao anúncio do Facebook pedindo uma audiência assim que a empresa lançasse a Libra oficialmente. Então, no dia 17 de julho, representantes do Facebook irão novamente ao congresso. Qualquer tentativa de uma grande corporação de criar uma criptomoeda irá incomodar reguladores, e o fato que a corporação em questão tem uma reputação ambígua só piora a situação. Executivos do Facebook passaram boa parte de seu tempo defendendo suas ações e inações no Congresso, e a confiança está em queda livre desde o caso Cambridge Analytica. De uma perspectiva do governo, o Facebook com sua história dúbia pode estar tentando introduzir uma moeda questionável para competir com o dólar.
A Libra está competindo com o bitcoin?
Mesmo se o Facebook tivesse uma reputação impecável por sua transparência, honestidade e escrupulosidade, alguns elementos da Libra ainda não agradariam a governos e reguladores. A Libra é uma stablecoin, uma moeda feita para resistir volatilidade e manter valor constante. A maioria das stablecoins é ligada a alguma moeda comum; o tether e a gemini coin, por exemplo, devem ser ligadas ao dólar. O que coloca em risco as perspectivas para o dólar. Não se pode esquecer também que o dólar era ligado ao ouro. SImilarmente, quando a Libra for adotada, ela pode mudar o mercado de bens e excluir o dólar. De tal forma, ela pode dominar as maiores moedas nacionais.
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A Libra não liga sua validação a um determinado “lastro” estabelecido em alguma moeda preexistente e controlada pelo governo, e o Facebook quer que a moeda seja global, o que soa como o bitcoin. O bitcoin já existe há uma década, e mesmo aqueles que preferem outras moedas reconhecem a força de sua comunidade e a credibilidade de seu algoritmo. Bancos, corporações e governos têm medo de criptomoedas há anos, e sempre foi tarde demais para que eles se envolvessem na inevitável adoção do pagamento descentralizado. E se as principais se unissem para competir com o bitcoin? Nesse caso, seria muito improvável que elas desistissem.
Dadas as preocupações do governo e de entusiastas de criptomoedas, não seria surpreendente se alguns dos parceiros do Facebook anunciassem a retirada de seu dinheiro. Muitos profissionais em criptoeconomia têm opiniões divergentes sobre a Libra. Enquanto muitos ainda se mostram céticos, alguns reconhecem que a Libra provavelmente trará milhões de dólares para a criptoeconomia. Miko Matsumura, parceiro da Gumi Cryptos, empresa apoiada pela versão asiática da Libra (Klaytn) liderada pela Kakao, LG e Union Bank, disse bem: “Plataformas de mensagem irão catalisar a adoção em massa de bens criptográficos e a convergência de pagamentos, carteira e plataformas de apps. Os principais apps de mensagem da geografia estão trazendo bilhões de usuários para os bens criptográficos.”
Facebook é uma das companhias mais influentes do mundo, mas com a Libra, eles podem estar tentando fazer algo fora de seu alcance. Só o tempo dirá. A cripto comunidade assistitirá de perto cada update.
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