Resumo:
- Entre os cinco cofundadores da plataforma, apenas Mark Zuckerberg segue na direção iniciativa bilionária;
- Divergência de visão é um dos fatores que faz sociedades serem desfeitas;
- Hughes deixou a plataforma em 2007 para participar da campanha presidencial de Barack Obama, marcada pela forte presença das redes sociais;
- É essencial para os cofundadores estarem cientes dos dilemas morais que suas iniciativas são capazes de gerar.
É incomum ver um cofundador de uma empresa de tecnologia fazer campanha abertamente por meio da mídia e em colaboração com as autoridades contra o próprio empreendimento e para o qual deve a existência de sua fortuna. Chris Hughes foi cofundador não tecnológico do Facebook, enquanto Mark Zuckerberg, Dustin Moskovitz e Andrew McCollum trabalharam no desenvolvimento das funcionalidades e arquitetura digital da rede social, e o brasileiro Eduardo Saverin tentou desenvolver o setor de negócios e finanças.
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O trabalho de Hughes era sugerir funcionalidades, melhorar a usabilidade, realizar testes beta e, acima de tudo, cuidar de relações externas durante a fase após a empresa deixar o campus de Harvard e começar a dominar o mundo. Desse grupo de cofundadores originais, amigos e colegas de Harvard, Zuckerberg é agora o único que resta.
Quando cofundadores deixam uma empresa, geralmente é porque as visões não estão mais alinhadas. Hughes saiu do negócio em 2007 para participar de um projeto político: a corrida eleitoral presidencial de Barack Obama, na qual as redes sociais tiveram um papel fundamental. A experiência de Hughes no Facebook era essencial. A inserção das mídias sociais em uma estratégia de campanha era nova (a tentativa anterior havia sido de Howard Dean em 2004) e ainda estava livre das conotações negativas que mais tarde foram associadas a Donald Trump e à interferência russa no pleito presidencial de 2016.
Deve ter sido doloroso para a Hughes ver como o Facebook deixou de ser uma rede social focada em melhorar a interação entre usuários (como era razoável em um projeto inicialmente destinado a trabalhar nos campi universitários), para se tornar um monstro com mais de dois bilhões de participantes em todo o mundo -e capaz de fazer o que quiser, como tomar decisões sobre o que cada conta tem acesso, manipular eleições e até mesmo facilitar o genocídio em Mianmar. Mesmo que a empresa tenha enriquecido imensamente e mudado sua vida, observar como ela se tornou uma aliada para delitos pode ser doloroso, especialmente depois que o cofundador apoiou a campanha de Hillary Clinton.
Chris Hughes dedicou seu tempo e energia para nutrir o Facebook e pôde ver de perto como a plataforma se tornou uma ameaça não apenas para os projetos em que trabalhou, mas também para a democracia e a sociedade como um todo.
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Todos sabemos como a empresa chegou lá: nos últimos anos, o Facebook não apenas consolidou sua base de poder, mas adquiriu ou reproduziu qualquer desafio. Outras companhias de tecnologia fizeram o mesmo, a ponto de causar preocupação sobre concorrência desleal e práticas de monopólio. Entretanto, ninguém conseguiu fazer isso com o mesmo entusiasmo de Zuckerberg -o principal nome da rede social de bilhões de dólares entende melhor do que qualquer um a importância de evitar o que Clayton Christensen chamou de dilema do inovador: interromper a si mesmo antes que os concorrentes o façam.
Agora, Chris Hughes apresenta aos legisladores uma oportunidade particularmente interessante: ele está fora da empresa há mais de 12 anos, mas sabe o que a plataforma representava na época e o que se tornou, com o adicional de que as testemunhas são necessárias para o entendimento dessa evolução. No mais, Hughes entende o problema dos aprendizes de feiticeiro como Zuckerberg, capazes de misturar os ingredientes certos para obter uma fonte de poder sem controle: uma ferramenta que passou a caracterizar o tecido conjuntivo de nossa sociedade nas mãos de um homem irresponsável e com muito poder, sem experiências além da posição que ele ocupa e que nunca precisou responder a ninguém ou aprender com outro profissional que não seja ele mesmo e sua vivência limitada. O que poderia dar errado?
Os fundadores e cofundadores de empresas de tecnologia com capacidade comprovada de mudar o mundo têm uma responsabilidade que vai além de maximizar o lucro dos acionistas. Eles precisam estar cientes dos dilemas morais que são capazes de gerar. Mas enquanto Chris Hughes entende isso, Mark Zuckerberg claramente não faz ideia do que se trata. Ele não é um traidor, mas um renunciante consciente. Hughes aprendeu, além disso, ao longo de uma carreira com muitos altos e baixos, como essas coisas devem ser aprendidas. Se ele, como outros que ajudaram a tornar o Facebook um sucesso, acredita que é essencial dividir a companhia e colocá-la sob controle, sem dúvida tem boas razões para fazê-lo. Seria uma boa ideia estudar cuidadosamente essas razões e levá-las em consideração para o futuro.
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