Resumo:
- Guillaume Pousaz fundou a Checkout.com, startup de pagamentos que está em modo de crescimento rápido após um investimento de US$ 230 milhões;
- Deliveroo, TransferWise e Virgin Gyms são apenas alguns dos clientes da Checkout.com;
- A plataforma é essencial no mundo online atual, pois permite que as empresas aceitem diferentes tipos de pagamentos de diversos países pela Internet.
O Brexit continua causando calafrios em empresários, mas o empreendedor nômade Guillaume Pousaz, 37 anos, contraria a tendência ao pensar em se mudar para Londres.
LEIA MAIS: Cofundador do Facebook fala contra a rede social
A mudança faz sentido, já que a capital britânica abriga a sede de sua empresa de pagamentos globais, a Checkout.com, que está em modo de crescimento rápido depois de uma rodada de investimentos de US$ 230 milhões. O fundo de investimento soberano de Singapura, GIC, a empresa de capital de risco Insight Partners, dos EUA, e o fundo criado pelo bilionário israelense-russo Yuri Milner estão entre os investidores que colocaram seu dinheiro no negócio.
É fácil entender por que eles querem fazer parte da empresa. A Checkout disse à Forbes que, no ano financeiro de 2018, suas receitas na Europa cresceram para US$ 74,3 milhões, acima dos US$ 46,7 milhões do ano anterior. O lucro bruto também ficou forte em US$ 35,5 milhões, ao superar os US$ 23,9 de 2017. Esses números não incluem os negócios nos Estados Unidos, Oriente Médio e Ásia.
Embora seja tecnicamente um residente de Dubai, Pousaz está constantemente voando por toda parte. Ele viaja cerca de 300 dias por ano, o que, nas palavras da ex-primeira-ministra britânica Theresa May, poderia fazer dele um “cidadão de nenhum lugar.”
Pousaz foi notado em maio, quando a startup de sete anos revelou que tinha levantado uma rodada de financiamento de US$ 230 milhões com valoração de quase US$ 2 bilhões. O investimento foi uma das maiores rodadas de série A e fintechs na Europa. Em uma reviravolta bizarra dos acontecimentos, mais tarde veio à tona que o acordo foi baseado em apertos de mão com os investidores, em vez de contratos tradicionais. Pousaz insiste que todos fizeram a devida diligência e acrescenta que um dos principais investidores solicitou aos consultores da McKinsey que fizessem de 35 a 40 ligações para clientes da Checkout.com.
Atualmente, o empresário passa de 50 a 60 noites por ano no Edition Hotel, em Londres, que tem uma diária de US$ 480, localizado ao lado de sua fintech pouco conhecida, mas que também não vê fronteiras. A outra metade de sua semana é em Dubai, onde vivem seus dois filhos e a mulher. Ele também voa regularmente para os EUA e a Ásia. “Eu moro em hotéis na maior parte do ano”, diz à Forbes na sede da Checkout.com, na Oxford Street. “Não é uma ótima vida.”
VEJA TAMBÉM: Fundador da Wise Up transforma empresa em mina de dinheiro
Confiante, tagarela e calmo, o médico de Pousaz o avisou sobre viajar e trabalhar demais. São 80 horas por semana e quase todos os domingos. “Minha esposa tem muito medo de que isso se torne uma empresa vitalícia e que me leve ao túmulo, como o falecido Steve Jobs”, diz o suíço bem vestido.
“Ninguém sabia quem éramos há duas semanas”, conta Pousaz, que tem presença limitada nas redes sociais e é muito relutante em falar sobre sua própria fortuna. “Nada mudou, além de estarmos no mapa. Um dia pode haver um evento real. Nós não estamos negando os fatos, mas temos de provar muita coisa.”
É difícil determinar quantas ações Pousaz detém no mais recente unicórnio da Europa, com o negócio registrado no exterior na Ilha de Man, onde as empresas não precisam divulgar publicamente seus acionistas.
A rotina semanal
Pousaz diz que coloca seus filhos (Marlowe, 11, e Edward, 6) na cama todos os domingos à noite em Dubai, e pega um voo para o aeroporto de Heathrow, em Londres, que pousa às 6h15 de segunda-feira. Ele está no escritório às 7h15. Em seguida, passa os próximos quatro dias em Londres antes de voltar para Dubai e fazer tudo de novo. Os sábados são dedicados a seus filhos, e ele tenta não se distrair. “Eu recebo 800 e-mails por dia”, diz.
Ao contrário de muitas outras empresas em rápido crescimento que levantam capital, Pousaz diz que não tem planos para o dinheiro que está sendo colocado na Checkout.com. “O dinheiro só vai no balanço da empresa. Não enriquece ninguém.” Ele diz que o recurso não será tocado, mas também tem grandes planos para expandir a empresa e contratar mais funcionários, o que não será barato.
E AINDA: “É preciso saber executar uma grande ideia para iniciar um negócio”, diz fundador da Totvs
Pousaz estabeleceu estreitas relações com seus investidores, especialmente o membro do conselho Deven Parekh, diretor da Insight Ventures, e está desesperado para impressioná-los. “Se há uma enorme pressão é porque agora eu tenho um contrato para entregar para pessoas que são reconhecidamente incrivelmente inteligentes e pensativas”, diz ele. “Eu os escolhi com cuidado e tenho o dever de entregar isso.”
“Sua história é ótima, mas o financiamento é fraco”
A Checkout.com concorre com a Stripe nos EUA, atualmente avaliada em US$ 22,5 bilhões, e a Adyen, na Holanda, que vale US$ 21,8 bilhões (€ 19,3 bilhões). Pousaz acredita que há espaço suficiente no mercado para que as três coexistam.
A empresa afirma que já é rentável, mas o fundador sabe que ter mais dinheiro no balanço deve ajudá-lo a conquistar organizações maiores. “Nós lidamos com algumas das maiores empresas do mundo, e elas costumam dizer ‘sua história é ótima, mas suas finanças são fracas. Tenho um valor de mercado de US$ 100 bilhões, e você não é ninguém.’”
A plataforma de processamento de pagamentos da Checkout.com pode parecer bastante monótona, mas é essencial no mundo online atual, pois permite que as empresas aceitem diferentes tipos de pagamentos de diversos países pela internet. Deliveroo, TransferWise e Virgin Gyms são apenas alguns dos clientes da Checkout.com. Toda vez que um de seus usuários faz uma transação, a empresa cobra uma pequena taxa pelo processamento, além de uma taxa fixa. Como resultado, ela está processando bilhões de dólares todos os anos em mais de 150 moedas diferentes.
Por favor, não me chame de “nerd”
Os computadores sempre foram importantes para o empreendedor, que tem boas lembranças de ganhar um Amiga 500, o primeiro computador doméstico, em seu oitavo aniversário em 1989, mas não gosta muito do estereótipo “geek”. “Eu tinha amigos e tudo mais, mas passava muito tempo em computadores.”
LEIA TAMBÉM: Conheça a empreendedora que deixa influenciadores ricos
A matemática era um tema particularmente forte para Pousaz na escola, enquanto os quadrinhos lhe davam algum alívio quando precisava de uma pausa. Os japoneses sobre “grandes sonhos” e “alcançar o impossível” estavam entre os seus favoritos.
Inicialmente, ele queria se tornar um banqueiro de investimentos para evitar algumas dificuldades financeiras que certos membros de sua família passavam. Depois de estudar engenharia na École Polytechnique Fédérale De Lausanne, ele se matriculou em um bacharelado em economia na HEC Lausanne.
Ao se aproximar do final de sua formação, recebeu uma oferta de trabalho do banco de investimento Citibank, em Londres. Mas ele falhou em suas provas finais quando tinha 24 anos e decidiu não voltar para a universidade. O ocorrido o fez perceber que não estava no caminho que queria estar. “Eu pensava: ‘Eu vou surfar na Califórnia'”, diz, ao acrescentar que tinha cerca de US$ 15.000 em economias na época depois de vários trabalhos paralelos.
Depois de quatro meses viajando pela Califórnia, Pousaz se estabeleceu em Los Angeles. No início de 2006, ele aceitou um emprego em uma empresa de pagamentos “nada especial” chamada International Payments Consultants (IPC), em parte devido à sua proximidade ao surfe. Mas isso não durou. Ele foi embora porque a mentalidade das pessoas que trabalhavam lá não se ligava à sua. “Eles estavam obcecados pelos EUA, conseguir uma casa e não pensando muito além”, conta.
Logo após sua partida, ele montou sua própria startup com o chefe de vendas da IPC. Essa startup se chamava NetMerchant e se concentrava em uma coisa: o corredor de câmbio dos EUA para a Europa. A maioria dos outros processadores de pagamento costumava cobrar dos comerciantes norte-americanos uma taxa de acréscimo de 2% para aceitar moedas europeias. Por outro lado, a NetMerchant costumava dar a esses vendedores moedas europeias e, depois, fazer com que os comerciantes fizessem a troca de câmbio em seus bancos.
VEJA MAIS: Concorrência em meios de pagamentos não deve esfriar
“Foi como a TransferWise”, diz Pousaz. A dupla administrou a empresa de 2007 a 2009 e “fez uma margem razoável”, mas acabaram seguindo caminhos separados. “Ele queria pagar sua hipoteca e comprar um bom carro, e eu disse: ‘Ei, você deveria construir uma empresa de tecnologia’.”
Você vive e aprende
Pousaz diz que aprendeu uma lição da experiência da NetMerchant: “É extremamente importante alinhar a filosofia entre a equipe de gerenciamento.
Procurando outra aventura, Pousaz considerou suas opções. “Em 2009, tínhamos um pouco de dinheiro, mas não muito.” Ele decidiu criar um novo negócio em Singapura chamado Opus Payments, que permitiu que empresas em Hong Kong processassem pagamentos de compradores em todo o mundo. A empresa se tornou, então, a Checkout.com em um rebrand em 2012.
Antes de lançar a Opus, Pousaz comprou uma empresa com sede nas ilhas Maurício em novembro de 2009, chamada SMS Pay, que foi encarregada de construir um novo portal de pagamento. Ele concordou em dar US$ 300 mil à equipe de cinco membros da SMS Pay durante um período de três anos em troca da propriedade da companhia.
A vida era difícil para a Opus Payments. Mas tudo isso mudou em 2011, quando a emoresa assinou um grande contrato com o Dealextreme, um site chinês que vende milhões de gadgets para pessoas em todo o mundo. “Passamos de deficitários à lucrativos”, diz Pousaz.
E AINDA: A empreendedora que vende luxo em criptomoedas
Em 2012, a Checkout.com foi finalmente aprovada pela Autoridade de Conduta Financeira, que regulamenta o setor financeiro no Reino Unido. Em seguida, foi concedida a associação principal à Visa e à MasterCard em 2013. “Essas são etapas de definição de vida da empresa”, conta.
Então, ele voltou sua atenção para a China, em parceria com AliPay e WeChat. “Acredito que a China vai dominar tudo no final”, diz Pousaz, que está pagando aulas de mandarim para seus filhos.
“Os chineses trabalham duro, são super inteligentes e bons em tecnologia”, diz. “Quero dizer, há muitos ingredientes para tornar este país muito poderoso. Estou afirmando o óbvio.”
Guillaume Pousaz tem hoje cerca de 405 funcionários e espera que esse número atinja mil no próximo ano. Ele está contratando cerca de 25 a 30 pessoas por mês no momento, e a força de trabalho está espalhada por escritórios em São Francisco, Paris, Berlim, Porto, Dubai, Ilhas Maurício, Singapura e Hong Kong.
A equipe em crescimento significa que a custosa viagem anual de esqui à Suíça teve de ser abandonada por uma de verão mais barata para uma cidade europeia que tenha voos operados pela easyJet.
Pousaz diz que quer mudar a forma como as pessoas interagem com os serviços financeiros. Na sua opinião, ainda não há nada para comemorar, e há um longo caminho para a Checkout.com, caso ele atinja seu potencial. A questão é: será que o empreendedor será capaz de continuar com as coisas do jeito que estão ou precisará renunciar a alguns de seus deveres para com os outros?
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Tenha também a Forbes no Google Notícias.