Resumo:
- A guerra comercial entre Estados Unidos e China teve consequências para ambas as economias, como a valorização do dólar no início da semana;
- Para China, no entanto, resultou no aumento de tarifas dos EUA e, consequentemente, uma queda na demanda de seus produtos manufaturados;
- Entenda por que e como a China está lidando com este novo problema.
O crescimento da China teve o objetivo de transformar o país na linha de produção do mundo. Porém, uma combinação de altos custos de mão de obra, automação, uma guerra comercial que forçou a redefinição de cadeias de fornecimento e o próprio interesse chinês de aumentar seu próprio valor fez com o antigo modelo de manufatura virasse coisa do passado para a segunda maior economia do mundo.
LEIA MAIS: China rebate EUA, a quem acusa de causar ‘caos’
Pergunte a qualquer investidor o que ele gosta na China, e a resposta será: consumidores, tecnologia e grandes bancos. Os dois últimos são muito caros. A único item que falta é o que tornou a China tão grande: sua habilidade de fabricar ferramentas. As indústrias, porém, são o aspecto menos interessantes da China ultimamente. “Nós vemos as fraquezas chinesas principalmente nas fábricas e no setor indus trial”, diz Asha Mehta, gerente de fundos da Acadian Asset Management, uma empresa de gestão de ativos de US$ 95 bilhões baseada em Boston.
A manufatura chinesa enfrenta complicações no segundo semestre do ano. O índice de preço ao produtor está caindo, o que significa que os fabricantes dos produtos “made in China” estão perdendo poder. Essa fraqueza causa liquidação de estoques, já que companhias tentam se livrar de produtos encalhados graças à guerra comercial, o que induziu um crescimento insustentável de inventário na China, disse Bo Zhuang, o economista-chefe da firma de pesquisas e investimentos TS Lombard.
A guerra comercial tem um impacto misto nos estoques chineses, mas seu efeito será decisivamente negativo nos próximos meses, Zhuang acredita. “Tarifas de exportação fizeram com que fábricas diminuíssem sua produção”, pontua Zhuang. “Com o olhar negativo sobre os preços industriais, a insustentabilidade do crescimento prolongado dos estoques e a ameaça firme de tarifas futuras, esperamos que as queimas de produtos do segundo semestre pesem nas atividades industriais.”
O mercado de ações da China enfrentou inúmeras complicações durante o ano. Mesmo assim, os investidores chineses venceram as manchetes ruins todas as vezes.
A guerra comercial com os EUA está atualmente em pausa com relação à escalada das tarifas, e alguns acreditam que Trump não as aumentará neste ano. Para o mercado, isso é carta fora do baralho, já que Trump teria medo de perder eleitores republicanos para as eleições de 2020.
A incerteza em relação ao crescimento da China durante o resto da presidência de Trump é problemática para diversos países na órbita chinesa, como Chile e Brasil, que dependem do mercado chinês para vender matérias-primas. Commodities industriais, como o cobre chileno e o minério de ferro brasileiro, totalizam aproximadamente 21% dos estoques chineses.
Os chineses tendem a se tornar compradores desses produtos quando os preços caem, em tempos em que o crescimento parece promissor e as condições de empréstimo estão boas. O banco central da China não é agressivo o suficiente no corte de taxas para motivar empresas a arcarem com os custos de seus estoques com empréstimos acumulados.
Também é importante notar que o preço das commodities não é promissor no forte cenário do dólar. Assim, empresas estão menos aptas a usar empréstimos para comprar materiais puros para vendê-los por um preço mais alto no futuro.
VEJA TAMBÉM: Yuan: EUA acusam China de manipulação cambial
Para a equipe de TS Lombard na China, o índice de preços ao produtor cairá 0,5% na segunda metade do ano. Um estímulo infraestrutural vindo de Pequim é positivo para a produção industrial, mas pode ser prejudicado por propriedades fracas e planos de investimentos em manufatura. Com o índice negativo e uma demanda pouco significativa, produtores diminuirão seu inventário, o que significa que a produção chinesa cairá.
Além disso, existe o risco da cadeia de fornecimento vindo da guerra comercial.
Alguns clientes norte-americanos de empresas chinesas estão procurando outras fontes ou comprando menos depois de terem acumulado estoque antes do grande aumento de tarifas de setembro do ano passado. A China não consegue achar novos compradores rápido o suficiente. Outros estão se mudando para outros locais da Ásia. O resultado são estoques chineses que continuam altos e diminuem os lucros.
As empresas de tecnologia não estão em melhor estado, o que forçará as ações quentes de tecnologia da China a caírem mais ainda. “Globalmente, o aumento de inventários contracíclico ajudou a criar um chão sob os preços de componentes eletrônicos”, afirma Zhuang. Ele acredita que a produção chinesa mais lenta diminuirá o preço de semicondutores e componentes relacionados.
Além da tecnologia, o impacto da guerra comercial nos inventários é negativo. Inicialmente, os estoques de produtos para exportação cresceram à medida que a demanda externa caía. Enquanto a disputa comercial continuava, produtores começaram a liquidar seus inventários ao invés de reabastecê-los, Zhuang disse em uma nota aos seus clientes.
A China é globalmente conhecida por ser acumuladora. Agora, o preço desses bens guardados em depósitos está caindo consideravelmente, enquanto a cadeia de fornecimento é repaginada. Alguns fabricantes chineses poderão não encontrar compradores para esses bens em um futuro próximo.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Tenha também a Forbes no Google Notícias