Resumo:
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- A Fórmula E, fundada pelo empresário espanhol Alejandro Agag, é a única competição de automobilismo movida a eletricidade do mundo;
- Apesar dos automóveis não serem tão velozes quanto os da Fórmula 1, a compensação vem em emoção e envia a mensagem de um entretenimento sustentável de emissões zero;
- A Fórmula E está abrindo portas para uma nova experiência, para conquistar uma outra base de fãs ao lado de amantes da modalidade.
No mundo do automobilismo, a Fórmula 1 é descrita como o auge das corridas, com seus carros de alta octanagem que aceleram de zero a 200 km/h em menos de cinco segundos, além de velocidades máximas de 370 km/h. O único problema é que recentemente isso pode ter começado a parecer um pouco mundano demais.
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Os resultados do campeonato também não são exceção. Das 11 primeiras corridas em 2019 até agora, a Mercedes venceu nove, com sete vitórias para o atual campeão Lewis Hamilton e duas para seu colega de equipe Valtteri Bottas. Na verdade, as oito primeiras disputas foram todas para a conta da Mercedes. O problema não é de Hamilton, Bottas ou da equipe: a Fórmula 1 não é competitiva há décadas.
É um campeonato em que apenas três equipes podem ter esperanças realistas de vencer, como Mercedes, Ferrari e Red Bull Racing e, entre elas, a primeira está fazendo um trabalho melhor hoje do que as duas rivais. O restante quase sempre parece estar lá para fornecer um espetáculo de números e entretenimento eventual quando o tempo está ruim.
Tudo isso se volta ao criador, Bernie Ecclestone, que permitiu que as equipes tivessem uma voz na condução do esporte e criou uma divisão desigual, que premia desproporcionalmente as melhores equipes. Ele não está mais na F-1, porém seu legado vive menos em anúncios de cigarro e garotas seminuas e mais em carros que são, hoje, mais eficientes e menos barulhentos em uma era de objetivos de baixo carbono. E, sim, um limite orçamentário foi acordado para 2021.
Compare e contraste isso com a prima eletrônica da Fórmula 1: o circuito de Fórmula E, fundado pelo empresário espanhol Alejandro Agag como a única competição de automobilismo movida a eletricidade do mundo. Com uma velocidade máxima de 280 km/h, e carros que vão de zero a 100 km/h em três segundos, a rapidez dos automóveis não coincide exatamente com os seus homólogos de Fórmula 1.
Isso é compensado em emoção e envia uma mensagem de um tipo diferente. O campo das partidas é muito mais nivelado, o calibre dos participantes é semelhante (incluindo montadoras e vários ex-pilotos de Fórmula 1) e é um entretenimento sustentável de emissões zero. O campeonato de 2019, que terminou em 14 de julho, teve oito vencedores diferentes nas oito primeiras corridas, com Jean-Eric Vergne, da DS Techeetah, coroado como o campeão da temporada na última corrida em Nova York.
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Na última corrida, a caminhada que dei no circuito não poderia ter sido mais diferente do que o passeio no GP de Fórmula 1 em Monza, na Itália, em 2017. Em vez de amostras gratuitas de álcool da comuna italiana, os visitantes de Nova York tiveram experiências de realidade virtual e puderam dirigir carros de corrida elétricos. Em vez das garagens e dos paddocks (área reservada a pilotos e equipes) serem exclusivos das celebridades, o espaço foi reservado para explicações para crianças sobre o princípio da mobilidade elétrica no pit lane antes da corrida. No lugar do carro esportivo da McLaren em exibição, havia uma Harley Davidson elétrica.
Os estandes pareciam diferentes, mais novos e engajados, especialmente porque era possível ouvir uns aos outros, já que os carros da Fórmula E são muito mais silenciosos e quase não emitem barulho, em comparação com outros eventos do tipo.
Semelhante à Fórmula 1, patrocinadores como Heineken, Tag Heuer, DHL e Hugo Boss também estavam presentes, mas atrelados a marcas de tecnologia e engenharia, como Modis, Enel, Bosch e a ABB.
Para um analista de brand equity, o objetivo de exposição de uma “Temporada ABB 2019 de Fórmula E” e de um “Grande Prêmio Brasil da Heineken” não poderia ser mais divergente. Um profissional que observou todos os lados do espectro do automobilismo disse à Forbes que se trata de articular uma visão para o futuro.
Allan McNish, chefe da equipe de Fórmula E Audi Sport ABT Schaeffler e ex-piloto de Le Mans e Fórmula 1, disse: “Ainda é automobilismo e o que amamos, mas está abrindo portas para uma nova experiência, para conquistar uma outra base de fãs ao lado de amantes da modalidade. Os envolvidos sabem que, para crescer, a Fórmula E precisa desenvolver uma nova base de adoradores não a partir de uma base histórica, porque a jornada do campeonato começou apenas há cinco anos [2014]”.
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“Ao começar do zero, a Fórmula E oferece aos participantes condições equitativas sem problemas herdados da Fórmula 1, na qual apenas um número limitado de pessoas pode alcançar os níveis de desempenho vencedores da corrida”, completa. Solicitado a resumir em qual ponto está a Fórmula E na esfera mais ampla do automobilismo, McNish diz: “É um produto adequado para hoje e sem nenhuma bagagem.”
Enquanto a Fórmula 1, com sua história de quase sete décadas, está tentando evoluir, a Fórmula E é uma evolução no automobilismo. Segundo um porta-voz da BMW: “A BMW apresenta tecnologia e aprende lições por meio de sua participação na Fórmula E – e vamos apostar nela a longo prazo”.
Sua colega alemã, a Audi, também está na mesma, e a chegada da Mercedes e da Porsche é iminente. A ndiana Mahindra, a Jaguar do Reino Unido e a Nissan do Japão já estão lá.
As equipes também estão gostando do formato de transmissão. Ao contrário das corridas de Fórmula 1, que duram entre 90 minutos e duas horas (dependendo das condições), a Fórmula E tem uma janela de tempo de 45 minutos e uma volta final, o que não deve sofrer alterações.
“Temos a duração certa. Em breve, quando tivermos capacidade de bateria de uma hora e meia, ainda vamos manter as corridas em 60 minutos. É sobre o tempo de atenção das pessoas. Todos procuramos algo diferente, alguma gratificação instantânea e distração. Nesse contexto, mais extenso nem sempre é melhor”, diz McNish.
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Parece estar funcionando. A Fórmula E registrou audiências de TV de até 330 milhões no ano passado e ainda cresce, apesar de estar atrás da F-1 em 1,6 bilhão, no mesmo período. No entanto, os apoiadores continuam pacientes.
Enquanto o automobilismo tem patrocinadores vendendo de tudo, de cerveja a roupas, o principal patrocínio da Fórmula E e da ABB, assinado em janeiro de 2018 por sete temporadas, é promover a crescente onda de mobilidade elétrica, segundo Frank Muehlon, diretor-geral, responsável pela infraestrutura da carga de veículos elétricos da ABB. “Desde a compra de veículos elétricos, a vida útil da bateria, tempos de carga mais baixos até o desempenho, as lições aprendidas pelas montadoras na pista da Fórmula E estão alimentando seu pensamento e o nosso. A competição serve como um campo de testes”, afirma ele.
A Liberty Media, que detém 100% do campeonato de Fórmula 1 também tem uma participação de quase 24% na Fórmula E e parece não estar disposta a vendê-la. Seria extremamente prematuro dizer que a Fórmula 1 é antiquada. Contudo, a Fórmula E parece ser a manchete do futuro.
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