Resumo:
- Empresas não especializadas no mundo cripto começam a perceber que ignorar a tecnologia é mais custoso do que incorporá-la a seus negócios;
- Além disso, bancos centrais, como o Bank of England, também têm em seus planos o uso de tokens digitais;
- Entenda como e por que tais organizações se beneficiariam do cripto.
Criptomoedas e tokens como ferramentas de negócios é um conceito particularmente difícil para aqueles não familiarizados com a tecnologia do blockchain. Muitos executivos veem moedas digitais que usam o blockchain como um método de pagamento complicado ou como um investimento especulativo. Mas existem cada vez mais sinais mostrando que organizações reconhecem essas características como combustível para inovação de produtos e serviços ou para eliminar a fricção dos negócios por trás de cada transação.
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Aliados improváveis
Por exemplo, um grupo de 14 firmas financeiras, liderado pelo banco de investimentos UBS Group AG e incluindo empresas como Barclays, Nasdaq, Credit Suisse, Bank of New York Mellon e Street Bank & Trust Co, criou uma nova companhia: a Fnality International. Ela controla o desenvolvimento de tokens similares ao bitcoin que tais empresas planejam usar para transações internacionais. O token, que é chamado de “utility settlement coin” (moeda utilizada para acordos) ou USC. Ele é usado para que bancos realizem transações diretas sem envolver uma terceira entidade, removendo camadas custosas e ineficiência.
A JPMorgan Chase & Co tem uma abordagem parecida, criando uma rede com mais de 250 membros que funciona por um token chamado JPM Coin. Outras 28 marcas, lideradas pelo Facebook e que incluem Mastercard, Visa, Uber, Spotify, PayPal e eBay criaram a Libra Association para desenvolver um token chamado libra. Assim, parceiros improváveis se juntam para realizar a difícil tarefa de criar uma nova infraestrutura financeira, sendo pioneiros de um novo território desafiador, governando em conjunto e navegando a incerteza regulamentar.
Quais são os benefícios?
Tokens digitais que usam o blockchain têm atributos muito atraentes que possibilitam algo novo: fundir negócios e atividades operacionais com o movimento financeiro. De repente, dinheiro pode ser programável, termos e condições podem ser embedados na forma com a qual o dinheiro vai de um lugar para o outro. Isso é certamente possível atualmente, mas o potencial de redução de custos que o uso de códigos pode trazer é tentador.
Por exemplo, o token USC serve como mensageiro e inclui os dados necessários para completar as transações e o pagamento em si, o que corta custos e economiza tempo. Uma característica importante da libra é sua programação chamada Move, que pode ser usada para customizar a lógica das transações e criar “smart contracts” ou contratos virtuais, que ditam as condições sob as quais cada valor é movimentado. Esse elemento pode impulsionar diversas inovações financeiras.
Imagine um mundo onde poucas linhas de código certificam que a transação não será feita se certas condições não forem presentes: um valor não pode ser gasto até determinado momento no futuro ou até um número de envolvidos assinarem sua aprovação. Codificar essa lógica é desafiador (incluindo a possibilidade de vírus e a questão do reforço legal em aberto), pioneiros imaginam tokens digitais flexivelmente embedados em produtos já existentes, usados para inovar ou desenvolver novos produtos financeiros.
Além disso, tokens digitais são feitos para serem interoperáveis (são mais úteis se forem altamente adotados, por isso, o desenvolvimento desses tokens é uma corrida para fazer a rede crescer). Normalmente eles são rastreáveis, então podem ser claramente auditáveis e tem o potencial de se estabilizarem quase que imediatamente.
Tirando intermediários, eles também oferecem o prospecto de um baixo custo de transações globais. De acordo com a “Bloomberg”, empresas de varejo pagam US$ 90 bilhões em taxas por pagamentos em cartão de crédito e débito por ano. No dia 14 de agosto, a gigante rede de supermercados Kroger parou de aceitar cartões Visa em 21 de seus mercados e em cinco postos de gasolina por conta do que a companhia chamou de “taxas excessivas.”
Tokens digitais podem eventualmente se tornar um jeito eficiente de alinhar o comportamento de consumidores e parceiros, funcionando como um sistema de recompensas de alto valor, como pontos de fidelidade, o que pode influenciar várias empresas e seus objetivos nos negócios.
Reguladores levam esses sinais a sério
O anúncio do Facebook sobre a libra levou a discussões no comitê bancário do senado norte-americano e audiências frequentes no comitê de serviços financeiros do congresso. Nessas audiências, o líder bancário do senado, Mike Crapo, do estado do Idaho, espera complexidades à frente. “A libra é baseada em uma tecnologia relativamente nova e em desenvolvimento, que não possui regras e leis claras.”
O Financial Stability Oversight Council, ou conselho de vigilância de estabilidade financeira, é um grupo que abrange reguladores do Fed e que iniciou a discussão sobre a vigilância de bens digitais. O G7 elevou as criptomoedas ao patamar de questão prioritária, com ministros financeiros debatendo como criptomoedas globais podem impactar mercados financeiros. O governador do Bank of England, Mark Carney, sugeriu que outros bancos centrais considerassem juntar forças para criar uma moeda virtual (baseada em uma rede de moedas de bancos centrais) que diminuiria a dependência de BCs do dólar e que facilitaria transações e pagamentos internacionais.
Dessa forma, as perspectivas dessa nova forma de dinheiro prejudicar bancos centrais ou se tornar uma alternativa viável a moedas nacionais se tornou um sério debate. O poder e a influência das empresas que exploram essas possibilidades são reconhecidos, assim como a complexidade da projeção de como eles se comportariam no mundo real.
Perigo à vista?
Esses projetos iniciais irão falhar ou ter sucesso? Ainda é cedo para projetar os resultados de trabalhos recentes. No entanto, há sinais claros da necessidade da funcionalidade trazida por tokens que usam blockchain. Muitos acreditam que a entrada de tais produtos no mercado é inevitável, mesmo com tentativas iniciais de derrubá-los vindas de reguladores. Provavelmente, veremos uma corrida de inovações nesta área, que pode diminuir as barreiras entre a indústria de serviços financeiros e outros setores e até mesmo o papel de Estados e corporações.
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